Às 21:00 em ponto Camila estava sentada na sala de embarque do aeroporto de Boston, em suas mãos apoiava um jornal diário e lia-o atenta. O jornal era nada mais que uma tentativa de passar o tempo falha já que nenhuma matéria lhe interessava. A sala do aeroporto estava calma e praticamente vazia, o que agradava a garota que odiava tumultos. Passou mais uma folha do jornal e uma notícia chamou sua atenção:
“FUGA NA FLÓRIDA
Na última segunda-feira (20) o 13° Departamento de Polícia de Miami reportou duas fugas em seu presídio principal. Carl James (36) e Jason Lee (39) fugiram na madrugada do domingo para a segunda-feira, informa o delegado Harry Willians. De acordo com o mesmo a fuga teria sido realizada por meio de um farsante que entrara disfarçado na cadeia e manipulara outros guardas para conseguir as chaves.
“Reforçaremos a segurança e os guardas que permitiram tal fuga serão devidamente advertidos.”
Segundo o delegado, não há motivo para maiores preocupações:
“Eles estavam presos em segurança máxima por algum erro do estado, não representam perigo de tal tamanho. Não pelo que se preocupar já que nunca foram indiciados por crimes violentos. Estamos resolvendo isso.”
Ainda em pauta com os jornalistas, Harry Willians afirmou que fugas de grande porte e grande preocupação nunca aconteceram na região ou em casos dirigidos por sua delegacia e isso não passa de um pequeno deslize.”
Camila fechou o jornal e colocou-o no banco ao lado. O 13° Departamento de Polícia de Miami era o lugar para onde seu chefe, Sr. Martin havia-a transferido e, mesmo que odiasse ter que se mudar de Boston, estava animada para o novo posto. O único problema é que não sabia qual seria sua nova função e isso lhe incomodara mais que qualquer outra coisa nas últimas semanas. A única coisa que desviava sua atenção era a tristeza de separar-se de seus amigos, família e colegas de trabalho. Sentiria falta de Sandra, sua melhor amiga. De sua família e, mais que tudo de Allyson, sua antiga colega de trabalho. Não trabalhavam na mesma área mas tomavam café juntas todos os dias no pequeno refeitório da delegacia, imaginava como seriam seus cafés da manhã sem fofocar sobre os outros colegas com Ally, com certeza sentiria falta disso.
Tomou nas mãos seu iPod e selecionou uma playlist qualquer, que se iniciou com “Yellow Flicker Beat”, uma de suas músicas favoritas no momento. Começou a observar o local e as pessoas que estavam ali. Todas corriam como loucas e pareciam ter a vida bastante movimentada, mas é claro, eram 21:00 de uma quarta-feira, quem viajaria neste horário se não empresários ou pessoas de tamanha importância? Apenas Camila. Não se subestimava, mas não tinha tanta importância quanto talvez as outras pessoas ali que precisavam chegar a tempo em reuniões ou qualquer outra coisa que necessitava um pouco de pressa. A garota só começaria a trabalhar na outra segunda-feira, o que lhe dava quatro dias para fazer absolutamente nada em Miami. Se conseguisse arrumar o novo apartamento até sexta talvez conseguisse aproveitar a praia no final de semana, e estava implorando para isso. Camila não ia à praia há, mais ou menos, três anos. Nem mesmo se lembrava como era a sensação de afundar os pés na areia e sentir a água chegando em forma de ondas em seu corpo. Talvez isso fosse o que precisasse para descansar dos últimos seis anos investigando processos, quadrilhas, assassinatos e prendendo pessoas.
“Passageiros do voo 652 com destino à Miami, Flórida favor se apresentarem no guichê de número cinco para a fiscalização do cartão de embarque e, sem seguida, o mesmo.”
Pegou sua bolsa e do bolso externo tirou a passagem, seguindo até o quinto guichê. Após sete ou oito pessoas passarem pela fiscalização a vez de Camila chegara, ao passar no detector de metal o mesmo apitara alto. A garota tirara, de dentro da calça, um revólver Taurus modelo 889 que ganhara do Sr. Martin no ano passado. Ao ver a arma o policial do aeroporto sacou a sua, apontando para Camila que, imediatamente, tirou seu distintivo da parte interna do casaco.
- Procuradoria de Boston? - Camila acenou a cabeça afirmando, o homem guardou a arma e sorriu – Conhece o Patrick? Patrick Young, cabelo preto, olhos castanhos, alto e...
- Sim, trabalhamos juntos durante três anos. – respondeu, saindo do detector e esperando que a mulher sentada ao seu lado conferisse os documentos.
- Ele é meu irmão. – Patrick, colega de trabalho de Camila nunca havia comentado sobre um suposto irmão. Mas pensando bem, Patrick nunca comentara nada sobre sua vida pessoal, Camila trabalhara com ele por bastante tempo e não sabia nem seu endereço ou até mesmo, sua idade. A mulher sentada no guichê cinco devolveu os documentos indicando que a garota poderia embarcar no avião.
- Foi um prazer, senhor Young. – disse, guardando os documentos na bolsa e a arma colada em seu quadril, segurada pela calça.
- O prazer foi meu. – respondeu, com um pequeno sorriso. Camila seguiu o túnel até chegar ao destino, procurou por seu assento, o E6 e sentou-se ao lado da janela.
Ninguém sentara ao seu lado, o voo estava vazio e calmo, assim como a sala de embarque. Colocou os fones de ouvido e apertou o play do iPod, deixando o aleatório escolher a música que ouviria. Abaixou o volume para ouvir o piloto anunciar o voo:
“Boa noite senhoras e senhores que nos acompanham no voo 652 da American Airlines com destino à Miami, aqui fala o Comandante Pedro, a temperatura local é de 13°C e a estimativa de tempo de voo é de quatro horas e trinta minutos. Espero que aproveitem nossos serviços.”
Voltou a aumentar o volume e acompanhou a voz de Bruno Mars enquanto olhava pela janela. Com o decolar do avião Camila sentiu um aperto do coração, ver Boston de cima fazia-se sentir minúscula e a tristeza por deixar a cidade natal não era pouca.
Depois de duas horas estava cansada de ouvir música, guardou os fones e o iPod e retirou da bolsa um livro. O livro de autor desconhecido era um presente de Allyson, sua antiga colega de trabalho. Abriu na página quarenta e cinco retirando o marcador e continuando a leitura. “O Segredo da Mente Humana” era uma história real sobre um serial killer brasileiro que matara mais de quarenta pessoas. Aquilo entretia Camila, o assunto abordado era um de seus favoritos. Camila gostava de observar as pessoas em seus mínimos detalhes e estudá-las, não apenas fisicamente como psicologicamente. Lidava muito com isso em seu ramo, onde precisava entender a mente dos criminosos para poder saber o que fazer. Era um passatempo estudar as ações de todos ao seu redor.
Alguns minutos depois as três comissárias de bordo andavam no corredor oferecendo alguns salgadinhos e refrigerantes ou sucos. Camila pegou nada mais que uma lata de coca-cola e um saquinho de bolachas água-e-sal. Não gostava de comer muito quando viajava, sentia-se empanturrada. Terminou o lanche e voltou para seu livro, distraindo-se mais uma vez. Quando ouviu a voz de Pedro, o piloto novamente já estava na página oitenta e um. Fechou o livro, quadrando-o e ouviu o recado.
“Senhoras e senhores estamos em Miami, temperatura local de 29°C, são 1:25 da manhã, o tempo encontra-se nublado. Não se esqueçam de pegar os pertences de mão nos bagageiros, espero que a viagem tenha-os agradado. Nós da American Airlines agrademos sua preferência e o aguardamos para o próximo voo.”
Ao sair do avião Camila sentiu um choque térmico percorrer seu corpo. Estava acostumada ao frio de Boston, principalmente no final do ano. Miami por outro lado era quente, mesmo com o forte vento que quase derrubava as árvores. Percorreu todo o caminho do aeroporto até a saída, onde pegou um táxi e leu o endereço escrito em um pedaço de papel para o motorista.

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Misery (Camren)
FanfictionNossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço de...