Resplandecer
Prólogo.
— Corabelle… onde será que você se escondeu, hein cachorrinha? — Aquela voz intragável… Marcelo assobiou como se chamasse um cachorro. Eu, atemorizada, me escondia com meu corpo infantil embaixo da minha cama, me encolhia o máximo que conseguia fazer e cobria minha boca para não emitir som algum. Eu conseguia ver a silhueta dos pés dele passando tranquilamente, ouvir seus passos, ele se divertia na caçada por mim, se divertia com meu medo. — Olha, você foi uma cachorrinha muito má em derrubar o suco em cima de mim, minha roupa ficou toda suja, e você deveria ter consciência do seu erro e assumir a consequência… não se preocupe, eu não mordo, cachorrinha. — Falou, com um tom ameaçador que me deu mais certeza de que eu não deveria sair dali. Não naquele momento.
— Parece que ela não tá aqui. Pra onde aquela esquisita foi? — indagou Meire uma das garotas que acompanhava Marcelo, enquanto eu lutava para que minha respiração pesada não chamasse a atenção deles. — Será que ela fez algum feitiço com aqueles olhos medonhos dela? — Perguntou.
Eu engoli em seco. Sempre os olhos. Os olhos com cores diferentes, olhos de bruxa. O motivo de me chamarem de cachorra, de me excluírem, de terem medo de mim. Os adultos, as crianças que imitam os adultos… todos com medo dos olhos de bruxa.
Mas sinceramente… tem poucas coisas que me assustam mais que essas pessoas.
— Uma hora ou outra ela aparece. A Sophia vai pagar pelo que fez. — Ouvi os passos se afastando e soltei um suspiro aliviado, porém, sem querer bati as costas na parte debaixo da cama, e além da dor que senti por bater com tudo na madeira quebrada e pregos proeminentes, veio o pavor desenfreado quando ouvi os mesmos passos de antes, só que mais rápidos, mais raivosos, mais cruéis, vindo na minha direção. Marcelo levantou a coberta e sorriu de forma sádica ao me ver.
— Te achei, cachorrinha. — Eu arregalei os olhos, tentei me encolher ali por instinto, mas Marcelo me puxou pelos cabelos na época curtos, me forçando a sair de baixo da cama. Marcelo, em seus treze anos, era seis anos mais velho que eu, gorducho, alto comparado a mim. Ele era inapto intelectualmente, e era fraco comparado a outros garotos. Mas era sádico, bruto. Sempre judiava dos mais fracos que ele. Eu gritei por socorro enquanto ele me arrastava, mas Meire fez questão de tampar minha boca enquanto ajudava ele a me arrastar. Meire tinha 11 anos, era uma garota alta, com uma beleza sempre exaltada por todos, porém ninguém percebia que seu rosto angelical abrigava um caráter demoníaco.
— Fica quieta garota, você vai ter o que merece. — Falou.
Eles me arrastaram à força para o quartinho de limpeza, me lançando ao chão com brutalidade. Marcelo tirou uma meia do bolso, pegou um sabão em barra grande e colocou dentro, enquanto Meire me segurou por trás, garantindo que eu não poderia sair. Eu olhava assustada e as lágrimas saíam de meus olhos enquanto ele amarrava a meia. Eu sabia o que ele ia fazer.
— D-desculpa… eu j-juro… f-foi sem querer… — Supliquei, enquanto me debatia com meu corpo fraco, porém Meire me segurava mais forte.
— Tarde demais, cachorrinha. — Marcelo falou, girando a meia na sua mão, e foi então que veio o primeiro golpe, com tudo na cabeça, me deixando levemente zonza e com uma dor horrível. — Quero ver esses seus olhos de bruxa sangrando.
Ele me bateu com aquela arma inusitada várias outras vezes, a dor na minha cabeça já estava me deixando zonza, mas ele começou a se frustrar por não me tirar sangue. Foi quando ele pegou uma chave inglesa da caixa de ferramentas e bateu na minha cabeça, de forma que senti o sangue escorrendo da minha cabeça, meu ouvido zuniu de forma agoniante e isso foi tudo antes que eu desmaiasse.
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Resplandecer [COMPLETO]
Romantik[REPOSTADO] Dedico essa história a todos aqueles que já foram marginalizados. Por ser órfã, introvertida e ter olhos de cores diferentes, Sophia Corabelle sempre comeu o pão que o diabo amassou, sofrendo violência física e psicológica de todos à sua...