Segunda-feira. No culto de ontem, fui apresentada à igreja, e as meninas da casa de lições que geralmente implicam comigo, Julya, Lucy e Dayana, tiveram a decência de se manter caladas para manter a fachada de meninas boazinhas diante dos líderes. Ah se eles soubessem como fui tratada longe das paredes do templo...
Mas agora, na casa de lições, elas poderiam se soltar o quanto quisessem na arte de encher a minha paciência. Antes de entrar eu pedi ao Senhor que me sustentasse lá dentro em uma atmosfera espiritual para que as tentações da carne não tivessem efeito sobre mim. E eu fiz bem em orar, pois quando eu e Bianca chegamos na casa de lições, Julya foi a primeira a me recepcionar do pior jeito possível:
- Olhe só a nova santinha chegando! - Julya anunciou com falsa euforia, vindo até mim batendo palmas. - Provavelmente daqui uns dias voltará a ser uma rata de rua, quando perceber que Arthur não está nem aí pra você.
- Julya, sinceramente, já deu. - Uma das garotas, Ada, se posicionou. - Ninguém mais aguenta sua implicância gratuita com a Sophia.
- Gratuita? Vocês vão esquecer que ela fugiu duas vezes? Que ela viveu perambulando por aí? - Julya esbravejou para Ada. - Sinceramente Ada, eu não confiaria nessa garota sentada do lado do meu pai na igreja.
Eu suspirei e virei o rosto, decidindo permanecer em silêncio, por mais que meu sangue ferva em irritação. Eu passei por Julya e me sentei na minha cadeira. Eu amo meu Senhor Jesus, não vou magoá-lo por causa de uma vadia que só quer me deixar com raiva para me ver explodir.
- Sophia, não liga pra ela. Ela está tão brava com a própria vida que não consegue ver como está sendo ridícula! - Outra das garotas reforçou, tomando partido ao meu lado.
- Cala a boca, sua insignificante! - Julya gritou com ela, e passou a andar a passos duros.
Julya, com raiva, me seguiu e falou baixo, para apenas eu ouvir:
- Olha, eu vou ser bem direta. Acreditar que Arthur vai querer casar com você é o mesmo que acreditar em contos de fadas. Você pode fingir que não liga, mas eu sei que você gosta dele. - Ela me provocou, com um mínimo sorriso de escárnio. Ela já não tinha a menor sanidade, era digna de pena. - Eu já estudei o ministério da esposa de um pastor, eu seria ideal para ele. Você... você não é nada. - Ela falou, eu contraí os lábios, mas antes que eu pudesse pensar em reagir, alguém se posicionou de forma abrupta:
- Primeiramente -, Tábita se pronunciou, e só naquele momento percebemos a sua presença. Ela tinha o rosto sério, seus olhos verdes eram tão cortantes quanto os de Arthur. - A Sophia não acredita em contos de fadas, porque Arthur não seria tolo o suficiente para não explicar a ela o sentido de "Sola Scriptura", que podemos dizer ser bem básico. - Tábita bronqueou-a, seu tom demonstrava a tentativa falha de disfarçar sua irritação. Eu podia sentir uma sede de sangue em seus olhos, ela poderia arruinar Julya apenas com palavras. - E se depender de mim, Gustavo e Tia Marta, você não chegará nem a ser uma opção para o meu irmão. - Tábita encarava Julya intensamente, eu me assustei. Há quanto tempo ela queria dizer essas palavras?
Eu engoli em seco.
- Tábita... está tudo bem. Ela está certa. É impossível que eu me case com Arthur. - eu falei com certo pesar na minha sinceridade. - Não precisa me defender. É sério. - Desviei o olhar para baixo, com um mínimo sorriso forçado.
- Está vendo Tábita? Nem a rata de rua discorda quando digo que ela não serve para o Arthur. Por que não se contenta de uma vez com o fato de que eu e Arthur somos plenamente compatíveis? - perguntou Julya, olhando para Tábita com olhos provocativos. - Melhor se acostumar com o fato de que seremos cunhadas algum dia. Quando perceber que eu sou digna de se casar com ele, Arthur com certeza me pedirá em casamento.
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Resplandecer [COMPLETO]
Romans[REPOSTADO] Dedico essa história a todos aqueles que já foram marginalizados. Por ser órfã, introvertida e ter olhos de cores diferentes, Sophia Corabelle sempre comeu o pão que o diabo amassou, sofrendo violência física e psicológica de todos à sua...