Blood

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Camila

Minha conversa com Hayes havia sido pouquíssimo agradável. Quando nos sentamos na mesa do restaurante, esperava pelo menos um "Olá Camila, como vai?" ou "Sei que não é fácil estar infiltrado em uma máfia, como tem passado?".

Bem, isso não aconteceu.

Ele comia seu almoço como se fosse a última coisa que colocaria no estômago. Enquanto isso, eu olhava para minha comida sem fome. Ter um homem de quarenta anos comendo feito um porco à sua frente faz você perder o apetite.

- Então, o que tem de novo para mim? - me perguntou enquanto enfiava um pedaço inteiro de costela na boca.

- Não muito, eu ainda... Ainda não estou totalmente dentro. Estão me avaliando. - ele me olhou um pouco decepcionado - São bastante seguros, não vão me dizer nada logo agora. Eu preciso de tempo.

- Tem todo o tempo que quiser, Cabello. Apenas lembre-se de que um passo em falso seu e uma investigação de meses do FBI e do MPD vai pelo ar.

- Não dou passos em falso, senhor. Só preciso de algum tempo.

- Ótimo. Não vai comer?

- Eu... Estou sem fome.

- É um pena, isso tá bom. - eu percebi, Hayes - Já que não vai comer é melhor ir embora. Não podemos ser nvistos juntos.

- É, é melhor. Vejo você depois. - levantei da mesa e fui até a porta, dando uma última olhada em Hayes, que chupou o fio de macarrão até o fim.

Andar por Miami pode ser algo bem divertido quando você precisa pensar. O trânsito agora não era nem um pouco menos caótico, e no fundo, gostava disso. Ver todos aqueles carros e pessoas me alegrava, saber que eu não estava sozinha no mundo ou não era a única com problemas era bom. Não que eu me sentisse melhor pela desgraça alheia, não pense isso, mas ter em mente que você não é a única pessoa fodida no mundo as vezes pode ser reconfortante. Eu andava em ritmo normal com as mãos nos bolsos da jaqueta preta que roubara de Lauren pela manhã. Quando saí de sua casa o ar estava frio.

Lauren.

Eu havia tentado não pensar nela a manhã toda, o que foi praticamente impossível. Ainda conseguia sentir suas mãos e seus lábios em todas as partes do meu corpo. Literalmente. Eu sentia saudade também. Só faziam algumas horas, mas, por mim, eu passaria a manhã toda olhando-a dormir em sua cama. Enquanto dormia Lauren era diferente. Não era a mulher que passava o dia tentando me ensinar a atirar facas ou balas - coisas que eu fazia muito bem desde os dezesseis anos - ou a empregada de uma máfia que parecia assustadora a maior parte do tempo. Enquanto dormia, seus lábios formavam um sorriso fraco e pequeno, mas ainda sim um sorriso. Ela juntava os braços e apoiava as mãos fechadas debaixo do queixo, como se estivesse pronta para boxear alguém. Também encolhia as pernas na barriga, como se estivesse tentando caber dentro de um ovo minúsculo. Tudo nela parecia tão vulnerável, tão... carente.

Meus pensamentos sobre Lauren foram interrompidos quando bati com o ombro em uma senhora que caminhava na calçada. Eu pedi desculpas, mas ela me lançou um olhar um tanto quanto amedrontador. Continuei andando e olhando ao meu redor, até me lembrar de que não ligava para minha mãe há alguns dias. Sentia falta dela, sentia falta de casa. Peguei o celular e digitei o número.

- Alo?

- MÃE!

- Camila, oh meu Deus. Como você está?

- Estou bem. E a senhora?

- Estou bem, filha. Mas me fale de você. Como vão as coisas ai em Miami? Está trabalhando muito? Não estão te fazendo de escrava, estão?

- Não, não estão. - ri enquanto atravessava a rua - Tá tudo bem, só estava com saudade.

- Eu também estou, filha. Preciso desligar, seu pai e eu vamos ao cinema. Ele quer assistir Cinquenta Tons de Cinza.

- Podia ter me poupado disso. Bom filme para vocês. E mãe... Não me ligue, ligarei para a senhora quando puder. Por favor.

Quando desliguei o telefone tentei não viajar pela minha mente de novo. Enquanto andava, observei as lojas e prédios de Miami. Eu quero poder aproveitar a cidade, sem responsabilidade alguma. Quando era mais nova achava que quando viesse para Miami passaria o dia na praia e a noite em alguma boate.

Assim como a educação de Hayes, isso também não aconteceu.

Por sorte, o restaurante que meu chefe escolheu era perto do meu prédio. Que também era perto do prédio de Lauren, o que era um grande azar. Entrei no edifício e subi até o andar do meu apartamento. Ao entrar, tomei um banho frio e deixei a água cair nas minhas costas por algum tempo. Quando me olhei no espelho um sorriso involuntário surgiu em meu rosto. Meu corpo ainda estava marcado, todo ele, graças a Lauren. Meus seios, meu pescoço, minha barriga.

Passei o resto da tarde dormindo, apesar de ter dormido bem à noite, eu ainda estava exausta. Não havia dormido direito nenhuma das outras noites que passara na mansão. Acordei com meu celular vibrando debaixo do travesseiro.

"Pode vir aqui pra casa? Não sei onde você está e não gosto de ficar sozinha com uma vasilha de pipoca e vários filmes."

O número era o mesmo que me mandara uma mensagem pela manhã, Lauren. Me arrumei depressa e desci as escadas do prédio. O elevador estava demorando demais. Dei uma volta no quarteirão e após dez minutos estava na porta do prédio de Lauren. O porteiro abriu, dizendo que ela já havia avisado sobre uma visita. Subi até seu andar e bati na porta, a próxima visão que tive foi de uma Lauren com cabelos presos em um coque, regata branca - Deus, ela só usava regatas?! - e calcinha branca em minha frente. Ela sorriu e me mandou entrar.

- Onde passou o dia todo?

- Andando por ai. - eu sabia que ela não acreditava, e o fato de eu estar com roupas diferentes quando as minhas deveriam estar todas na Cronos não ajudava - E você?

- Ahn... Fiz algumas coisas. Nada demais. Quer pipoca? - ela estendeu a vasilha gigante e eu peguei algumas.

- Que filme vamos ver? - perguntei quando sentamos na sala e ela ligou a TV.

- De qual gênero você gosta?

- Comédia. E comédia romântica. - respondi, pegando mais pipoca.

- Ótimo. Vamos assistir Como Perder Um Homem em Dez Dias, então.

- Ok. Posso ir ao banheiro antes?

- Sabe onde é. - levantei e segui o corredor. Lauren estava sentada no sofá de pernas cruzadas mexendo no controle da TV. Entrei no banheiro e me olhei no espelho, puxando a maior quantidade de ar que consegui e soltando em seguida. O que diabos eu estava fazendo? Não deveria estar aqui, deveria estar procurando pistas sobre mafiosos.

Foi então que, por meio do espelho, vi o cesto de roupas sujas de Lauren. Dentro dele estavam apenas duas peças: uma blusa branca e um short jeans azul claro. Ambos estavam sujos de sangue, mas não pouco. Havia muito sangue ali. Sai do lugar e voltei para a sala. Lauren me olhou como uma criança que espera seu prêmio ao tirar dez em uma prova. Suas tatuagens estavam ainda mais chamativas agora. Sempre que usava branco elas realçavam mais, e Deus, eram lindas.

Me sentei ao seu lado e ela começou o filme, me oferecendo pipoca.

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ADIVINHEM QUEM ESTÁ VIVA? Isso mesmo, eu. Não vou pedir desculpas pela demora porque acho que vocês já se acostumaram com isso ksjsksj. Digam o que estão achando, não deixem de comentar. Eu amo quando vocês me cobram/xingam/reclamam ou fazem uma crítica boa, sério.

P.S.: Pros que não sabem, eu tenho outra fanfic camren aqui no wattpad chamada "Falling Wings", é legal, leiam depois de quiserem. E desculpem o marketing ridiculo ksjsksjs. Até <3

Misery (Camren)Where stories live. Discover now