Lauren
Treinar Camila estava saindo mais fácil que a encomenda. Levei ela até uma quadra longe da mansão após tomarmos café da manhã. Eu ainda me movia com dificuldade pela lesão na barriga, mas estava melhor que antes. Camila podia não saber como atirar, mas sabia cuidar de um ferimento. A atenção e cuidado que havia recebido dela nos últimos dois dias foram maiores que os que recebi nos últimos anos.
Começamos com o básico, Camila tentando atirar facas em um alvo. Normalmente, isso viria depois da luta corporal, mas eu não estava em condições de receber mais chutes e socos no momento. De sete facas que arremessou, Camila acertou cinco. Isso era uma média alta para... Qualquer um.
- Você acertou cinco. - falei, fazendo-a se virar para mim. Eu estava encostada na parede, observando, ela, mais a frente, ainda tinha duas facas na mão.
- O que tem isso?
- A maioria das pessoas acerta duas ou três, no máximo.
- Ninguém nunca acertou mais? - ela girava uma das facas no dedo como se fizesse aquilo normalmente todos os dias.
- Sim. - respondi, desencostando do muro - Eu.
- Você também foi a pessoa que conseguiu se exibir mais até hoje? - ri alto e Camila me acompanhou, balançando a cabeça e revirando os olhos.
Camila era a única pessoa daquela casa que não me tratava com medo ou receio, e isso era bom. Estar com Camila era bom.
Depois de mais duas horas jogando facas, descemos a rua e fomos até uma lanchonete. Camila pediu um hambúrguer e eu fiquei apenas com as batatas fritas que acompanharam e uma lata de refrigerante.
- Camila? - chamei. Ela me olhou, mastigando - Por que está aqui? Na Cronos.
- Eu não tinha um lugar para onde ir, então Bill me encontrou e me trouxe. - respondeu, voltando a morder o sanduíche.
- Você não parece alguém que faria parte disso... Sabe no que está entrando, certo? A Cronos não é um acampamento de verão.
- Eu percebi isso. Obrigada. - tomou um gole do refrigerante, ainda me olhando.
- Se você sabe mesmo o que está fazendo... - arqueei as sobrancelhas, encostando na cadeira.
- E você? O que está fazendo aqui? - ela não me olhou, apenas continuou comendo e ajeitando o guardanapo.
- Faço o que me pedem para fazer.
- E o que te pedem para fazer? - coloquei as mãos em cima da mesa, mexendo em um dos meus dedos.
- Várias coisas. As vezes eu só fico na casa, olhando as coisas e cozinhando. - era mentira - Não me pedem nada demais. - outra mentira. O único motivo pelo qual eu ficava naquela casa era para caso ele precisasse de mim. E sempre precisava para matar pessoas.
Após isso a conversa morreu. Mentir não era um grande problema, ainda não queria que Camila soubesse o que eu realmente fazia. "Olá, eu matei dezoito pessoas, como vai você?" não era a melhor coisa para se dizer. Eu tinha medo de assustá-la, mas também de afastá-la. Não queria que ela fosse mais uma dos que viviam sem me dar bom dia por simples medo de terem seus pescoços quebrados.
Saímos da lanchonete e voltamos para a quadra da qual viemos. Camila andava calada, pensativa. Parecia preocupada, mas concluí que seus motivos não eram da minha conta.
Apesar de não ter treinado com Tredson por muito tempo, ela era boa. Não era indefesa e sabia se virar bem, o que poupava à nós duas bastante tempo de treinamento.
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Misery (Camren)
FanfictionNossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço de...