Capítulo 25 - Cuidados, cuidados, cuidados

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A cada manhã, Laura olhava-se nua na frente do espelho e tentava observar mudanças no corpo. Como a maior parte das mulheres, nunca viu seu corpo como perfeito. Mesmo quando tinha vinte e poucos anos e a juventude ao seu favor, o busto pequeno e os cabelos ralos a incomodavam. Houve época em que ter dinheiro para colocar silicone fora seu objetivo. Depois, tornou-se dispensável. Uma ideia da qual riu, achando bobagem. Seus sonhos mudaram.

E hoje ela olhava para o próprio corpo e o achava bonito o suficiente para sorrir. Estava mais magra do que deveria, sentia seus seios estranhos e a barriguinha começava a despontar. As cicatrizes estavam ali, sua pele já não era tão firme quanto era aos 18 anos, mas tudo parecia perfeito para aquele momento de sua vida. Olhando-se, pensava que o mais importante era aquele corpo ser forte o bastante para colocar o bebê no mundo de forma saudável. E seria. Algo lhe dava essa certeza e a fazia sorrir enquanto se observava. Foi assim que Massimo a encontrou, sorrindo e encarando a si mesma no espelho.

- Eu queria muito me juntar a você e também tirar minha roupa, Laura. Mas a gente se atrasaria para um compromisso importante. Não acha?

Ela lhe sorriu enquanto se vestia e logo eles estavam no carro, rumando para o compromisso, realmente importante. Em conversa com o obstetra que os atendia, chamado Luigi, eles ficaram sabendo que, apesar das dificuldades oriundas da doença materna, o bebê estava se desenvolvendo bem. Tinha o tamanho e o peso esperados. Não tinham o que temer. Porém, não era fácil atender a todas as orientações médicas. Laura precisava manter repouso por grande parte do dia e, ainda assim, continuar com a prática de exercícios leves. Tinha uma alimentação extremamente restrita, mas precisava ingerir os nutrientes dos quais o bebê necessitava para crescer. Acima de tudo, o médico afirmou que ela precisava de equilíbrio. Iriam dosar as necessidades dela e do bebê e tudo daria certo. A tranquilidade dele fez bem ao casal. Os fez ter esperança.

- Eu já coloquei centenas de bebês no mundo. – Disse-lhes o médico que via estar na casa dos sessenta anos, especialista em gestações de risco. - Aproveitem tudo de bom que uma gravidez tem, independente das dificuldades. É um momento lindo e único. Os bebês são mais fortes do que parecem e eles nos surpreendem com sua vontade de viver.

Fizeram um ultrassom e ouviram o coração do bebê bater. Era forte e saudável. Naquele momento se lembraram de quando, no passado, ouviram o coração de Lucca bater. Não foi uma lembrança triste, não tentavam apagar o menino de sua história. Ele sempre estaria ali. Mas o fato de tê-lo perdido lembrava a Massimo o dever de proteger essa nova vida. E a todo o momento ele repetia a si mesmo os cuidados necessários. Não conseguiram ver o sexo, para ansiedade de Massimo. Ele não reconhecia, mas Laura sabia que mais uma vez ele sonhava com um filho homem.

- Reconheça, você quer um garoto. – Naquela noite, ela brincou com ele.

- Sim, eu acho que há um menino na sua barriga. É o que meu coração diz. Mas, se for menina, ficarei tão feliz quanto. E Stella mais satisfeita. – Ele se sentia mal por ter preferência. - Nós já temos Stella, então é natural que eu pense num menino.

- Eu sei, amor. Não precisa explicar. – Essa era uma coisa em que Massimo não tinha experiência em fazer e na qual se atrapalhava. – Eu sei que você será um ótimo pai, independente de eu ter uma menina ou um menino.

Apesar da felicidade, as semanas seguintes não foram fáceis. Laura via seu corpo falhar cada vez mais. Percebia não conseguir mais esconder nada de Massimo. E ele fazia questão de discutir cada detalhe com a médica que trouxera à Itália. Madalena tinha um estilo de trabalho muito diferente do de Luigi. A calma do obstetra não se refletia na nefrologista, que vinha impondo cada vez mais cuidados e restrições à paciente.

A entrada no quarto mês de gestação pareceu marcar o início de tempos mais difíceis. Pode ter sido o nervosismo pela disputa judicial em torno de Stella ou apenas a natural adaptação que o corpo dela teve de fazer para abrigar o bebê. O fato é que o comprometimento renal avançou rapidamente e sua fragilidade tornou-se mais evidente.

Novos Dias: a história depois do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora