Essa era a primeira vez que entrar em um hospital me deixava tão nervosa. E isso é surpreendente, considerando que eu já estive em hospitais em circunstâncias bem ruins, e em hospitais bem piores que esse. Eu não poderia me esquecer de quando fui acometida por uma pneumonia, nem por uma infecção intestinal que provocou uma das dores físicas mais agonizantes que pude sentir.
Eu daria tudo naqueles dias para ter dez por cento do apoio que Arthur estava tendo no hospital. Eu estava com Tábita e Maria na sala de espera enquanto ele recebia a visita de alguns membros da igreja. Eu não conseguia vê-los muito bem, a sala de espera estava longe, mas pude ouvir certa cantoria, provavelmente cantaram louvores para alegrar Arthur. A cantoria acabou e esperei mais alguns minutos antes de começarem a sair da sala. Entre os membros da igreja que saíram, estavam o senhor e senhora Damasceno, e como se não bastasse, a filha patética deles.
A mãe de Julya me encarava com ar de superioridade, enquanto o sr. Damasceno conversava com outros homens. As mãos de Julya se apertavam com força, o olhar dela era recheado de raiva.
Alguns membros da igreja me reconheceram do retiro e me cumprimentaram, os que não conheciam falaram comigo por educação, eu sorria de forma simpática, e eles então foram embora. Porém, sra. Damasceno e Julya ficaram para trás, me encarando de cima abaixo com olhar de superioridade. Eu aprendi a não me vitimizar tanto. Essas duas não são melhores que eu, e eu também não sou melhor que elas. Somos podres de maneiras diferentes, mas com gravidade igual. Quero manter isso em mente de agora em diante.
— Por que está aqui? Já não acha que fez o bastante causando o acidente do Arthur? — Julya me alfinetou.
— Acho que ter que te aturar sem poder sair da cama deve ser uma tortura maior. — Rebati, Julya riu sem humor, me encarando com raiva palpável. Tábita sorriu ao meu lado.
— Você é um lixo garota. Por que não se põe no seu lugar, volta para o seu…
— Julya, controle-se. — A mãe a cortou friamente, fazendo a garota encará-la com incredulidade. — Vá com seu pai, quero conversar com a Sophia.
Julya bufou, encarou-me com raiva e saiu andando a passos duros.
Depois eu sou a indelicada.
Sra. Damasceno se aproximou, encarando-me com um sorriso mínimo malicioso.
— Então você voltou. Ficou preocupada com o Arthur? — Indagou com acidez.
Eu espremi os olhos.
— Isso não é da sua conta. — Retruquei.
— Bem garota, se eu fosse você, ouviria meu conselho. Arthur se machucou porque tentou te impedir de seguir seu caminho. — A voz dela era macia, eu sentia como se ela pudesse falar diretamente com a minha alma e a frequência da sua voz pudesse manipular minhas ações, eu senti isso quando falei com ela pela primeira vez.
Mas agora… ela não tem mais esse poder. Eu não permito mais que ela tenha.
— E o que você sabe sobre meu caminho? — Eu me aproximei, encarando-a no fundo dos olhos sem hesitar. Ela entreabriu os lábios surpresa e desviou o olhar. — Você sequer consegue olhar nos meus olhos porque pra você eu sou um monstro. Você acha que por eu ser diferente eu não posso querer as mesmas coisas que essas garotas tem ou vão ter, mas a realidade é que você só enxerga superfícies e nunca, nunca poderá ver a profundidade dos meus anseios.
Ela riu sem humor.
— Seus olhos são tenebrosos. Você acha que tem o potencial de conseguir um bom casamento? De ser uma boa esposa e mãe? De sequer ser boa na alta sociedade? Garota, sabe-se lá o que você já fez na rua, não entendo o que Arthur poderia ver em você que não veja na minha filha Julya. — Ela me olhou de cima abaixo.
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Resplandecer [COMPLETO]
Romansa[REPOSTADO] Dedico essa história a todos aqueles que já foram marginalizados. Por ser órfã, introvertida e ter olhos de cores diferentes, Sophia Corabelle sempre comeu o pão que o diabo amassou, sofrendo violência física e psicológica de todos à sua...