Passei uma fita de cetim vermelha pelo meu cabelo, amarrando-a de lado. Já era manhã do segundo dia depois do aparecimento de George Marques, e da minha oração. Eu ainda esperava a carta com expectativa, e me repreendia pela infantilidade de esperar um sinal divino. Me arrumava para a casa de lições, ansiosa pela aula de xadrez, quando recebi batidas na porta do meu quarto.
- Entre. - Pedi.
Uma criada adentrou ao meu quarto com um envelope em mãos, que encarei com curiosidade.
- Com licença, essa carta é para a senhorita. - Ela me estendeu, eu engoli em seco e tomei a carta em minhas mãos, encarando analiticamente o envelope. Seria essa a carta de George Marques, depois de dois dias? - Precisa de algo, senhorita?
Eu levantei enfim os olhos, deixando o mundo do meus pensamentos.
- Não, pode ir. - Falei. A criada assentiu e saiu, fechando a porta.
Me sentei na cama e olhei o verso do envelope. Suspirei profundamente. Não era de George Marques, o nome da remetente era "Jane Vicente'
Franzi o cenho. De onde eu conhecia aquele nome...
Eu arregalei os olhos.
- Jane? - Indaguei, me recordando da garota cega do orfanato, e então abri rapidamente a carta, começando a ler aquela caligrafia que eu não reconhecia, e que com certeza não poderia ser a dela.
"Olá Sophia. Eu pedi para que a diretora escrevesse essa carta para mim. Eu estou doente. Um médico me examinou e eu estou com uma doença cardíaca séria. Na verdade eu já estava, mas meu quadro se agravou. Mesmo que não fôssemos muito próximas, eu gostaria de te ver de novo, já moramos juntas e você sempre foi gentil comigo. Eu posso não sobreviver, gostaria que me visitasse.
Atenciosamente, Jane"
Eu pisquei os olhos atônita. Joguei a carta em qualquer lugar, peguei dinheiro no meu baú no fundo do guarda roupa e desci rapidamente as escadas até a sala de jantar, onde tia Vivian já servia a mesa de café da manhã com auxílio de uma criada enquanto tio Gilbert estava sentado à mesa. De repente até mesmo as preocupações a respeito de George Marques parecem frívolas, comparadas ao que eu acabara de ler.
Suspirei profundamente. Não posso sair e fazer uma viagem tão longa sem avisar.
- Tio, tia, eu preciso visitar o orfanato. - Eu disparei a falar.
Por que? Por que eu precisava tanto ver Jane? Por que me preocupava tanto a possibilidade daquela garota de quem eu nunca fui próxima falecer?
Talvez porque quando estava no orfanato, ela era o raio de luz que você, imersa em sua dor, se forçou a ignorar.
Ambos franziram o cenho.
- Aconteceu alguma coisa? - indagou tio Gilbert.
Eu engoli em seco.
- Eu recebi uma carta. Uma garota gentil está doente e pode falecer, ela pediu para eu visitá-la. - Falei, ambos entreabriram os lábios em surpresa. - Eu não sei porque ela quer justamente me ver, mas eu preciso ir.
Gilbert assentiu.
- Olha Sophia, vou precisar sair para resolver coisas na fazenda, mas não se preocupe, posso pedir à Bianca ou ao Joaquim que vão com você. - Sugeriu.
Eu balancei a cabeça.
- Prefiro ir sozinha, não precisa. - Recusei.
Tio Gilbert suspirou profundamente.
- Tem certeza? Vai ficar bem? - perguntou. Eu assenti com a cabeça. - Então vá com cuidado.
Eu assenti e saí.
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Resplandecer [COMPLETO]
Lãng mạn[REPOSTADO] Dedico essa história a todos aqueles que já foram marginalizados. Por ser órfã, introvertida e ter olhos de cores diferentes, Sophia Corabelle sempre comeu o pão que o diabo amassou, sofrendo violência física e psicológica de todos à sua...