As batidas na porta vinham de tempos em tempos. A primeira foi Bianca me chamando para ir à Casa de Lições, mas naquele dia eu não iria para lugar algum. Depois foi tia Vivian vindo trazer algo para eu comer, que de primeira eu recusei. Por mais que eu sentisse fome, eu não queria comer absolutamente nada.
Depois ela me ofereceu comida novamente e eu aceitei. Meu estômago já estava doendo, eu precisava comer imediatamente. Mas ainda assim comi no quarto e disse que não queria conversar ou sair daquele cômodo.
Eu chorei por quase todo o tempo em que estive lá, lembrando de como agi ontem, de como magoei Deus e como eu ainda sentia um ódio excruciante por meu pai. Eu estava definhando com aquela dor em meu coração, que me corroía a cada segundo. Isso durou por cerca de dois dias.
Já era noite quando ouvi mais duas batidas na porta.
- Sophia - eu ouvi a voz de Tábita e me surpreendi. Por que ela estava aqui? Será que Arthur estava com ela? Eu não queria que ele me visse assim. - Sophia abre a porta. Eu quero falar com você. Eu não vou te julgar, por favor só abre a porta.
Eu estava sentada na cama abraçada aos meus joelhos. Os lençóis e travesseiros estavam todos jogados pelo chão, eu havia desarrumado a cama em um acesso de raiva.
- Tábita, vá embora. - Mandei, com a voz embargada.
- Desista. Eu não vou embora até me deixar entrar e falar com você. - Tábita declarou, determinada.
- Tábita, vá embora! Eu não quero ver ninguém! Me deixe aqui, eu quero ficar sozinha! - Gritei, sentindo minha garganta arranhar.
- Sophia, não vai adiantar nada se trancar em um quarto. - Dessa vez a voz era de Bianca. - Eu contei a situação para Tábita e ela está preocupada com você.
- Quero apenas conversar com você e te dar uma solução. Você precisa de ajuda, então deixe de lado o orgulho e me permita entrar! Eu soube que você teve um ataque de raiva. Você não está bem e a pior coisa quando se está assim é se isolar. Somos irmãs em Cristo, devemos cuidar umas das outras. - Falou Tábita, sua voz permanecia calma. - Por favor, me deixe entrar e cuidar de você.
Lágrimas escorreram pelos meus olhos. Eu precisava de uma ajuda imediata, ou definharia lentamente até a morte naquele quarto.
Eu saí da cama aos tropeços e fui até a porta enquanto enxugava minhas lágrimas. Eu pude ver os rostos sérios de Tábita e Bianca. A ruiva assentiu satisfeita e olhou para Bianca.
- Eu assumo daqui. Me deixe conversar a sós com ela. - Tábita pediu, Bianca assentiu e saiu.
Dei passagem para Tábita e ela adentrou no meu quarto, puxando uma cadeira perto da porta, enquanto eu me sentei na minha cama.
- Sophia, eu quero saber a sua versão. Me diga o que exatamente ocorreu ontem depois que você voltou para casa.
Contei cada detalhe para Tábita, que ouvia atentamente.
- Então seu pai…
- Ele não é meu pai. - cortei-a.
Ela suspirou.
- Então Jean Marques se converteu e veio buscar seu perdão. Por que não o perdoa? - Tábita questionou.
Eu suspirei, e senti as lágrimas voltarem.
- Eu não consigo, Tábita. - Meu rosto foi banhado por quentes lágrimas. Dizer essa frase me doía de uma maneira difícil de compreender. - Eu não consigo olhar nos olhos de Jean Marques e sentir algo além de ódio. Ele foi o responsável por tudo de ruim que já aconteceu na minha vida, o que não é pouca coisa. - Eu falei, com a voz embargada sumindo aos poucos.
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Resplandecer [COMPLETO]
Romance[REPOSTADO] Dedico essa história a todos aqueles que já foram marginalizados. Por ser órfã, introvertida e ter olhos de cores diferentes, Sophia Corabelle sempre comeu o pão que o diabo amassou, sofrendo violência física e psicológica de todos à sua...