Capítulo 1 - Cinco anos depois da separação

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Em uma das mãos Laura levava uma única rosa enquanto seguia o cortejo. Com a outra segurava a de Stella. Juntas, ambas vestindo elegantes trajes negros, elas atravessaram corajosamente pelos ritos fúnebres de Marcelo, ou Nacho, conforme a maior parte das pessoas ali o tratava. Por cinco anos foi sua esposa. Mas agora, olhando-o morto, não sabia o que sentia. Ou se sentia algo.

- Mamãe...podemos ir pra casa? – Stella demonstrava cansaço pelas horas presente no velório. Algo pelo que nenhuma criança de quatro anos deveria passar.

- Logo, querida. Agora, comporte-se. Logo tudo isso vai terminar.

Stella não poderia sequer imaginar, mas, o "tudo" a que Laura se referia ia além do velório. Um pensamento que há muito lhe ocorria, diante da morte de Marcelo, parecia agora mais real. E enquanto a máfia espanhola caminhava à sua volta na despedida a seu marido, tudo o que ela conseguia pensar é que o único elo a prendê-las ali, daqui alguns minutos, estaria enterrado.

Nunca mais iriam conversar. Nunca mais teriam a chance de corrigir os erros. Mesmo estando longe de ser o casamento perfeito, ainda assim, era dolorido. Da sua forma, ele foi um bom marido ou, pelo menos por algum tempo, tentou ser. Viu o caixão ser coberto de terra e, aos poucos, o local se esvaziar. Esperou pacientemente que cada um fizesse a homenagem que desejava, alguns ainda vinham lhe oferecer condolências e, logo após, se retiravam. Os pais dele fizeram suas preces e deixaram o cemitério sem nada lhe dizer. Amália saiu levando o filho pequeno após umabreve passagem no local. Agora, quem estava debruçada sobre o túmulo era Cristina, chorando discretamente. Apesar de há muito saber que ela era amante de seu marido, não fez nada para impedir sua presença ali.

- Obrigada, Laura. Por me permitir estar aqui. – Ela disse ao se retirar.

- Você tem o direito de estar aqui. E Marcelo iria desejar a sua presença. – Respondeu, sem olhar a garota bem mais jovem. – Agora, se puder me deixar a sós com meu marido e minha filha, agradeço.

Antes de colocar a flor que trazia sobre a lápide, fez uma oração em polonês. Mesmo que houvesse outras pessoas presentes, somente Stella poderia compreender o que dizia. Já não sabia se conversava com o marido morto ou com Deus, mas ali, à frente do local onde o corpo dele ficaria eternamente, um acerto de contas tinha início.

 Já não sabia se conversava com o marido morto ou com Deus, mas ali, à frente do local onde o corpo dele ficaria eternamente, um acerto de contas tinha início

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- Eu espero que você consiga me perdoar, de onde estiver. Que vocêencontre, na morte, a paz que na vida nunca teve. E que agora que está morto,me deixe viver e também encontrar a minha paz. - Disse ao marido, já bem cientedo que faria nos próximos dias. – Adeus Nacho. Eu comecei lhe chamando assim.Vamos terminar da mesma forma.

Observando discretamente, viu que Stella olhava para o horizonte, completamente desconectada do que a mãe dizia. Ainda bem. Ela ainda era pequena demais para entender. E a morte precoce de Marcelo dava à filha a oportunidade de ter outra vida. Era nisso que pensava desde o instante em que soubera ter se tornado uma viúva. E agora, enquanto ouvia lamentos, sua mente fazia planos. Seus pensamentos, porém, foram interrompidos.

Novos Dias: a história depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora