Misery (Camren)

Laughs

Camila

Não importava a posição que eu achasse, eu não conseguia dormir. O relógio já marcava 4h37 e eu ainda tentava me mexer na cama sem fazer muito barulho. Ao contrário de mim, Lauren dormia em sono profundo ao meu lado. Depois do que acontecera durante o dia, eu não deixaria que ela ficasse sozinha. Seu abdômen ainda estava machucado, ela mal conseguia andar sozinha, quanto mais se virar. A cama era estreita para nós duas, mas ainda sim cabível. Olhei para seu rosto, próximo ao meu. Quando acordada, Lauren passava uma expressão um pouco assustadora, dolorosa e confiante demais, porém quando o sol se punha era completamente diferente.

A luz da lua que invadia o quarto por meio da janela iluminava o rosto de Lauren, mostrando os mínimos detalhes. Suas sobrancelhas eram grossas, porém delicadas, de certa forma. Suas bochechas coradas, seus lábios vermelhos e inchados. O nariz era perfeito em junção a todo o resto, e, mesmo que estivesse de olhos fechados, eu ainda conseguia enxergar as duas imensidões verdes. Sua clavícula sobressaltada e coberta pela metade pelos cabelos pretos. Seus braços completamente cobertos por tatuagens, as quais pela primeira vez tive chance de ver com calma.

No punho esquerdo estava uma âncora, envolta por uma corda. Ao redor algumas nuvens, controles de vídeo games e um quebra-cabeças de quatro peças encaixadas. Um pouco mais acima havia um desenho do lendário personagem das HQs de "Batman": o Coringa. A tatuagem era um desenho perfeito, ele usava o clássico terno com uma rosa no paletó, e seus cabelos estavam bagunçados. Seus olhos envoltos pela maquiagem escura. Um sorriso cicatrizado enorme no rosto descolorido. Em volta dele haviam mais nuvens, cobrindo até o fim do antebraço. Aquela, porém, era a parte de cima.

Na parte de trás do antebraço haviam várias tatuagens: ainda no pulso, um jogo da velha com alguns "x" e as cordas que entrelaçavam a âncora se unindo. Mais acima havia um diamante sombreado. A pele de Lauren era tão clara que os riscos finos das tatuagens causavam um efeito extremamente chamativo. Acima do diamante, havia uma data.

"14.09.2007"

Me perguntei por alguns segundos o que havia acontecido naquela data, mas nunca conseguiria adivinhar. Haviam mais nuvens ao redor, até as costas do cotovelo. Na dobra do braço estava escrito de preto "DOULEUR". Felizmente, eu entendia francês. "Douleur" era a palavra em francês para "dor". Aquilo me fez imaginar quantas coisas Lauren deveria ter passado até chegar ali. Ao olhar para ela dormindo, era impossível imaginar que em alguma parte da vida sofrera. Seu rosto passava certa serenidade, certa paz.

Continuei olhando as tatuagens espalhadas pelo corpo. Naquele braço, elas só iam até ali. Como ela estava virada para cima, consegui ver o outro braço. Esse era coberto até o ombro. Todas as tatuagens eram pretas, mas não de um preto desbotado e esverdeado. Eram realmente escuras, e, a maioria, tinha um certo efeito que dava a impressão se ter sido feita à marca de queimaduras. Eu conhecia aquele efeito, os melhores tatuadora usavam-no, mas algumas pessoas tinham aflição de achar que uma parte da pele estava mais funda - e o processo para fazê-lo era mais doloroso que o de uma tatuagem normal.

No pulso a sequencia de tatuagens que também eram contornadas por nuvens começava. Ela começava com um pássaro enorme em pé em um galho de árvore. Mais acima, á direita, a palavra um anel que reconheci facilmente: Era o anel da épica trilogia "O Senhor dos Anéis". A tatuagem era pequena e envolta do anel tinha escritos, minúsculos. Apenas algumas linhas, copiando o modelo usado por Frodo Baggins. Acima havia um livro médio, com a frase:

"The ones that love us never really leave us."
"Aqueles que nos amam nunca nos deixam de verdade."

Ainda na parte de trás do antebraço haviam dois dados, um marcava o número 1, o outro o número 6. O mínimo e o máximo que você pode conseguir em um dado. Havia também o Sonic, sorrindo. Mais acima uma mão que qualquer um reconheceria: Uma das mãos de Mickey Mouse fazendo o sinal de positivo. As nuvens cobriam os espaços entre as tatuagens. Ainda seguindo pela parte de trás, na dobra do braço direito havia uma palavra escrita com a mesma fonte de "Douleour", no outro braço. Também em francês, o escrito dizia "BONHEUR".