Perigo flores!

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Os olhos de Rute, no mesmo tom de azul de seu uniforme, se arregalaram ao focar na colega chegando em um vestido vermelho justíssimo. "Uau, Hera, onde você vai toda produzida desse jeito?"

Na sala de espera, todas as cabeças se viraram para a mulher voluptuosa, talvez atraídas por suas curvas sinuosas ou apenas por causa do barulho dos saltos agulha martelando o chão branco imaculado.

"Nossa, estou tão atrasada!" Hera levantou o tampo dobrável e desapareceu atrás do balcão da recepção.

"O que você está fazendo?" Rute arregalou os olhos ao ver a mulher cor de caramelo agachada ao lado de sua cadeira agora usando apenas um conjunto de calcinha e sutiã carmim.

"Trocando de roupa, ué!" Hera enfiou a cabeça pelo buraco da gola da camisa de algodão. "Que noite!" Chutou os sapatos de salto alto para um canto.

"João Paulo?" Rute inclinou-se para alcançar um par de Crocs guardados debaixo da mesa.

"Que nada, quem me dera... " Hera vestiu uma calça limpa. "Foi insônia mesmo."

"A noite inteira?" A loira entregou os sapatos de borracha à amiga.

"Obrigada." Hera calçou-os, balançando a cabeça. "Apenas até eu resolver tomar um chá de camomila com maracujá..." A mulher começou a guardar suas coisas em um compartimento embaixo do balcão.

Rute ajoelhou-se ao seu lado para ajudar.

"O que vocês duas estão fazendo aí embaixo?" Uma voz masculina ecoou acima do balcão da recepção, fazendo-as estremecer.

"Ed!" Rute corou e apressou-se em voltar para a sua cadeira. "Nós estávamos..."

"Organizando os formulários." Hera levantou-se, segurando uma prancheta. "O que você tem pra gente?" Seus grandes olhos castanhos focaram no rosto desconfiado do paramédico.

"Um Zé Ninguém, caucasiano, quarenta e poucos anos, várias costelas quebradas, com possível laceração pulmonar e diversos cortes e arranhões por espinhos..."

"Oi?" Hera inclinou a cabeça, encarando-o.

"Arranhões por espinhos? Eu ouvi direito?" Rute aproximou-se dele.

Ed assentiu com a cabeça. "Parece que o cara tentou lutar contra um carrinho de rosas... e perdeu. Nós o encontramos soterrado sob de caixotes de flores, bêbado como um gambá. A polícia recebeu várias ligações durante a noite reclamando de barulho na área. Eles testemunharam o homem no fim do combate, ainda vociferando contra uma legião de rosas impiedosas. Foi brutal!" Ele fingiu uma expressão séria.

"O próprio Dom Quixote ébrio", Rute balançou a cabeça, "é por isso que eu não bebo!" Ela disse antes de correr para avisar a equipe de pneumologistas.

"Ele está inconsciente?" Hera ergueu os olhos do formulário meio preenchido.

"Tsc Tsc!" Ed estalou a língua. "Ele é um falastrão boca suja... mas não consegue se lembrar do próprio nome. Eu recomendo um exame toxicológico para sabermos com o que estamos lidando."

"Certo." Ela anotou e deu a ele uma cópia do formulário.

Rute voltou. "Tudo pronto. Pode trazê-lo"

"Beleza, meninas!" Ele dobrou o formulário. "Ah, muito cuidado, vocês duas", Ed apontou-lhes o indicador, "vai saber quando elas podem atacar?" Ele deu um tapinha no vaso de cristal adornado com lírios brancos.

"Ha-ha-ha! Vaza, Ed!" Hera enxotou-o com a mão.

Ed abafou o riso e saiu em silêncio.

"Isso foi rude!" Rute girou a cadeira para encarar a amiga.

Amor ÁsperoOnde histórias criam vida. Descubra agora