Lauren
Eu já havia perdido a noção do tempo na sala escura e silenciosa em que estava. Depois de me arrastarem para uma cela e da cela me arrastarem para uma sala sem luz, me largaram sozinha e algemada. Como isso aconteceu? Da maneira mais estúpida possível.
Quando Victor e eu invadimos o cartório e descobrimos que Emma não era quem dizia ser já era tarde demais, a mulher que permitira nossa entrada havia feito uma ligação para a delegacia e não demorou mais de vinte minutos para que nos encontrassem. Antes de chegarem até Victor e eu os policiais já estavam atrás de outros membros da Cronos, o que rendeu a eles um total de dezoito prisões em menos de quarenta minutos.
Desde o momento em que nos cercaram com várias armas e nos algemaram eu não havia dito uma palavra. Sabia que qualquer coisa que falasse seria um motivo para me espancarem até me deixar em coma. Até esse momento tudo estava bem. Eu estava bem e, pra ser sincera, não ligava muito por que havia acontecido. Até entrar na delegacia.
Eu esperava ser traída por qualquer pessoa no mundo, menos por ela. Quando eu entrei naquele inferno eu estava atrás de vários outros homens e policiais. O policial que me levava estava praticamente torcendo meus punhos e se fizesse mais força não duvido de que quebraria meus braços. Essa era minha maior preocupação, até que eu olhei para cima.
No momento em que meus olhos encontraram ela no meio da multidão eu senti ódio. Não era raiva, não era decepção, era ódio. Durante aqueles cinco segundos em que ela me olhou de volta eu quis matar Camila com todas as minhas forças. Ela havia me usado o tempo todo. Ela havia mentido o tempo todo. Eu já esperava algo assim dela, esperava que ela fosse uma pessoa diferente, esperava que tivesse um nome diferente. Seria uma tola se não o fizesse. Mas dentre todas as minhas teorias, nunca esperaria que Camila fosse da polícia e que estivesse me usando para chegar até ali.
Por que logo ela?
Eu havia confiado em Camila, havia me aberto para ela. Pela primeira vez em anos eu me permitira não ficar tão só e a única pessoa em que eu confiara me traíra. Talvez Deus quisesse me dar uma lição sobre o quão bom é confiar nas pessoas.
Se qualquer forma, eu estava sentada em uma cadeira dura, numa sala escura e silenciosa, estava com fome e estava apavorada. Ficar naquele lugar me fez sentir o mesmo que havia sentido há anos quando minha família fora assassinada: medo. Muito medo. Eu não sabia o que aconteceria dali pra frente. A essa altura já haviam descoberto quem eu era e em alguns dias eu seria sentenciada à morte ou à passar o resto da vida trancafiada em uma cadeia. O pavor crescia dentro de mim a cada minuto e então me peguei chorando com medo em uma sala escura sem ninguém. Era igual da última vez e eu era a mesma adolescente da última vez.
Depois de alguns minutos - ou horas, não consegui contar o tempo lá dentro - a porta atrás de mim se abriu. As luzes da sala continuaram apagadas e eu ouvi a porta se fechando. Em seguida ouvi o som do salto alto caminhando pela sala e se aproximando cada vez mais de mim. A pessoa passou do meu lado e se sentou à minha frente. Tudo que eu via era preto e tudo que eu ouvia era sua respiração pesada. Não podia ver seu rosto mas conhecia seu perfume.
Ela estava ali.
- Veio me interrogar ou me jogar em uma cela? - tentei disfarçar que havia chorado mas minhas voz continuava falha e baixa.
- Você esteve chorando? - não respondi. Sua voz era baixa também - Vim aqui te ajudar.
- Me ajudar? Você me jogou nesse buraco. - eu continuava falando baixo e com calma, e ela respondia da mesma maneira.
- Eu não sabia sobre isso, Lauren. Não fui eu, foi a Emma.
- Creio que também não sabia sobre ela.

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Misery (Camren)
FanficNossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço de...