12. Estilo Annabelle

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O sol invade a fresta da cortina azul e queima a bochecha de Mile.

Sua vida oscila entre ondas de sorte e azar. Seu cérebro adormecido trabalha nisso, enquanto a luz o invoca para o outro lado do túnel. Sorte porque, pode ser, PODE SER, que tenha uma legião de anjos ou heróis que, vez ou outra, estão lá, na hora do infortúnio. Azar porque o próprio acaso, que às vezes se assemelha a uma espécie de karma, enfia-lhe em situações em que precisa de salvação. Um looping que, DEUS QUEIRA, não seja eterno.

Seus olhos se abrem lentamente, a secreção pregando os cílios é como um bom conselho. Um conselho de que é melhor mantê-los fechados. Bem fechados.

_ O quê? _ Ela grunhi, profundamente zonza, quando vê o teto cinza, envolto por desenhos  confusos de gesso.

Reconhece imediatamente o confortável quarto de Elza na mansão dos Volgone. Os quartos dos empregados são três vezes maiores do que os da sua casa. Um fato que acaba resgatando todas as vezes que pisa neste lugar.

_ Mãe? 

 Ela se levanta, irrefletidamente, correndo para a porta, lutando para se manter no epicentro do terremoto. Um repertório quase infinito de xingamentos a Elza infla sua cabeça.

Ela pediu o emprego de volta? É a única coisa lhe passa agora.

Mas seu coração dispara insanamente quando percebe que está usando uma camisa masculina.

_ Ah, não! Não! Não! 

 Ela segura a cabeça. Apalpa-se de cima para baixo.

Freddy? Será que... Ela reflete, tomada pela última lembrança da noite passada. Lembra-se do queixo de Freddy com cima da sua cabeça, do ombro dele servindo de encosto para sua testa...

Por que baixou a guarda para ele? Por que bebeu? Não é acostumada com vinho branco. E isso talvez... Avalia.

_ Não! Não! 

Ela dá pequenos tapinhas no rosto, uma expressão de ódio por sua falta de juízo.

Mas não faz sentido. Percebe de repente. Por que Freddy a traria para a casa dos Volgone?  Além disso, não se lembra de ter bebido tanto assim. Não bebeu tanto assim. Fato. É até bem resistente a álcool.

Será que o jantar foi tipo um entretenimento duplo? Um pensamento interrompe o outro. De algum modo, a possibilidade de Nathan estar envolvido no misterioso desfecho pós-alcoólico do jantar revira seu estômago. 

Então, alcança o celular no criado. Confirma que são 8h da manhã. Sua roupa está meio embolada no assento da poltrona, ao lado da porta. Veste-a em segundos. Corre para o banheiro. Esvazia a bexiga. Lava o rosto manchado de maquiagem. Esfrega a toalha até limpar o excesso dos resíduos pretos e marrons.

Dispara para o quarto de Nathan.

***

Depois de virar a maçaneta de vários ângulos, bate na porta do quarto de Nathan, usando uma cautela bem desproporcional ao abalo que dispara loucamente seu sangue. O silêncio do outro lado trinca seus dentes. Ela insiste. Daria para ouvir os chiados de ódio do seu peito a quilômetros. Não seria exagero pensar que é exatamente isso acaba despertando Nathan, segundos depois.

_ O que foi? _ Ele pergunta, assim que abre a porta, os cabelos caídos nas sobrancelhas , a costura da fronha carimbada na bochecha esquerda. Veste um samba canção cinza de um tecido frio.

_ Essa camisa é sua? 

 Ela acusa, lançando-a na cara dele, depois atravessando a porta, ombreando o corpo amolecido do rapaz.

Certo como Murphy (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora