Ler relatórios e arquivos sobre mafiosos era com certeza a última coisa que Camila pensou que faria. Ela havia passado o último dia estudando fichas criminais de diversas pessoas, fichas familiares e fichas de afinidade e, ainda sim, só havia visto metade da pilha que seu novo chefe lhe dera. Conhecera, no mínimo, doze criminosos até ali. Entre eles pelo menos quatro eram psicopatas para Camila. Nem todos eram assassinos, alguns eram traficantes e outros apenas jovens que distribuíam drogas leves em escolas de Miami. Ela se perguntava porque seu chefe lhe entregara aquelas fichas, entendia que para lidar com o crime de Miami precisava antes conhecer os alvos, mas não entendia a classificação. Não seria melhor ter dado à ela apenas assassinos? Ou apenas traficantes? Não conseguia entender porque todos estavam misturados como se fossem iguais, o que definitivamente não eram. Talvez todos tivessem algum tipo de relação ou talvez seu chefe fosse apenas alguém com distúrbios mentais. Abriu mais uma ficha e deixou em cima da cama sem olhar nada dentro dela. Levantou-se e foi até a cozinha pegar uma xícara de café.
Quando voltou sentou na cama novamente e começou a folhear a ficha bebendo um gole de café. Antes de todo o resto, uma coisa lhe prendeu: o número de crimes da pessoa a quem a ficha pertencia. Haviam mais assassinatos ali que em qualquer outra ficha que Camila já vira na vida, pelo menos dezoito. Nomes de homens e mulheres se estendiam em toda a ficha com os motivos das mortes na frente. Todos tinham algo em comum, nenhum dessas pessoas haviam recebido tiros, todos eles foram dados mortos por enforcamento, quedas de lugares muito altos, torção de pescoço e até mesmo cortes na garganta. Virou a página e encontrou o papel onde deveriam estar escritas as informações sobre o assassino. Diferentes das outras fichas essa não possuía foto, o espaço estava vazio. Data de nascimento, parentescos, pessoas com quem tinha afinidade ou qualquer tipo de ligação também estavam vazios. A única coisa preenchida era o nome, mas somente com duas letras: "MM". Camila se perguntou que diabo era aquilo. Uma ficha criminal que não continha um criminoso. Continha uma série de assassinatos silenciosos e nenhum culpado. Na verdade tinham um culpado, mas não sabiam quem era, esse foi o primeiro pensamento de Camila. Eles sabiam que uma pessoa havia cometido tudo isso, mas não sabiam quem era. Talvez "MM" fosse apenas um apelido que haviam dado para o sujeito que cometera todos esses crimes.
Deixou a ficha de lado e leu o restante, o relógio já marcava 22:46, estava exausta. Seus olhos começaram a pesar e Camila se obrigou a terminar a última ficha antes de tomar um banho quente e deitar. Apagou na mesma hora que o corpo se ajustou a cama.
No outro dia Camila acordou com toda a disposição que já tivera durante a vida. Preparou seu café e tomou, depois trocou de roupa e pegou sua bolsa com as fichas criminais. Tomou um táxi na avenida e seguiu para dois quarteirões antes da delegacia. Durante o caminho ela observou as avenidas de Miami, sete da manhã e já estavam lotadas. Ao chegar pagou o taxista e desceu, procurando o cartão que o delegado Hayes lhe dera. Ligou para ele e marcaram de se encontrar em uma lanchonete que ficava a alguns quarteirões dali. Não foi difícil achar o lugar, era bem simpático e várias pessoas tomavam café ali. Sentou-se em uma mesa de quatro acentos e esperou, assistindo ao noticiário matinal. Alguns minutos depois seu chefe entrou no estabelecimento usando uma calça social preta, blusa social branca e gravata amarela. Sentou na frente de Camila e chamou a garçonete pedindo ovos mexidos e suco de laranja. Camila pediu panquecas e leite.
- Bom dia, Camila. Posso chamá-la assim? - ele sorriu, simpático.
- Sim Senhor, até prefiro que seja assim. Ótimo dia. - respondeu, retribuindo o sorriso.
- Leu as fichas? O que achou?
- Para ser sincera, Senhor Hayes... Eu não entendi. Não as fichas, estudei todas e entendi-as muito bem. Mas ainda sim... É confuso, haviam fichas de criminosos de todos os tipos, desde sujeitos perigosos a jovens que vendem maconha em escolas e assassinos não identificados. Não são fichas meio bagunçadas? - o homem não estava surpreso, olhava para Camila como se esperasse que ela tivesse aquela reação.

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Misery (Camren)
FanfictionNossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço de...