XXXIV

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Zack desceu os lances de escada na frente. Não haviam zumbis ou qualquer outro tipo de inimigo na sala onde estavam há poucos minutos. Por outro lado, o som de tiros vindo da rua indicava a encrenca na qual Lancaster havia se metido. Quando os dois saíram pelo buraco aberto na parede derrubada viram a verdadeira gravidade da situação: centenas de zumbis vindo de todas as partes, incluindo alguns maiores que eles não haviam encontrado antes. Zack seguiu o som dos disparos em meio ao barulho da chuva e localizou a criatura de antes perseguindo o amigo em um cruzamento logo abaixo do prédio onde estavam. Uma ideia louca ocorreu-lhe e ele apontou a pistola atirando em diversos infectados mais próximos.

A ideia era atrair a atenção para si. Pretendia atrair mais a atenção do líder da equipe que dos monstros, mas aparentemente todos o haviam notado ali.

Assim que Lancaster viu Zack e Samantha fora do prédio sua intenção era chegar até o amigo para enchê-lo de socos. Como assim Zack estava ali fora com a policial? Ele não havia dado ordens específicas para que o mesmo levasse a mulher ao topo do prédio? De qualquer forma agora precisava de um plano B, uma vez que estavam todos envolvidos até o pescoço naquele inferno.

Zack fazia sinal para o líder apontando a lateral do prédio e o mesmo logo entendera o recado. Havia uma escadaria de incêndio com pouco mais de meia dúzia de zumbis embaixo por onde os mesmos poderiam subir até a parte mais alta. O problema era que ele estava cercado das criaturas e quase sem munição. Além disso, havia aquela coisa enorme o seguindo e aquilo não apenas era imbatível para eles como também poderia colocar a escadaria abaixo.

Lancaster aguardou um instante e correu entre os infectados. Eram lentos e ele podia facilmente empurrar os mais próximos derrubando-os sobre os demais em efeito dominó. Seja lá o que acontecesse, ele sabia que não poderia mais voltar com os outros. Mas até o último instante ainda faria todo o possível para se certificar que haviam conseguido escapar.

Samantha estava pouco atrás de Zack. Por todos os lados haviam infectados vindo de encontro a eles. Alguns eram lentos, outros nem tanto. A mulher sentia a cabeça girar como se seu cérebro fosse feito de algodão molhado. O corpo continuava mais pesado do que ela estava acostumada e agora sentia-se quente, como se estivesse dentro de uma sauna, mesmo com a chuva forte que caía e o fato de estar seminua. Ela tinha certeza que morreria ali e o pior, sentia que havia arrastado aqueles homens com ela. Mas acima disso tudo seu coração estava tomado por ódio. Ódio de um amigo de infância, alguém por quem talvez até tivesse sido apaixonada em sua adolescência. Johnny. Maldito Jones. Seu pai e seu irmão estavam mortos por causa dele. Todos os seus amigos provavelmente também estavam e os que não estivessem estariam mortos em breve. Mesmo se sobrevivesse ela não saberia como viver depois daquilo, depois daquela noite. Sua vida, a vida que ela conhecia estava terminando ali, em meio aos monstros.

Tudo que eu queria era poder acordar, acariciar o gato que nunca mais vou ver. Lembrar disso tudo como se fosse um sonho ruim. Um terrível pesadelo.

Um segundo depois do pensamento ela abriu os olhos. Apoiou todo o peso do corpo na perna direita e endireitou-se em pé. Lancaster estava correndo em sua direção, mas ela sequer notava. Zack estava quase ao seu lado, mas ela não dava mais atenção para ele também. Havia um último objetivo em sua mente e ela precisava de um minuto de calma para processar. E finalmente conseguiu. Johnny.

Quando Samantha viu o sujeito próximo de uma van vermelha a mesma gritou seu nome e correu ao seu encontro. Lancaster e Zack pararam para olhar para a policial que corria no sentido contrário de onde estavam indo. A mesma corria e atirava. Jones começou a rir quando aquela criatura com o traje de couro negro correu e se colocou entre eles.

—Esqueci de mencionar – berrou o sujeito para ser ouvido com o barulho da chuva – Esse é meu guarda-costas, Berseker T-002. Ele é uma das experiências bem-sucedidas executadas por meus "associados" – ele fez questão de dizer associados pausadamente – Você acha mesmo que eu permitiria que vocês saíssem daqui com tudo que sabem? Não é nada pessoal, Sammy – continuou saindo de trás da criatura – Mas não posso permitir que estraguem tudo. Depois da queda quem irá reconstruir essa cidade sou eu.

Samantha e o sujeito estavam a pouco mais de quatro metros, no entanto o Berseker estava a um metro dela. Era o fim, ele tinha razão. Em quase tudo.

—Você estragou tudo quando aceitou vender nossa cidade, nossos amigos, nossas famílias, Johnny – disse ela – E está muito enganado, isso é totalmente pessoal – concluiu erguendo a Beretta e atirando ao mesmo tempo em que a criatura a atingia com um soco.

A mulher caíra alguns metros para trás, bem aos pés de Zack que agachara mais uma vez para socorrê-la naquela noite.

—O que foi que você fez? – perguntou ele a abraçando.

—Fiz o que precisava fazer.

Jones caíra bem ao lado do pneu frontal da van, do lado do passageiro. A camiseta branca ensopada pela chuva estava rebocada de vermelho. O mesmo tocava o peito com as duas mãos, em seus olhos a expressão era de alguém inconformado. Johnny tentava falar, mas estava afogando-se no próprio sangue que subia pela garganta.

Lancaster correu ao lado de Zack atirando nos zumbis que se aproximavam enquanto o amigo erguia a mulher nos braços.

—Leve ela pela escadaria. Vá rápido. Veja se dessa vez faça o que eu digo! – berrou.

—Dessa vez você vem conosco. Ninguém mais fica para trás – respondeu o soldado pouco se importando se era uma ordem do responsável pelo comando da equipe. Àquela altura do campeonato não havia mais patentes entre eles.

O Berseker, como agora sabiam que ele se chamava, começara a atacar os zumbis ao seu redor e os mesmos passaram a atacá-lo como se o mesmo fosse um inimigo. Em poucos instantes a criatura caíra de joelhos com dezenas de infectados sobre ele.

—O que está acontecendo? – perguntou Zack.

O líder respondeu.

—Seja lá o que for, acredito que ele era controlado pelo amigo de Samantha. Com a morte do sujeito a criatura perdeu o controle. Posso estar errado, é o que penso, não sei porque os outros infectados o estão atacando também, mas...

Os dois soldados arregalaram os olhos como crianças. O Berseker levantou-se com tamanha força e violência que diversos zumbis foram arremessados longe. A roupa de couro antes colada ao corpo começava a rasgar-se enquanto partes internas do monstro saltavam para fora. Ossos, músculos, pele, sangue. A criatura estava sofrendo mutação.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora