Trust

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Lauren

Durante meia hora Camila não disse nada, e eu também não o fiz. Na minha opinião, as duas estavam em estado de choque com o que presenciaram. Ainda sim, isso não me impedia de pensar em Camila e nas coisas que fizera. Ela não podia ser apenas uma garota procurando um lugar para morar, era impossível. Eu não conhecia seu passado, não me interessava por ele na maior parte do tempo, mas aquilo mudara após vê-la sacando uma arma e atirando em Quentin.

Quentin.

Ele havia sido uma das pessoas com quem mantive contato durante minha vida na Cronos. Não éramos amigos, sabíamos que aquilo não era possível, mas ainda sim...

Minha relação com Quentin me fez pensar em minha relação com Camila. Para nós, integrantes da Cronos, confiança era algo que não constava em nosso dicionário. Nunca fora. A primeira coisa que você aprender quando faz parte de uma máfia é que você pode ser morto a qualquer minuto. O fato de você viver faz com que você possa morrer a qualquer minuto. Você pode ter câncer, tuberculose, ser atropelado, ter um ataque cardíaco ou um derrame cerebral. Nós, além de tudo isso, podíamos ser mortos pelo simples fato de alguém não gostar do nosso trabalho, ou decidir que não estávamos fazendo-o direito. Esse era o principal motivo pelo qual eu nunca desobedecia uma ordem de Falconi. Eu não queria morrer, eu não podia morrer, eu tinha medo de morrer. Isso foi até eu perceber que, na verdade, já estava morta.

Existem vários tipos de morte e a maioria das pessoas não sabe disso, mas elas já estão mortas. Existem pessoas que nascem mortas, vivem mortas, e morrem mortas. Deixe-me explicar:

Sempre considerei que os dois dias mais importantes de sua vida são: 1) o dia do seu nascimento e 2) o dia em que você descobre porque nasceu. A maioria das pessoas morre sem descobrir porque nasceu. Vivem sem um motivo. .

Eu não queria ser assim. Não queria ser alguém que não tivesse um motivo para viver, e morria de medo de morrer antes de descobri-lo.

De qualquer forma, eu estava pensando em minha relação com Camila. Você, com certeza, já assistiu um daqueles filmes ou leu um daqueles livros em que o personagem principal está apaixonado, e seu coração manda-o mergulhar nesse sentimento, enquanto sua mente está presa e não o deixa seguir. E você com certeza já achou isso estupidez. Todos achamos, até acontecer conosco. Eu queria confiar em Camila com todo meu coração, mas não podia ser irracional. Éramos parte de uma máfia, e assim como eu, Camila com certeza não era a mocinha da história.

Meus pensamentos foram interrompidos quando ouvi a voz de Camila.

- Disse algo? - perguntei, sem olhá-la.

- Perguntei para onde estamos indo. Onde está sua cabeça, Lauren?

- Em você. - falei, sem intenção. Continuei dirigindo enquanto seguia para Bal Harbour.

- Sabe... - ela começou, parando um pouco e pensando - Você nunca me contou muito sobre a Cronos.

- O que quer saber? - olhei para ela rapidamente, e vi que ela me encarava.

- Ah, nada demais. Só... As pessoas de lá. Não conheço quase ninguém, é como se eu nem fizesse parte da coisa toda. Só queria saber quem faz o que.

- Ahn... Ok. Antes de tudo, precisa saber que a Cronos é uma máfia internacional e enorme. Aquilo que você viu é como a ponta do iceberg que afundou o Titanic. Temos sedes em alguns países da Europa, em Cuba, no México, no Brasil e na Argentina também. Não conheço muito sobre as sedes estrangeiros, apenas a do Brasil e de Cuba, já que sou cubana.

- Você é cubana? - ela parecia surpresa.

- Cubana-americana.

- Sou cubana-mexicana. - olhei para Camila, que sorriu e levantou as sobrancelhas - Prossiga. Me fale sobre a sede brasileira.

- Fica no Rio de Janeiro, um estado do Brasil. Eles vivem nos exportando cocaína e heroína, são bons com tráfico.

- Nunca foi lá? - Camila agora estava de pernas cruzadas com o pé no banco do carro. Pela primeira vez, não me importei que sujassem meu carro.

- Não. Nunca fui em nenhuma outra parte da Cronos, nenhum de nós aqui de Miami foi. - ela me olhava curiosa, e eu não sabia até que ponto confiava nela para contar tudo aquilo - Falconi não nos deixa sair daqui, ele diz que somos muito importantes e que precisa de nós em nossas áreas.

- Áreas?

- Sim, cada um tem uma função. Drake gerencia os fundos da Cronos, todo o dinheiro que entra e sai. Julius controla as boates da Cronos. Bill controla o tráfico nas ruas, encontra adolescentes e os coloca pra vender aquelas porcarias dele. Moe e Tredson costumavam organizar os roubos à bancos, mas agora que o Tredson sumiu Moe faz isso com o Mike. Também tem o Courtney, ele raramente fica na mansão, é vereador da cidade, da informações sobre a prefeitura e desvia dinheiro para nossas contas correntes. E, hum... Tem a Alexa. Ela vive naquela boate conspirando contra o Falconi e tentando matá-lo para assumir seu lugar, mas já falhou tantas vezes que ninguém liga mais pro que ela tenta fazer.

- E você? O que você faz? - enchi meu pulmão de ar e olhei para Camila. Esse era o ponto em que eu calava a boca e não falava mais.

- Eu... Eu cobro.

- Você cobra?

- É. Sabe, muita gente deve pro Falconi. Donos de restaurantes, pessoas que fazem empréstimos, pessoas que encomendam coisas de fora da cidade, elas precisam pagar uma taxa ao velho pra fazer isso. Alguns não pagam, então eu vou atrás deles e cobro, até que paguem.

- As pessoas de Miami precisam pagar impostos ao Falconi se quiserem viver aqui?

- Basicamente isso. Miami é cidade de ninguém Camila, você devia saber disso. Aqui a polícia é corrupta e pessoas como nós fazemos justiça, com as próprias mãos, mas ainda sim fazemos. Aqui as pessoas pegam empréstimos com a máfia, não com bancos. Aqui o prefeito é eleito, mas o dono da Cronos governa. Essa cidade é um formigueiro e cada um foge do inseticida à sua forma.

Camila ficou calada por alguns segundos, e então sua voz soou baixa novamente.

- Confia nele? Falconi?

- Ele me deu uma casa quando eu era uma garota estupidamente idiota. Ele me deu comida, emprego, me ensinou as coisas. Ele viu algo em mim. Se não fosse por ele eu provavelmente estaria morta de fome há anos. Falconi é um bom homem, ele só quer governar o mundo do seu jeito, isso não é um pecado. - Camila continuou calada, esperando que eu realmente respondesse à sua pergunta - Sim, confio nele.

Infelizmente, aquilo era verdade.

Quando chegamos na mansão da Cronos ela estava vazia, exceto por três ou quatro pessoas que reconheci logo de cara. Julius, Mike, Bill e Moe estavam jogando baralho na sala de jogos. Quando cheguei com Camila, eles nos cumprimentaram.

- Vocês não tem nada pra fazer? Tipo, nunca? - perguntei, pegando a garrafa de cerveja que Moe me oferecia. Ele ofereceu uma para Camila também, que aceitou.

- O segredo do sucesso é esse, Laur. Ache uns moleques sem casa e coloque eles para vender erva no subúrbio de Miami. - Bill falou, jogando uma carta acima da de Moe e gritando após isso - Truco, porra!

- Posso ver o tamanho do seu sucesso. - me virei para Camila - Sabe jogar truco?

- Nunca perdi uma partida. - ela respondeu, sorrindo.

- Senhores, vocês teriam vaga para uma dupla extra? - perguntei, e Julius riu.

- Claro. Mas os perdedores pagam uma noite de bebidas na Lexus para os ganhadores. - disse, levantando-se e fazendo sinal para que eu e Camila sentássemos em volta da mesa - Venha participar do nosso sucesso, senhoritas.

Sentei-me de frente para Camila, que tomou todo o conteúdo da sua garrafa de cerveja e começou a distribuir as cartas.

- Não tô afim de pagar bebida pra bêbado sem serviço, Camila. Embaralhe isso direito.

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Olá, como vão vocês? Senti saudades dslkjfsjd. Então, só pra esclarecer, "Bal Harbour" é o nome de um dos bairros mais ricos de Miami, é onde fica a mansão da Cronos.

Qualquer dúvida deixem nos comentários e tentarei responder o mais rápido possível. Espero que estejam gostando da fic, qualquer reclamação deixem nos comentários também. Beijos.

Misery (Camren)Where stories live. Discover now