No dia seguinte, lá estava eu novamente na Casa de Lições. Eu e Bianca conversamos bastante no caminho, estávamos desenvolvendo uma boa amizade, da forma como ela queria. E eu gostei daquilo, uma amiga… era algo que nunca passou pela minha cabeça ter algum dia. Já havíamos até marcado de ir comprar acessórios depois da Casa de Lições.
Eu só posso estar louca. Estou me abrindo para um relacionamento, ainda que seja de amizade, isso é algo arriscado, não? Bem, como Bianca mesma disse, eu dou passos de fé todas as vezes que aposto. Mas quando eu aposto, o máximo que posso perder é dinheiro. Se eu perder essa aposta, posso perder para sempre os cacos que restaram da minha sanidade.
Mas eu quero o risco, eu quero correr o risco de ter minha sanidade destruída se for para ter a amizade de Bianca. É por isso que digo: estou completamente louca.
Chegando na Casa de Lições, ainda faltavam quinze minutos pra aula começar, e as outras meninas vieram falar com Bianca, por outro lado, todas me ignoraram, exceto Tábita que não estava, e Ada que me perguntou se eu estava bem. Provavelmente ficaria marcada pelo resto da vida como uma delinquente.
- Bianca! - Julya apareceu e a abraçou superficialmente. - Eu, Lucy e Dayana vamos ao lago depois daqui, quer vir junto?
Bianca sorriu, por um momento achei que ela fosse aceitar e simplesmente ignorar nosso compromisso, porém ela balançou a cabeça e surpreendentemente pegou na minha mão.
- Não vai dar hoje, já combinei com a Sophia de ir fazer compras, não é Sophia? - Bianca indagou me encarando gentilmente, e apenas assenti meio surpresa por ser priorizada nesse sentido.
Julya torceu os lábios.
– Ultrajante. Prefere ir com essa delinquente do que comigo? - Julya alfinetou. - Eu não sairia com uma rata de rua. - Ah pronto. Aí ela me tira do sério, essa tola entra em uma discussão pedindo uma surra.
- Olha, você fala demais pra alguém que não se garante no soco. - Ameacei, indo para frente de Bianca com uma expressão intimidadora.
- Sophia, acalme-se. Não deixa ela te provocar. - Bianca passou o braço na minha frente. - Julya, pare com isso. Você tem se comportado de forma péssima com a Sophia.
- Eu não tenho culpa se tudo irrita ela. Se nossa sociedade é tão irritante, talvez ela devesse voltar ao buraco de onde veio. - Julya lançou mais uma farpa, cruzando os braços em frente ao peito. Eu estava quase saindo do sério quando…
- Já basta, Julya. - Arthur, o agente da paz. Ele chegou há tempo de me impedir de fazer uma bobagem. - Sabe que Sophia veio de um ambiente diferente, não deve provocá-la. Esse tipo de comportamento me decepciona.
A expressão de Julya foi impagável, ela ficou pálida e os lábios tremeram de nervoso, eu via medo nos olhos dela. Será que…?
- Me desculpe por minha insolência, professor Arthur! - Por que ela chama ele de Arthur se é só uma aluna? Não seria o certo chamá-lo de professor Freitas? Ela baixou a cabeça, parecia não conseguir encará-lo - Prometo que vou me comportar, me perdoe. - Ela pegou as mãos de Arthur entre as dela. Por que ela do nada ficou dengosa e toca nele de forma tão casual?
Arthur sutilmente afastou suas mãos das dele e levou uma ao cabelo e outra para trás das costas. Sua expressão se mantinha séria mesmo diante dos modos daquela oferecida.
- Espero que sim. Se comportem enquanto esperam a madame Beauvoir chegar. - Arthur orientou, Julya o encarava enquanto ele virava as costas e saía, e então, ele se virou levemente, me encarou e me deu um pequeno sorriso que me fez corar levemente.
Julya cerrou os punhos. Acho que entendi o que acabou de acontecer…
- Eu percebi que você logo iria perder o controle se o professor não chegasse. Mas não se empolgue muito, eu vou fazer todos compreenderem que seu lugar não é aqui, rata de rua. - Julya ameaçou, e isso me irritaria se eu não tivesse uma arma pra usar. E enquanto ela ia virando as costas, eu resolvi jogar lenha na fogueira:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Resplandecer [COMPLETO]
Romantik[REPOSTADO] Dedico essa história a todos aqueles que já foram marginalizados. Por ser órfã, introvertida e ter olhos de cores diferentes, Sophia Corabelle sempre comeu o pão que o diabo amassou, sofrendo violência física e psicológica de todos à sua...