Lívia parou em frente à vitrine da livraria; um casal brincava com um bebê logo atrás do balcão promocional que trazia os best sellers do mês. Ela reconheceu o dono do local, um quarentão de barba e cabelos grisalhos. A mulher parecia muito mais jovem... uns cinco anos, talvez dez. O bebê tinha o sorriso da mulher e mesmos olhos cinzentos do Sr. Howard. Hipnotizada pela cena, Lívia acariciou a própria barriga por instinto, e então, depois de alguns instantes sonhando acordada, encaminhou-se à farmácia.
"Pra quem você estava acenando?" Cora virou-se para a vitrine, examinando a calçada movimentada de pedestres.
"Era uma cliente frequente." Cliff balançou o pequeno chocalho vermelho carmim e recebeu outro sorriso desdentado. "Ela mora aqui no bairro... a dois quarteirões da livraria, na verdade. É uma ávida leitora de romances."
"Acho incrível o quão bem você conhece seus clientes. Minha memória jamais me permitiria isso!" Ela balançou a cabeça lentamente.
Cliff sorriu, sua pele bronzeada disfarçava o fluxo de sangue que subia para suas bochechas.
Lívia não viu nada disso. Ela estava absorta em seu próprio mundo, examinando os testes de gravidez exibidos na prateleira superior do corredor deserto. Escolheu o mesmo que tinha usado na última vez. E na vez antes daquela. Também comprou uma barra de chocolate tamanho família e voltou correndo pra casa.
Assim que se viu sozinha no apartamento, trancou-se no banheiro.
Velhos hábitos nunca mudam...
Ela conhecia o procedimento de cor, mas leu atentamente as instruções contidas na caixa como se fosse a primeira vez. Em seguida, depois de remover a tampa do dispositivo, ela sentou-se no vaso sanitário, puxando o vestido de verão pra cima e a calcinha de algodão pra baixo.
Esperou...
Um... dois minutos.
Nada.
Então, estendeu a mão suada para a torneira e a abriu. O som da água corrente funcionou como mágica.
Lívia suspirou aliviada e, durante alguns segundos, colocou a ponta absorvente do teste de gravidez diretamente sob o jato de urina. Quando terminou, recolocou a tampa na caneta-teste e esperou. Aqueles cinco minutos eram sempre os mais demorados.
Deixou o teste descansando sobre a superfície fria e indiferente da bancada de mármore enquanto lavava as mãos, esfregando-as bem, como aprendera no curso de enfermagem e enxugou-as na toalha imaculadamente branca.
Em um estado entre a esperança e o medo, fechou os olhos, juntando as palmas das mãos em prece: "Meu bom Deus, for favor, mostre-me sua misericórdia!"
Respirou fundo e olhou.
A linha do controle era nítida na janelinha do marcador, mas nenhum sinal da tão desejada linha azul.
Lívia aguardou por mais alguns minutos.
Nada.
"Mais um alarme falso? Outro fracasso?" Ela ouviu as palavras duras de Eduardo ecoando em sua mente. "De que me serve uma mulher que não pode me dar um filho?" Lívia sentiu as lágrimas queimarem suas pálpebras, mas não se deu ao trabalho de conter a enxurrada que escorria por seu rosto como um rio caudaloso depois de uma tempestade.
"Esses médicos não sabem de porra nenhuma!" Eduardo vociferou quando Lívia lhe mostrou os resultados dos seus testes de fertilidade há alguns anos. "Encontre algum que te conserte!" Ela ainda sentia aquelas mãos pesadas esmagando seus ombros, sacudindo todos os ossos de seu corpo mignon.
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Amor Áspero
Короткий рассказ1. Queda livre Às vezes uma simples escolha pode ter nos levar longe demais... 2. Carolaine Ela tinha uma alma de menina, mas só quem tinha olhos sensíveis podia ver... 3. O Homem Perfeito A busca pelo homem ideal pode levar uma vida inteira... 4. I...