VI

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—Corra! – exclamou a policial em voz alta, tentando não atrair a atenção de outros – Corra, precisamos sair daqui!

Ambos viraram correndo pela parte de trás da cabana e desceram pela encosta. Não ouviam nada, nem olhavam para trás para ver se algo os seguia. Jones corria fazendo semicírculos por entre as árvores e a mulher o seguia.

Em certo ponto, a mesma escorregou em um monte de folhas molhadas pelo orvalho da noite e caiu. Descera rolando por mais de dez metros e caíra em uma ribanceira, batendo com as costas em uma grande pedra no final.

Estava deitada de costas em um córrego e suas roupas estavam molhadas, assim como seu cabelo. Estava também toda suja de folhas e lama. Quando o companheiro chegou, ela já estava em pé. Felizmente não havia quebrado nada e não se ferira além de arranhões. A escopeta ainda continuava em suas mãos, pois ela não largara a arma em nenhum momento.

Batera a mão no coldre da calça e uma onda de alívio lhe passara quando sentira que a arma que ganhara do pai continuava ali também.

Vamos – disse e dali pegaram a estrada logo abaixo.

A caminhonete de Jones estava estacionada no acostamento. Não haviam muitas coisas em sua carroceria e a mulher saltou para ela, dizendo que se alguma das criaturas surgisse, iria impedir que pegassem carona com eles.

O jovem não questionou a ordem da oficial, correndo imediatamente para a cabine e dando partida. O veículo saiu em disparada pela estrada e em sua carroceria Samantha pensava que teria de retornar ali com um destacamento policial para investigarem a floresta e também para reaver a viatura policial que havia sido deixada para trás.

O vento frio da caminhonete em alta velocidade amortecia a dor na perna.

Samantha se sentia exausta e frustrada. Não havia descoberto nada sobre os desaparecimentos e quase morrera investigando. Pior que isso, encontrara criaturas totalmente desconhecidas e estranhas, mais vorazes e mortais que qualquer animal que já tivesse ouvido falar em toda sua vida.

A bela mulher passou a mão pelo rosto retirando um pouco da terra e sujeira que lhe incomodavam. Os cabelos sujos e molhados voavam com o vento. Como estaria a cidade? – pensou ela, insegura. Teriam aqueles monstros chegado até lá também? Quantos seriam? De onde tinham vindo?

Não tinha certeza, mas tinha medo de que o pior pudesse estar acontecendo ou mesmo já ter acontecido. Aquele aperto em seu peito era assustador.

A policial estava exausta, quase cochilando quando seus olhos castanhos arregalaram vidrados. Ao longe, há mais de duzentos metros ela vira o predador. Era outra daquelas criaturas, estava correndo em meio à estrada, seguindo-os.

A jovem bateu com força contra o vidro da janela traseira da cabine e berrou para que Jones acelerasse. Não foi preciso dizer o motivo. O motorista arrancou com força e ela quase perdeu o equilíbrio com a potência da caminhonete 4x4 em sua total velocidade. Mesmo assim o monstro continuava avançando, aquele ser cruel e mortal cada vez mais próximo.

Embora soubesse que as chances de acerto eram pequenas, Samantha apanhou o rifle de Jones que tinha consigo e tentou mirar, atirando tanto quanto podia. O predador não se esquivara, era um monstro sem inteligência, não tinha noção do estrago que ela pretendia causar. Ainda assim nenhum tiro o atingira, a caminhonete balançava demais e a policial não conseguia fixar a mira com o sacolejar, todos os disparos tinham variado e perdido o alvo.

Quando o monstro se encontrava a menos de dez metros Samantha sacou a Beretta, sabia que naquela distância era impossível acertar com a escopeta também. Mesmo com a pistola, acertar um alvo se equilibrando em cima de uma caminhonete em movimento parecia impossível, não importava o quão hábil ela fosse como atiradora. Inevitavelmente, o predador chegaria até eles.

A policial batera novamente no vidro da janela traseira da cabine e berrara para que Jones se preparasse, pois a criatura os estava alcançando rapidamente e logo estaria em cima deles.

Quando o monstro se encontrava a menos de dois metros da caminhonete, Samantha percebera em meio à escuridão as manchas de sangue em seu peito, bem como as marcas de queimadura causadas pela escopeta poucos minutos atrás. Era o mesmo monstro que ela acertara sobre a sacola de armas e agora, em campo aberto, se notava que era maior que os outros em que atirara antes.

A criatura saltou ao mesmo tempo que Samantha sacou e disparou com a escopeta. O disparo acertou o monstro em pleno ar, mas mesmo assim ele ainda caiu agarrado à parte traseira do veículo, começando a subir.

Samantha encarava aqueles olhos amarelos enormes da criatura diante de si, claramente injetados por fúria e ódio sem limites. A besta escancarou a boca com duas fileiras de dentes brilhantes e pontiagudos, cuspindo ainda um tipo de gosma pegajosa que acertou a perna exposta da mulher. Pega de surpresa sem qualquer chance de evitar, a policial sentiu repulsa, embora não tivesse tempo para se preocupar com tal coisa naquela situação.

Samantha sem pensar disparou com a escopeta contra o olho da fera, que parecia ter se ferido dessa vez. Mesmo assim, o monstro conseguiu saltar para dentro da carroceria onde ela estava. Instintivamente a policial se virou e em um ato completamente ousado, se lançou pela lateral do veículo em movimento e entrou na cabine pela janela do passageiro, que felizmente estava aberta nesse momento. Jones a encarou e a mulher começou a berrar, chorando.

—Ele... ele... – as palavras não saíam devido ao desespero, aos soluços e a falta de ar – ...ele está aqui, na caminhonete, eu não consegui detê-lo!

Não foi preciso que a mulher dissesse muito mais, um estrondo forte no teto fez com que ambos olhassem para cima ao mesmo tempo. As marcas de quatro cortes apareceram e isso era péssimo, a criatura estava logo acima deles, acima de suas cabeças. Se era possível ficar pior, aquela era a hora para isso.

Antes mesmo que tivessem tempo para assimilar o que acontecia, o vidro do para-brisa do lado da mulher trincou-se fazendo o perfeito desenho de uma enorme teia de aranha. O rapaz lutava com o volante enquanto tentava manter o controle da caminhonete dançando pela estrada.

—Eu tive uma ideia!!! – gritou ele.

—O quê?! – a jovem tentava entender, sem tempo para ficar pensando.

—Eu tive uma ideia, é a nossa única chance, você tem que saltar!!! – ele berrou novamente.

—Do que está falando? O que vai fazer?

—Você tem que saltar, vai entender depois, salte!!! – gritou o rapaz enquanto empurrava a mulher contra a porta. Samantha não contestou, o amigo segurava a direção com a mão esquerda e a espremia contra a porta com a outra.

Apavorada e incapaz de pensar ou reagir a mesma simplesmente destravou o pino de segurança e se deixou ser lançada para fora. Só então deu-se conta de que a caminhonete se deslocava a mais de 80km/h naquele momento.

Felizmente ela não caiu no chão de imediato. Sentiu seu corpo leve voando pelo ar, talvez levada pelo vácuo e então chocou-se contra uma superfície macia. Na verdade, havia sido arremessada sobre o acostamento, caindo em um monte de arbustos no início da floresta escura. Depois de sentir seu corpo rolar por alguns metros, a mulher enfim parou de barriga para cima no chão de folhas e terra. Não conseguia se mexer e isso a apavorava ainda mais.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora