Capítulo 4 - Dois anos após a separação

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O choramingo infantil de Lucca enchia a casa, naquela ensolarada manhã. O relógio marcava pouco mais de 7hs e, com Domenico viajando, o pequeno estava choramingando enquanto Olga ainda não tinha chego ao quarto. Talvez fosse o fato de o sobrinho ter sido batizado pelo nome que seu filho teria, mas, sentia-se muito ligado a ele. O tirou do berço para evitar mais resmungos, caminhou com ele até a sacada do quarto, e logo o choramingo terminou. Àquela hora, ele deveria estar precisando que lhe trocassem a fralda e lhe dessem de mamar, mas, por enquanto, o colo do tio lhe satisfez.

- Você só não queria ficar no berço, não é, garotão? – Massimo brincou com o menino. E então viu Olga observá-los da porta. – Olhe aí quem mais você acordou. Pode pegá-lo, acho que...ele quer algo que só você pode dar.

- Ele parece bem feliz com você. – Ao longo dos meses, conforme viu o cunhado passar a lhe tratar com mais cuidado durante a gestação e, depois de Lucca nascer, se aproximar do menino, Olga passou a ter mais simpatia por Massimo. Ele fora sim um monstro com Laura, mas, com Lucca, era como um anjo protetor. – Eu vou trocar a fralda e lhe dar de mamar e, depois, se quiser, ele estará no jardim, bem interessado em brincar.

- Pode apostar que eu vou lá. – Respondeu e saiu do quarto de Lucca, para dar privacidade à Olga.

Meses atrás, quando Olga e Domenico ainda estavam grávidos, todos na casa receavam sobre como ele encararia ter uma criança ali. Surpreenderam-se quando ele deixou claro que ficava feliz com a notícia de ser tio e adoraria poder conviver com o menino, caso Olga permitisse. Foi ele quem sugeriu o nome Lucca, como uma homenagem ao seu filho, perdido anos antes.

- É lindo. – Olga e Domenico tinham respondido. Mas não confirmaram de pronto. Foi o irmão quem explicou o motivo – É que, talvez essa escolha magoe Laura. Ela fala muito nele à Olga, sonha com o bebê.

- Mas dorme ao lado do responsável por sua morte. – Massimo respondeu, num raro momento em que não guardou para si o amargor que sentia. – Eu entendo. Mas falem com ela, talvez Laura também receba isso como uma homenagem.

Foi exatamente o que aconteceu. Numa chamada de vídeo, Olga e Domenico contaram à amiga que cogitavam batizar o filho de Lucca. Ela chorou e disse que ficaria muito feliz. Não concordou, porém, com outro pedido do casal. Sendo eles os padrinhos de Stella, algo que Laura impôs ao marido, os amigos queriam que Laura aceitasse ser madrinha de Lucca. Ela negou. Sobretudo por imaginar quem seria o padrinho.

- Me desculpem...eu não posso...não consigo. Isso exigiria ir à Itália para a cerimônia e...

- Laura, você sabe que ele não irá fazer nada. – Domenico argumentou.

Desde os primeiros dias que esteve com Laura, como um assistente a pedido de Massimo, Domenico afeiçoou-se a ela. Não deveria, disse a si mesmo na época, porque logo que a tivesse o irmão iria perder o encanto por ela. Mas não foi assim. Cada dia junto de Laura parecia crescer o desejo de Massimo pela garota. Então Domenico os viu se apaixonar, casar e afundar num poço de drogas, álcool, ciúme, traição e muitas brigas. A forma como terminou feriu a todos e ele teve ficar ao lado do irmão, mesmo que reconhecesse seu gigantesco erro. Laura errou ao envolver-se com Nacho, mas, como já tinha dito na cara de Massimo, nada justificava o que ele fez.

O carinho que nutria por Laura – e a pressão de Olga – o fez ir à Espanha para batizar Stella e manter contato com a amiga, muito querida, com frequência e sem levar à Massimo qualquer informação oferecida por Laura. Naquele momento, havia sido sincero. Tinha plena certeza de que o irmão jamais faria qualquer nova violência à ex-mulher. Porque ele ainda sofria o impacto do que tinha feito no passado. E, talvez, nunca conseguisse se recuperar totalmente

Novos Dias: a história depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora