O gosto amargo da liberdade

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Atenção: este conto contém cenas de conteúdo sexual e violência.

Prossiga por sua própria conta e risco. 😉

Boa leitura!


"Ô Montanha, trouxe um cabrito novo pra você!" O guarda limpou a garganta, "digo, colega de cela." O Chefe gargalhou enquanto empurrava Dinorá pelas portas estreitas da cela sem qualquer gentileza.

Seu corpo frágil quase bateu na parede oposta. A mão esquerda mantinha-se estendida, pronta para absorver o impacto, os olhos, bem fechados.

O som estridente do metal batendo seguido do ecoar de passos cada vez mais ao longe anunciavam que fora trancado novamente. "Eu não vou roubar! Olha, eu tenho dinheiro!" Lembrou-se de dizer ao segurança antes do primeiro soco. Dinorá bufou antes de ousar abrir os olhos novamente, seus braços adornados de hematomas agarravam o kit cadeia como se fosse um salva-vidas.

O tal Montanha, deitado no beliche inferior, mantinha-se inerte e silencioso. Apenas os olhos semicerrados moveram-se das páginas amareladas de "O sol é para todos" para estudar o recém-chegado.

Dinorá sentiu o peso do olhar em suas costas; precisou respirar fundo por mais duas vezes até juntar a coragem necessária para se virar. "Morri!" Pensou ao ver o homem musculoso. "Ei," soltou um riso nervoso, "Eu sou Dinorá," acenou para o homem de barba ruiva.

Montanha ergueu o dedo indicador, apontando para o beliche de cima, e voltou sua atenção para o livro de Harper Lee.

Dinorá não se atreveu a discutir, simplesmente subiu as escadas de metal e tentou se acomodar. Ele conhecia o protocolo carcerário: acordar, chamada, exercícios, refeições, tarefas... "Eu provavelmente vou ficar na lavanderia de novo", soltou o ar num suspiro, pressionando as mãos contra o estômago roncando, "e sem nenhuma comida esta noite!"

Quando as luzes diminuíram, Dinorá viu Montanha largar o livro no chão, deixando escapar para fora das páginas a pontinha de uma fotografia. O homem de ombros quadrados colocou-a de volta no lugar e se despiu, deixando cicatrizes e tatuagens visíveis em suas costas largas. Ele se masturbou rápida e silenciosamente, como quem pratica um ritual ensaiado. Então, limpou-se no conjunto de aço inoxidável de pia e vaso sanitário, voltou para sua cama e permaneceu recolhido pelo resto da noite.

A cena deixou Dinorá excitado. A ereção disfarçada sob o tecido solto de seu macacão laranja custou-lhe horas de sono; dor e excitação eram uma péssima combinação.

Na manhã seguinte, Dinorá acordou só. A única evidência da existência de seu companheiro de cela era o livro deixado no beliche inferior. Ele folheou as páginas e encontrou a fotografia. Uma versão mais jovem de Montanha estava sorrindo com uma menininha ruiva nos braços. Duas mulheres beijavam suas bochechas; à direita, uma adolescente que herdara o azul dos seus olhos e, à esquerda, uma mulher de cabelos negros e pele cor de caramelo. "Você tem uma família linda, cara!" Dinorá virou a foto e leu no verso: "Leo, estamos te esperando. Com amor, Suzana, Lili e Aninha.

"Vejo que nossa Bela Adormecida sobreviveu à noite!" O Chefe soltou um riso de escárnio enquanto abria a porta da cela.

Com o susto, o livro escapou das mãos do detento e quase caiu no chão. Dinorá enfiou a foto de volta no lugar e deixou o livro repousar sobre a cama.

"Anime-se, cabrita, hoje é dia de visita! Ahhh, espere," ele fez uma pausa, "ninguém veio ver nossa princesa! Coitadinha dela..." ele fez beicinho com o lábio inferior e agarrou o braço direito de Dinorá com força, arrastando-o para fora.

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