Q.

4.9K 293 132
                                    

Camila

 

Acordar tarde pela manhã após dormir com Lauren era, sem dúvidas, uma missão impossível. Quando meu chefe não me ligava, o dela o fazia. Eram 7:45 quando o celular dela tocou. Aparentemente, seu chefe queria que ela fosse atrás de alguém, o que significava que eu iria junto.

Quando me levantei, Lauren já estava no banheiro. A porta estava aberta e eu conseguia vê-la através do espelho na parede. Estava de frente para ele, nua. Passava as mãos em suas tatuagens, observando cada uma delas. Fui até ela, abraçando-a por trás. Lauren devia estar muito distraída com as tatuagens, já que não me viu no espelho e se assustou com meu toque. Depositei um beijo em seu pescoço e descansei minha cabeça em seu ombro.

- No que está pensando? — perguntei, olhando-a através do espelho.

- Gosta delas? — ela devolveu a pergunta, ainda alisando a pele do antebraço com os dedos.

- Muito. — respondi, e ela se virou para mim.

- Por que? — sua voz estava baixa.

- Tudo o que você não fala sobre si mesma, elas falam. As vezes.

- Tem certeza que quer ir?

- Sim. — eu não queria. Se pudesse, dormiria até o fim do dia, mas precisava. Há menos de vinte e quatro horas eu havia descoberto que Lauren matara alguém no dia anterior. Queria saber das coisas que ela fazia quando não estava comigo. E de qualquer forma, precisava de material para Hayes.

Vesti minha roupa e Lauren a dela, com pressa. Quando pegou um chaveiro na mesa da cozinha, olhei para ela.

- Não vamos de moto, vamos? — perguntei.

- Não. Por que?

- Nada. Vamos? — sair do apartamento e Lauren veio atrás.

Descemos até a garagem do prédio e eu a segui. Quando apertou o controle nas mãos, o alarme do carro à minha direita deu sinal. Olhei para ele e depois para ela.

- Você tem um Virage Coupe 6.0 branco? — Lauren riu da minha reação.

- Não. Roubei a chave reserva do vizinho semana passada. Entra antes que ele perceba que foi o alarme do carro dele.

Entrei pela porta do passageiro e Lauren se sentou de frente para o volante. Ela me olhou e riu, de novo.

- Esse carro é mesmo do seu vizinho?

- Sim. Pegue os documentos no porta-luvas. Meu vizinho sempre deixa ele aí. Tem o mesmo nome que eu, mas ignore a foto 3x4. Naquela época ele era horrível.

- Imbecil. — falei, batendo em seu braço. Lauren riu e girou a chave, dando a partida. Saímos do prédio e seguimos pela orla da praia.

Após alguns minutos de silêncio eu perguntei:

- Então... Quantos carros supercaros você tem além desse e eu não sei?

- A Ferrari vermelha na garagem da mansão da Cronos e a Lamborghini vinho no pátio depois da garagem. - olhei para Lauren. Não é possível que ela tivesse dinheiro suficiente para comprar tudo aquilo. Ela me olhou de volta sorrindo. — É brincadeira. — sorri de volta, olhando para frente — Nunca compraria uma Ferrari. — voltei a olhá-la, e ela sorriu novamente, olhando para frente.

Após vinte minutos de viagem, chegamos à uma casa do outro lado de Miami. Estava visivelmente abandonada, e um carro estava estacionado em sua frente além do de Lauren. Descemos e ela abriu o portão, entrando. Não tinha nenhum sinal de vida lá dentro, exceto por um pitbull preto amarrado à uma corrente, que agora latia e tentava se soltar, provavelmente para matar a mim ou Lauren. Essa, quando viu o cachorro, segurou minha mão com força e sua respiração ficou mais pesada. Lauren tinha medo de cachorros?

Entramos na casa e quando chegamos à sala um homem apontava uma arma para a porta. Ao nos ver, ele a abaixou.

- Lauren. Que susto. Entra aí. — ele devia ter no máximo vinte e quatro anos. Era moreno, porém claro. Tinha tatuagens no rosto de usava calça, blusa e tênis brancos. Era como uma versão do Chris Brown mais baixa. — Aconteceu algo?

- Na verdade, estou aqui pelo que não aconteceu. — Lauren saiu do meu lado e andou pela sala, observando cada canto. — Deveríamos ter recebido um carregamento de LSD ontem até as onze da noite. Isso não aconteceu, Q.

- Não sei do que está falando, Lauren. Não encomendamos LSD há meses. Falconi disse que tinha encontrado outras pessoas para isso e que eu deveria entregar apenas outras drogas.

- Ele disse? Para você?

- Sim. Foi bem claro. — Lauren sentou no sofá, cruzando as pernas. Usava calça preta, saltos e jaqueta de couro. Era a primeira vez que eu via Lauren sem coturnos ou regatas. E eu achava que ela não poderia ficar mais sexy.

- É estranho Falconi ter falado isso diretamente com você, até porque veja... Ele não sabe quem é você. — Q olhou para Lauren sem piscar — Há três meses você vem roubando nosso LSD e vendendo ele em sabe-se-lá-onde, Quentin. O Falconi tá bem puto com você.

- Ele te mandou aqui pra me matar, não é? Desgraçado. Eu devia ter deixado o Brutus solto.

- Isso me faria desperdiçar duas balas, e munição não tá barata, cara. Me diz onde tá a merda do carregamento pra eu poder ir embora. — eu continuava na porta. Lauren não me olhara nenhuma vez durante toda a conversa.

- Vou pegar as caixas e já volto.

Quando voltou, apontou a arma novamente para Lauren, que se levantou.

- Quieta ou eu atiro. — Lauren estava de costas para mim com os braços para o alto. Pela abertura entre seu braço e seu pescoço, eu conseguia ver Q. Levantei minha blusa na parte de trás e tirei minha arma.

- Quieto ou eu atiro. — falei, apontando para ele. Lauren continuava imóvel.

- Você não vai atirar em mim. — Q disse, sorrindo da pior forma possível.

- Por que as pessoas sempre acham que eu não vou atirar nelas? — falei e apertei o gatilho. A bala acertou a mão de Q, que largou a arma e começou a gritar. Lauren foi até ele e o segurou pelo pescoço, enforcando-o.

- Me diz onde tá o carregamento. Agora. — sua voz estava baixa, calma.

- Strompsen Avenue, 386, um galpão abandonado. — ele respondeu com dificuldade.

- Desculpe por isso. — ela falou antes de torcer seu pescoço. Quentin caiu no chão, e então, Lauren me olhou.

- Por que pediu desculpas antes de matá-lo? — perguntei, abaixando a arma.

- Porque não queria matá-lo. Podemos sair daqui? — Lauren passou por mim e saiu da casa, enquanto eu olhava para o corpo à minha frente. Dois assassinatos em dois dias, e Lauren não usara armas de fogo em nenhum deles. Limpei o pensamento e fui atrás dela. 

Misery (Camren)Where stories live. Discover now