Capítulo 8: Por Bianca, e pelo xadrez

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— Não, eu não tenho interesse. — Me posicionei firmemente. Onde Gilbert, Vivian e Bianca estão com a cabeça para me propôr uma coisa dessas?

— Sophia, por que tanta resistência em viajar com os jovens da igreja? Vai ser muito bom pra você se enturmar! — Vivian argumentou, suplicante. 

— O problema é esse, eu não sou sociável e a maioria dos jovens já não tem boas impressões de mim, eu me sentiria completamente deslocada. — Protestei.

Gilbert suspirou.

— Eu entendo, mas você não estará sozinha lá. A Bianca vai, e também vai ter o Arthur e a irmã dele, a Tábita. Soube que vocês se aproximaram mais. — Gilbert aventou. — Vamos Sophia, pode ser uma oportunidade para as pessoas terem um olhar diferente sobre você. Sei que por trás dessa roupa preta e desse comportamento arisco tem uma boa garota que deseja fazer amigos. 

— Eu não teria tanta certeza assim. — Comentei, sarcasticamente.

Bianca fez beicinho. 

— Ai Sophia, por favor. Eu vou me apresentar na peça do retiro e eu já estou super nervosa, ter você lá me daria um ânimo! — Ela aventou, cruzando as mãos na frente do rosto. — Por favor, não me abandona nesse momento priminha!

Gilbert suspirou. 

— Sophia, acho que nunca falamos sobre, mas a Bianca é muito tímida, se não fosse a Tábita ser amiga dela desde sempre, ela seria isolada entre as garotas. Ela se apresentar na peça do retiro é uma grande evolução pra ela, um grande passo, e nem eu, nem a Vivian poderemos estar lá para apoiá-la porque a viagem é para os jovens, e o Joaquim vai estar ocupado também. — Gilbert falou, pegando na mão da filha e massageando-a entre as suas. — Então seria bom que você, como amiga, pudesse apoiar sua prima. Juro que pago sua inscrição.

Eu suspirei profundamente. Acho que se fosse por qualquer pessoa eu não me importaria, mas o fato é que Bianca é minha primeira amiga, e dentre as pessoas da minha idade, é a única além de Tábita que me trata como igual. Então acho que preciso me importar mais com ela do que com a maioria.

Como eu queria ficar em casa, ler meus livros, ir jogar xadrez em algum lugar, fazer qualquer coisa em paz e sossego! Mas não, eu estou realmente cogitando ir numa viagem de igreja –- sendo que eu nem sei se acredito em Deus —, com um monte de jovens com vidas perfeitas que não vão com a minha cara, pra ficar fazendo coisas de crente. E tudo porquê? Porque minha querida prima precisa de apoio. 

Faz só duas semanas que estou nessa cidade e já sinto que estou ficando maluca.

— Certo, eu vou pensar sobre. — Suspirei profundamente.

— Tem algo que talvez te motive mais. — Falou Joaquim, descendo as escadas para a sala. Não sou muito próxima do meu primo porque ele aparentemente vive estudando para uma prova de entrada para uma faculdade, ele mal sai do quarto. — O Sr. Freitas falou que em um dos momentos recreativos vai ter um momento reservado para jogar xadrez. Talvez ocorra um campeonato, e quando ocorre, os vencedores vão se subtraindo e o último tem que enfrentar o Sr. Freitas. — Falou.

Uma luz se acendeu em minha mente. Se realmente ocorrer um campeonato de xadrez, eu tenho a chance de, além de mostrar minhas habilidades, jogar sério com o Arthur. De fato, isso é uma motivação a mais.

E quem sabe, como meus tios falaram, isso não me renda algumas amizades novas?

— Certo, vocês me convenceram. — Eu sorri minimamente. — Eu vou nessa viagem. 

— Ai prima obrigada! — Bianca se jogou do meu lado no sofá e me abraçou com tudo, fazendo meu corpo enrijecer, desconfortável com o aperto, e meus olhos se apertaram com a voz alta perto do meu ouvido. Eu não gosto de toque humano, afinal não tenho muitas memórias de toques gentis, mas apesar disso, o abraço de Bianca pareceu agradável interiormente para mim. Gilbert e Vivian se entreolharam e sorriram, logo voltando a nos encarar com olhares otimistas. — Estou ansiosa, vai ser tão divertido! — Ela enfim me soltou.

Resplandecer [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora