Capítulo 13: George Marques

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2 meses. Era esse o tempo que havia se passado desde a minha chegada na cidade, depois de uma vida de sofrimento  naquele maldito orfanato. As coisas haviam mudado drasticamente, de forma que a velha Sophia jamais poderia imaginar. 

Eu fui à igreja algumas vezes, afinal, eu havia prometido a Arthur que iria tentar. Apesar de ainda achar tudo bem entediante, muita coisa não fazer sentido para mim, e eu frequentemente revirar os olhos em sermões que parecem ser todos iguais. Por isso raramente apareço nos cultos apesar de sempre ser convidada por Gilbert, Vivian e Arthur, que se revelam a cada dia cristãos fervorosos. 

Admito: eu estava temerosa, fugi por achar que essa vida não era para mim, mas a cada dia que convivo aqui, mais me sinto fazendo parte desse lugar. É como se algo houvesse amolecido e descansado em mim. As vezes sinto-me preocupada com isso quando ponho a cabeça no travesseiro, pensando que tudo pode desmoronar a qualquer momento, mas venho buscando aproveitar a felicidade que tem me rondado como nunca antes. Então eu digo para mim mesma que não há o que temer em minha nova vida previsível.

Não tenho uma amizade próxima com a maioria das jovens moças da casa de lições, por outro lado, elas parecem já nutrir algum respeito por mim. Já nos cumprimentamos e somos capazes de conversar normalmente. Algumas admitem que sou agradável. Exceto Julya, com quem ainda tenho uma relação baseada em alfinetadas. Ela está muito determinada a me odiar, e parece que ninguém consegue convencê-la do contrário.

Nos últimos tempos não tenho conversado tanto com Arthur quanto queria. Ele tem se ausentado da cidade com frequência e estado imerso em assuntos de trabalho, ao que parece ele trabalha exportando café. Admito que sinto falta desse irritante futuro pastor quando ele está longe, e quando ele está disponível, tem muito mais gente que também quer conversar com ele. Então o máximo que consigo muitas vezes é trocar poucas palavras, às vezes apenas uma breve reverência. Sinto falta da atenção que recebi quando cheguei aqui, admito que talvez esteja enciumada. Por isso, aproveito a oportunidade de ver ele todas as segundas e quartas, quando ele vai ensinar teologia e xadrez na casa de lições. 

E aliás nesse momento…

– Xeque mate. - Eu sorri, olhando para Tábita com olhar vitorioso.

Tábita riu sem humor.

– Inefável. Nem sei porque ainda tento. - Ela falou frustradamente, tombando seu rei. As outras moças e rapazes olhavam surpresas para nós. - A única pessoa que consegue te vencer aqui é meu irmão.

– E ela me dá trabalho. – Arthur brinca, enquanto move uma peça em sua partida contra Bianca. Ele estava sentado na mesa logo à frente, de costas com as costas de Tábita. – As outras moças deviam procurar a srta. Corabelle caso se interessem por xadrez e literatura, há muito que podem usufruir de sua experiência.

Julya riu de escárnio, na mesa próxima à que eu estava.

– Realmente. Talvez também possa nos dar dicas de mulheres maduras para conseguir um bom cortejo, imagino que já tenha vencido muitos homens no puro charme feminino, não é mesmo Sophia? – Julya alfinetou com um sorriso falso. Mesmo já estando acostumada, às vezes ainda dá vontade de voar no pescoço dessa víbora.

– Julya, sua pergunta soou bastante inapropriada. Insinua que Sophia é lasciva? – Tábita questionou-a por mim, fazendo Julya apenas arquear uma sobrancelha e se voltar novamente para a própria partida.

– Não estou insinuando nada. Apena deduzi que em seu meio desprivilegiado, Sophia com certeza usou de sua beleza para alguma coisa. - Julya deu de ombros. – E eu não culparia uma pobre órfã por isso. – Ela dizia com falsa virtude.

Eu ri sem humor. Não vou dar a ela o gostinho do meu estresse.

– Não, pode crer que não. Eu abri o intelecto o suficiente para não precisar abrir as pernas. - Eu sorri, me sentindo satisfeita com os olhares chocados. – O máximo que fiz foi vencer pessoas de ego elevado que me subestimaram por minha juventude. 

Resplandecer [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora