Barquinho de Papel

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Um borrão verde escuro passou correndo pela janela. Árvores e mais árvores. Toda uma floresta de pinheiros corria na direção oposta do carro. "A mamãe disse que o Natal está chegando, então essas árvores devem estar atrasadas! Elas precisam chegar nas casas das pessoas antes que o Papai Noel desça pela chaminé. Sem árvore, o Papai Noel não vai saber onde colocar os presentes. Árvore de Natal tem que ter bolas vermelhas e uma estrela dourada no topo!"

Ao longe, casinhas pequeninas deslizavam lentamente pela janela, imersas num vasto mar de pastos verdejantes. "Devem estar seguindo o gado, para que nenhuma vaca se perca no caminho. As vacas nunca olham para onde estão indo. Eles só ficam de cabeça baixa e comem grama. Sei lá por que gostam de grama. Acho que nunca experimentaram sorvete ou chocolate. Grama tem um gosto horrível!" Jin fez uma careta ao lembrar. Já havia provado a iguaria uma vez, no jardim de infância, por cima de um bolo de areia.

De repente, as vacas cresceram um pouco mais e resolveram pastar de cabeça para baixo, obrigando as casas a girarem atrás delas. Foram girando e girando, fazendo o estômago de Jin revirar. O papai gritou em protesto, mas as vacas fingiram não ouvir. "Que bichos teimosos as vacas são!"

Jin soltou o cinto de segurança para sair dali. Então, foi atirado para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda, e pra todo o canto dentro do carro. As vacas e as casas não paravam de crescer. "Será que comeram aquele bolo da Alice no País das Maravilhas?" As árvores também. "Será que toda aquela giração teve esse efeito sobre elas?"

Uma enorme árvore veio girando rapidamente na direção do carro. Jin abriu a boca para gritar, mas o carro gritou primeiro com sua voz metálica estridente. Jin foi catapultado pra fora junto com os milhões de estilhaços do vidro do para-brisa.

O mundo parou de girar quando Jin caiu no chão. Tudo escureceu.

Ao abrir os olhos novamente, Jin não conseguiu mantê-los abertos por muito tempo. Tudo ao redor era tão branco e brilhante. As casas, vacas e árvores sumiram. O mundo desbotou. Perdeu a cor. Paredes brancas, piso branco, lençóis brancos, teto branco, porta branca, cadeiras brancas... Tudo era branco.

"Ei!" Uma voz suave ecoou entre estranhos sons de bipes.

Jin sentiu um toque quente na bochecha.

"Oi, mocinho!"

Uma mão tocou a sua. Ele agarrou-a, com toda a força de seus dedinhos. "Mamãe?"

"Não..." A voz tremeu. "É a tia Mina, querido."

"Mmm..." Jin sentiu a mão quente envolver a sua completamente. "Timina."

"Meu menininho." Ela tirou com cuidado o cabelinho fino grudado na testinha molhada de suor. "Estou aqui, querido."

Jin piscou algumas vezes até conseguir focar a mulher de cabelos curtos com sorriso doce e triste. Ela não estava desbotada como todo o resto parecia estar; suas bochechas e lábios ainda mostravam tons de vermelho, assim como seus olhos castanhos.

"Bem-vindo de volta, mocinho!" O sorriso cresceu e algumas lágrimas desceram pelo rosto abatido.

Jin soltou a mão dela e tocou seu rosto molhado.

"Timina... triste?"

"Não mais."

"Já foram quase duas semanas, doutor. O senhor tem alguma ideia de quando o Jin terá alta?" Hermínia perguntou ao homem de branco após o exame diário.

Amor ÁsperoOnde histórias criam vida. Descubra agora