Capítulo 5 - Três anos após a separação

497 32 11
                                    


Laura encarava sua terapeuta e via nela olhos surpresos. A mulher estranhava, e muito, o que a paciente lhe dizia. Mas ela não entendia o porque de tanto espanto. Acabara de lhe contar que Marcelo estava nos Estados Unidos a negócios. E que fora acompanhado da amante para passar alguns dias na América. Não era a primeira viagem assim, nem a primeira amante. Provavelmente não seria última. E ela não se importava.

- Não sente nada de ciúme, Laura? – A outra perguntou.

- Não. Fico até feliz. Assim ele não me fiscaliza. Se satisfaz na rua e, quando está em casa, chega e dorme. – Ela estava sendo sincera e ter um lugar onde podia fazer isso, lhe agradava.

- É um relacionamento...aberto? Você também tem outros parceiros?

- Os homens não são muito bons em relacionamentos abertos aos dois lados, Isabel. Você sabe do que estou falando, não é? Mas, se quer a verdade, sim, já tive boas fodas enquanto Marcelo estava viajando com suas putas. E não me arrependo. – No entanto, isso não lhe satisfazia. E esse era o problema. – Mas, sinceramente, acho os vibradores mais...efetivos. Levam-me a um orgasmo rápido e certeiro, e não enchem o saco querendo regrar minha vida. Não quero um amante.

Sempre gostara de sexo e não sentia vergonha em reconhecer isso. Talvez fosse mesmo uma pervertida, como alguns pensavam, ou, quem sabe, apenas uma predadora. E se fosse, qual o problema? Tinha fome sexual, desejo, um calor que lhe subia pelo ventre e fazia pulsar o seu ponto mais íntimo. Sempre fora assim, um furacão sexual que assuntava alguns homens e motivava outros. Gostava de provocar, de levar o parceiro ao ápice do desejo e de se deixar levar pelo prazer.

Ela e Isabel já tinham conversado muito sobre sua vida sexual. Não sentia constrangimento em falar de quem lhe comeu ou quem ela havia fodido. Lhe contou sobre os muitos namorados e parceiros ocasionais, da perda da virgindade, do período morando com Olga em Bródno no qual ela e a amiga tiveram noites – e dias – divertidíssimos. O ano ao lado de Martin no qual seu desejo sexual era ignorado por ele também foi bastante debatido. Isabel achava que isso a tinha deixado mais vulnerável a Massimo e toda a sua energia sexual. Mas ela não concordava. Massimo teria feito o estrago que fez em qualquer momento de sua vida porque nenhum outro a tinha satisfeito daquela forma. Ele foi sim um desgraçado, mas soube lhe dar prazer como ninguém.

No início Isabel preocupava-se em como ela iria lidar, sexualmente, com a violência que sofreu. Após um estupro, era comum que o trauma privasse a mulher de encontrar prazer no sexo. Mas não foi assim. Não daria a Massimo essa vitória, dizia a si mesma. Sim, no início sentia-se fria, não queria os braços de nenhum homem ao redor de seu corpo. Nem mesmo a proximidade de Marcelo era desejada. E ele respeitou seu desejo, por um tempo. A gravidez era como uma desculpa, eficiente e mentirosa. Depois o desejo voltou e, às vezes, o satisfazia com o marido, com masturbação ou com amantes aleatórios. Encontrava prazeres diferentes em cada um. A única regra era jamais lhe amarrar as mãos ou os pés. Isso lhe trazia arrepios que nada tinham de prazerosos.

A cada orgasmo encontrava libertação, mesmo que nenhuma foda fosse capaz de apagar suas lembranças nem lhe oferecer paz. Às vezes sentia falta de fazer amor, não de foder. E então se lembrava que isso ela nunca havia feito antes de conhecer Massimo e que, talvez, não fizesse nunca mais.

- Você não acha estranho que, com tantos parceiros, você acredite que nunca havia feito amor até os 29 anos? – Isabel lhe questionara.

- Acho. Mas eu nunca quis fazer amor. Sempre gostei da força, da foda violenta, de ficar marcada, doída. De, no dia seguinte, sentir onde eles tinham estado. Ainda hoje, gosto disso. Mesmo depois do que...aconteceu.

- E não pode ter amor na foda violenta?

- Pode. Eu descobri isso aos 29 anos. – E depois, nunca mais havia experimentado nada igual. – É diferente. Nós mulheres podemos encontrar prazer em qualquer lugar, Isabel. É fácil deixar uma buceta feliz. Mas oferecer tudo o que uma mulher quer, aí não é tão simples.

Novos Dias: a história depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora