"Dois espressos, por favor." Benjamin pediu depois de comermos uma porção bem servida de spätzle com goulash em nosso restaurante alemão favorito às margens do rio.
O forte aroma do café competia com a doce fragrância do início da primavera vinda de canteiros de flores multicoloridos. Nosso pequeno Ben brincava com uma ninhada de gatinhos. A mamãe gata tinha saído do ninho para apanhar alguns pedaços de peixe empanado que uma outra criança deixara cair no chão. Ela agora lambia as patas distraidamente sob uma mesa redonda de madeira, a alguns clientes de distância.
Benjamin tomou o último gole de seu café e foi ver nosso filho enquanto eu fechava os olhos por alguns segundos, sentindo a aconchegante sensação do sol acariciar a minha pele depois de um inverno demasiadamente longo.
Um latido alto seguido por um grito estridente quase me fez cair da cadeira.
"Nãaaaao! Nãaaaao!"
Quando eu dei por mim, Ben se aninhava em meus braços, a cabeça enterrada em meu peito, molhando minha blusa com uma enxurrada de lágrimas. Benjamin estava parado na nossa frente, de braços abertos, bloqueando parcialmente minha visão.
Todos os gatinhos, menos um, corriam de volta para o ninho.
Um homem perseguia seu cachorro.
Um Rottweiler. Coleira e guia soltas. Ziguezagueando.
Mamãe gata avançava sobre eles com as garras estendidas. Ataques pela defesa da cria.
Meu estômago embrulhou quando vi aquela frágil bolinha de pelo manchada de vermelho na boca do cachorro. Meus braços apertaram o corpo do meu filho em um gesto protetor. Minhas pernas bambearam, mas antes que eu colapsasse, senti o abraço protetor de Benjamin sobre meus ombros.
"Vamos." Ele sussurrou em meu ouvido.
Assenti com a cabeça e o segui. Meu rosto também estava molhado.
Ao subir as escadas até a entrada do restaurante, ouvi um burburinho de vozes animadas e olhei pra trás.
A mamãe gata carregava seu bebê de volta para a caixa de papelão guarnecida por uma almofada florida.
Nenhum de nós disse qualquer palavra no caminho de volta para casa, a alguns quarteirões de distância. Ouvi Benjamin ligando a TV no cômodo ao lado enquanto eu levava Ben para seu quarto.
"Mamãe, por que o cachorrão malvado comeu o gatinho?" Os lábios formaram um beicinho de choro enquanto Ben estendia a mão na direção do seu gato de pelúcia e o acariciava.
"Ele não conseguiu comeu o gatinho, meu bichinho." Tentei sorrir, mas meus lábios formaram uma linha reta.
Ele me encarou com uma expressão desconfiada, a cabeça inclinada um pouco para o lado esquerdo.
"Tá bom", eu suspirei, "quando estávamos saindo, eu vi a mamãe gata carregando o gatinho de volta para o ninho".
"Viva!" Ele abraçou o bichinho de pelúcia. "Gatinho bem!"
"Eu realmente espero que esteja, meu bichinho!" Eu disse baixinho antes de sair do seu quarto.
Benjamin estava assistindo ao noticiário quando me sentei ao seu lado. Ele me abraçou e me puxou para mais perto. Ainda pensando naquela cena horrível, fechei os olhos e cochilei com a cabeça em seu peito.
De repente, um som de zumbido seguido por um estrondo.
Pulei do sofá.
A televisão apagou.
A sala escureceu.
"O que está acontecendo?" Agarrei a camisa de Benjamin.
"Provavelmente uma queda de energia, amor!" Ele segurou minhas mãos entre as dele. "Vou checar o quadro de força. Veja como Ben está."
Assenti com a cabeça e corri para o quarto de Ben. Tudo estava quieto no mais completo breu. A janela emoldurava um sol poente, manchando o céu com listras vermelhas. Um arrepio desceu pelas minhas costas. Perto da porta, logo abaixo da tomada, uma pequena chave jazia no chão.
"O disjuntor geral caiu!" A voz de Benjamin anunciou grave do porão. "Mistério resolvido!"
Quando as luzes acenderam novamente, notei marcas escuras na chave, que combinavam com as manchas de fuligem da tomada na parede.
Ben estava agachado sob a mesa de cabeceira, os braços em volta dos joelhos. Sentei-me no chão, ao lado da cama e puxei-o para fora do esconderijo. Seu corpinho de menininho de quatro anos tremia inteirinho. Coloquei-o no colo.
"Ben, por que você fez isso?" Beijei seus dedinhos chamuscados e apontei para a chave. "Eu já te disse um milhão de vezes: você não pode enfiar o dedo, muito menos uma chave na tomada? Você poderia ter morrido!" Eu o abracei.
"Que nem o gatinho?" Ele ergueu os olhos para mim.
"Sim!" Eu o abracei com mais força.
"Eu não quero que o gatinho morra!" Ele soluçou.
"Eu também não, meu bichinho! Olha só, nós podemos checar como o gatinho está amanhã. Tá bom?"
Ben assentiu e esboçou um sorriso.
"Agora me diga, por que você colocou isso na tomada?" Apontei para a chave escura no chão.
"Eu queria saber se a mamãe tava falando a verdade. A verdade verdadeira."
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Comentários e sugestões também são muito bem-vindos.
A verdade é sempre o melhor caminho, mesmo que às vezes seja difícil dizer.
Essa estorinha é ficção, mas foi inspirada em fatos reais. Todo cuidado é pouco com nossos filhotes, sejam eles felinos ou humanos.
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Amor Áspero
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