Capítulo 5: Força de atração

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E então, saindo do trem, eu e Arthur caminhamos sozinhos pela madrugada, me preocupei que talvez as pessoas pudessem pensar asneiras à respeito daquilo, mas Arthur me garantiu que todos sabiam que ele havia ido me buscar. Ele me contou durante a viagem que Bianca havia chamado-o depois que fugi, e ele procurou por mim em Jojoba, até se lembrar do point de apostas da cidade e deduzir que estaria lá, e acabou me encontrando no caminho. 

Eu me senti embaraçada por estar andando sozinha com ele pela madrugada, e comecei a notar o quanto ele era bonito. Devia ter uns 23 anos, tinha um rosto jovem, uma barba bem feita, e o ruivo de seus cabelos à luz dos postes noturnos era incrivelmente lindo. Seus olhos pareciam duas esmeraldas brilhantes feito lâminas, vivas e atentas a tudo. Ele era certamente um dos homens mais lindos que já conheci, por um momento quis que ele também me olhasse como uma linda mulher. 

E então, ele olhou pra mim. Tratei de desviar o olhar rapidamente. O que estava acontecendo? Por que eu estava agindo como uma garota apaixonada? Eu não era assim! Balancei minha cabeça, afastando aqueles pensamentos. 

Ele logo vai começar um seminário para pastor. Não é como se ele fosse olhar para uma garota que sequer tem certeza se Deus existe ou não. Não. Ele quer uma mulher que compartilhe da mesma fé e vá ajudá-lo. Eu não sou sequer uma opção. 

Espera… por que diabos estou pensando se ele iria ou não me querer como mulher? Tenho que imediatamente voltar a ser racional. Isso é impossível, e eu nem sequer almejo me casar.

- Você está bem, Sophia? - indagou Arthur, me pegando de surpresa. Eu assenti com a cabeça, em silêncio. Estávamos chegando perto da casa de Gilbert.

Suspirei. Em alguma camada da minha mente, havia algo que eu queria colocar pra fora:

- Quando eu tinha 14 anos, eu ouvia histórias sobre ele, o cavaleiro Bob, nos points de apostas. Ele era uma lenda, meu sonho era vencer uma aposta contra ele. Eu nutria até mesmo uma certa paixonite tola. - Contei, melancolicamente. - Então quando o encontrei e apostei contra ele, fiquei triste porque perdi e nem pensei que talvez ele fosse um completo mau-caráter quando aceitei uma bebida dele. Hoje em dia eu penso que eu não gostava de um homem, eu gostava de um monstro.

- A idolatria está fadada a nos decepcionar, principalmente quando direcionada a homens. - Arthur constatou. - Quando se deposita a fé apenas no Deus verdadeiro, você pode crer em uma coisa: por mais que hajam aflições, você jamais se decepciona.

Suspirei. Pra mim isso era algo totalmente distante, difícil de compreender.

- Isso… me parece algo muito bonito. - Avaliei, encarando o chão à minha frente, mordendo o lábio. E então, chegamos à casa de Gilbert. - Mais uma vez… obrigada por me buscar e me trazer aqui. 

Arthur sorriu.

- Sempre que quiser conversar, pode me procurar. Me entregue o terno amanhã na Casa de Lições. - Ele falou, piscando um olho para mim.

Enrijeci levemente o canto do lábio. 

- Não acho que eu deva voltar lá. As garotas não vão me receber bem, vou sempre ser marcada como agressiva. - Baixei a cabeça. - Minha presença só vai incomodar todo mundo.

Arthur fez uma expressão compadecida.

- Não tenha medo. Amanhã, Julya e você terão que se desculpar uma com a outra, ela por ter te ofendido, e você por ter batido nela. Depois disso, elas estarão erradas se te julgarem. - Arthur sorriu. - Aliás, eu lhe peço que tente entender Julya. Ela tem 19 anos, é a mais velha das mulheres, e o noivo dela fugiu com outra nas vésperas do casamento faz um ano. Graças a isso, Julya não consegue arrumar um marido, e por isso estuda ao máximo para que possa cursar a faculdade de letras, sendo recomendada pela madame Beauvoir e fazendo uma prova complicada. Acho que a sua chegada roubou a atenção, principalmente pelo fato de você se destacar em português, e por isso ela ficou brava. Perdoe-a pela forma como agiu, por favor.

Resplandecer [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora