A esperança é a última que morre

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Retirei o envelope pardo deixado em minha caixa postal.

Nenhum remetente. Nada escrito. Nenhum carimbo.

Abri com mãos ansiosas, rasgando o papel de qualquer jeito.

Já fazia seis meses que o encontrei naquele restaurante barato, a duas cidades de distância.

"Você faz esse tipo de serviço?" Inclinei-me sobre a mesa enegrecida por manchas de café.

"É possível..." ele coçou a barba grisalha, "mas vai lhe custar um bocado."

"Pago o que for preciso." Assinei um cheque em branco e escorreguei o papel sobre a mesa até ele. "Não poupe esforços."

O homem sorriu, aquele tipo de sorriso que causa arrepios.

Eu não hesitei. "Encontre onde ela está." Entreguei-lhe uma fotografia gasta; as cores começavam a desbotar no rosto sorridente de uma mulher ruiva. Os olhos traziam um tom mais pálido de verde do que eu me lembrava e as sardas eram agora quase imperceptíveis. Um colar com pingente dourado em formato de infinito ainda era visível logo acima do decote discreto.

Ele pegou a foto e leu o texto apagado, "Te amo infinitamente, Ally..." levantou os olhos para mim. "McBeal?" Suas sobrancelhas franziram. "Isso é algum tipo de piada, Sr. Miller?" A voz tomou um tom áspero, quase hostil.

"Não! Claro que não!" Mostrei-lhe as palmas das mãos em sinal de paz. "É apenas uma coincidência." Ri sem humor. "De qualquer forma, o sobrenome dela pode ter mudado depois de tanto tempo."

"Certo." Examinou a foto atentamente. "Esta foto tem quanto tempo? Quinze? Vinte anos?"

"Vinte e cinco."

"Ela pode ter mudado também." Ele acariciou a barba. "O que você quer? Um perfil completo de seu paradeiro nos últimos vinte e cinco anos?"

"Não preciso de tanto. Basta um endereço onde eu possa encontrá-la, Sr. Bugakov."

Ele assentiu.

"Não entre em contato com ela. Não quero que diga nenhuma palavra sobre mim. Mantenha distância."

"Eu sou um profissional, Sr. Miller!" Levantou-se do banco acolchoado. "Vou mantê-lo informado." Deu-me as costas e deixou o restaurante.

E aquela foi a primeira e a última vez que vi o investigador particular.

Dentro do envelope havia apenas um endereço, exatamente como havíamos combinado.

"Ally O'Connor

Paradise Gardens

7134 Old Oak Tree Ln

Angels Camp, CA."

Não acredito que ela estava tão perto, apenas cinco horas de carro, talvez menos.

Quando cheguei perto do local e estacionei na calçada, a dúvida me bateu novamente. "Ela está casada agora! Será que ainda devo ir?"

Atropelei a breve indecisão e segui o plano original.

O sol estava começando a desaparecer quando cruzei os enormes portões dourados.

O antigo pavimento de paralelepípedos conduziu-me até a recepção do local.

Uma mulher de meia idade cumprimentou-me com um sorriso gentil. "Posso ajudá-lo, senhor?"

"Sim, estou procurando por Ally... O'Connor."

A mulher digitou no computador atrás do balcão.

"Acho que ela trabalha aqui."

"Encontrei, mas o senhor se enganou, ela não trabalha conosco." A mulher mordeu os lábios. "Eu sinto muito!"

"Não tem problema." Tentei sorrir. "Mas... ela está aqui agora?"

A mulher assentiu. "Na área 52, sob o grande salgueiro." Apontou para a esquerda. "Não tem como errar."

Corri pelo caminho tortuoso que levava morro acima.

Lá estava ela.

"Ally O'Conner – 1965 – 2018

Esposa e mãe amada."

Sobre a pedra fria, uma fotografia mais recente mostrava uma versão de Ally tocada pela mão implacável do tempo. Uma versão que eu daria a vida para ter visto. Ela ainda usava o colar que dei a ela anos atrás, símbolo do nosso amor infinito.

Meu coração afundou no peito. Era tarde demais para me desculpar por uma vida inteira de promessas quebradas.

"Não há paz para os covardes!" Engoli o gosto amargo do arrependimento.

Obrigada pela visita!

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