Dia de rotina

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"Tem certeza, Mel? Posso remarcar minha consulta." A mensagem piscou na tela do celular

"Nem pensar! Tenho tudo sob controle! Você já me ajudou demais na organização do workshop e preparação das atividades. Tudo o que tenho que fazer é falar com eles. Eu vou ficar bem." Enviei-lhe uma carinha feliz.

"Ainda me sinto culpado por furar com você. Queria estar lá com você." Ele insistiu.

"Deixa disso! Não me use como desculpa para adiar essa consulta novamente! Chega de fugir! Só não se esqueça de me mandar uma mensagem quando terminar!"

"Tá bom, então... acho que tenho que ir dessa vez!"

"Óbvio, né? Vai dar tudo certo, Andrew." Eu menti. "Não dá mais para ficar adiando! Ignorar o problema não vai fazê-lo desaparecer". Pelo menos nesta parte eu estava sendo sincera, mas meu coração apertou de qualquer maneira. Nós dois sabíamos o que ele tinha. Começou como uma gripe comum, mas depois vieram as erupções cutâneas, feridas, fadiga crônica, rápida perda de peso, calafrios e suores noturnos.

"Eu sei... obrigado por me apoiar, Mel."

"Pode contar comigo sempre! Agora vai lá e mostre pra eles do que você é capaz!"

"De fugir correndo assim que chamarem meu nome?"

"De enfrentar seus problemas como o homem corajoso que é."

"Não dá pra conversar com você! Odeio sua positividade!"

"Odeia nada. Sei que você me ama!" Mandei um emoji piscando. "Agora vai lá!" Terminei a mensagem com uma figurinha de uma menininha assoprando um beijo e coloquei meu celular de volta na bolsa.

Algo me incomodava no Daniel desde que o conheci e eu não sabia dizer o quê; era como se ele fosse bom demais para ser verdade. Ninguém podia ser perfeito daquele jeito. Em breve, eu teria que enfrentá-lo sozinha na fábrica sem poder dar detalhes sobre o Andrew enquanto o meu desejo era matá-lo pelo que ele fez com meu amigo.

O ônibus parou em frente à faculdade, um prédio moderno e monótono assim como todas as minhas aulas matinais. Dobradinha de Finanças, depois Marketing, Economia e Teoria Geral da Administração fechando a manhã.

Minha mente estava longe, em algum lugar entre a saúde do meu amigo e a ansiedade de apresentar meu primeiro workshop para o pessoal do chão de fábrica. Andrew sabia que eu estaria nervosa por ser a única mulher ali.

"Melissa, você pode me dizer qual é a diferença entre o Taylorismo e o Fordismo?" O professor Delboni tirou-me do devaneio.

"O Taylorismo foi criado por Frederick Winslow Taylor. Ele acreditava que, para melhorar a eficiência, os custos tinham que ser contabilizados com precisão. Já o Fordismo foi criado por Henry Ford com base em sua crença na produção em massa comandada por uma gestão autocrática." Ouvi minha voz respondendo no automático.

"Obrigado, Melissa. Sua resposta foi tão precisa quanto um livro didático." Ele piscou.

Eu assenti com a cabeça. Ser uma aluna nota dez evitou que eu fosse o bode expiatório da vez. As aulas participativas do Delboni não eram um lugar para mentes desatentas, mas eu sempre me preparava e raramente era pega de surpresa.

A aula terminou à uma da tarde e meu workshop começaria às duas. Eu não tinha tempo para almoçar, então comprei um sanduíche na lanchonete da faculdade e corri para o ponto de ônibus. O percurso até a fábrica normalmente durava uns 30 minutos, mas eu precisava de um tempo livre para me preparar e espantar qualquer ansiedade residual que restasse em mim.

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