Why Were You Crying?

5.2K 327 87
                                    

Camila

O primeiro dia não tinha sido tão ruim quanto eu pensava. Tirando a cama horrível do quarto que me deram na mansão enorme, o resto era suportável. Já era o meu segundo dia na Cronos. Um dia depois do Natal. Eu me sentia culpada por não ter falado com meus pais no feriado. Em nossa família, sempre passávamos o Natal juntos, era a maior tradição dos Cabello. Eu sentia falta deles, sentia falta de poder ligar para eles a hora que quisesse Naquela situação isso era impossível, mesmo que eu arrumasse um celular ali, ligar para eles era arriscado demais. Apesar de tudo eu precisava manter minha segunda personalidade: uma garota de rua.

Quando encontrei com Bill, meu primeiro pensamento foi Hayes. O segundo era de que queria muito matá-lo. Agora, esse não era meu primeiro pensamento, ou, pelo menos, o mais importante.

O dia de Natal não podia ter sido mais generoso comigo, saber que eu não era a única mulher naquele monte de homens havia me deixado bem mais tranquila. Emma não contava, é claro. Pelo que eu havia entendido ela só ficava ali cuidando de contas e coisas do tipo.

Lauren não era assim.

Ela não era muito mais velha que eu, arriscaria dizer que é da mesma idade. Tem minha altura e a pele bem mais clara que a minha. Seus cabelos eram pretos, ondulados. Seu corpo perfeitamente modelado e seu rosto desenhado pelos anjos. Seus olhos eram de um verde magnífico, seria um pecado dizer que eram simplesmente bonitos. Mas, ainda sim, o que mais me impressionara foram seus braços. Eram cobertos de tatuagens, cada espaço. Não havia identificado muitas em apenas um dia, as únicas de que me recordo eram uma âncora no pulso esquerdo e um coringa, no antebraço do mesmo lado. Eu nunca fui grande fã de tatuagens achava que era um erro, mas as dela eram definitivamente um enorme acerto. Combinavam com sua pessoa mais que o normal.

O único problema é que eu não sabia o que ela era.

Lauren passara o Natal todo cozinhando, mas não achava que alguém com o físico dela fosse uma simples cozinheira de uma máfia. Mas então, o que ela era? Qual seu papel ali? Era impossível dizer.

Depois que terminamos a ceia, sai da casa e fui até o jardim. Lauren estava lá, deitada. Sentei ao seu lado, cruzando as pernas. Não conversamos muito até à meia-noite. Nessa hora, nos desejamos feliz Natal. E depois não conversamos muito também. Depois de alguns minutos eu entrei novamente e subi as escadas até o segundo andar, entrando no quarto que Emma me dera.

Era pequeno, tinha uma cama, um armário, uma janela e... só. A cama era larga, mas o tamanho compensava o colchão. Deitar no chão seria mais confortável que aquilo. Deus, como eu queria estar no meu apartamento. Na minha cama. Com a minha vista. Maldito Hayes.

Fechei a porta e sentei na cama, encostando na cabeceira. Minha cabeça processava milhões de coisas ao mesmo tempo. Lidar com pessoas assim era fácil, vinha fazendo isso há anos. Mas me associar à elas, virar uma delas... Isso era completamente estranho. Quando você trabalha na polícia você não enxerga o outro lado. Não existe outro lado. Existe você, a lei, criminosos, processos, algemas e tiroteios. Seguir a carreira policial definitivamente não é algo que fácil de se fazer, não se você quiser ser correto. Você vê coisas, ouve coisas, presencia situações e, depois disso, se pergunta se existem pessoas realmente boas no mundo. Pessoas que nunca trapacearam, pessoas que nunca mentiram ou machucaram alguém. A resposta é sempre a mesma: Não. Pessoas perfeitas não existem.

Ainda sim, muitos de nós, policiais, vemos criminosos apenas como máquinas que trazem a desgraça ao mundo. Estar ali, com eles, mudava bastante seu pensamento ou, no mínimo, te deixava confuso. Eles celebravam o Natal. Eles se arrependiam de coisas. Eles eram amigos um dos outros. Eles cuidavam um dos outros.

Misery (Camren)Where stories live. Discover now