Ato 2 - Mergulhando nas Trevas

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Os galhos longos e finos das velhas árvores que margeavam a estrada lembravam mãos com seus dedos esguios abraçando tudo ao seu redor. Na noite sem lua nem estrelas uma luz sinistra e sombria surgia por trás da velha floresta, tornando-a um cenário de fundo aterrorizante como se fosse um realístico filme de terror. A velha viatura policial corria a toda velocidade, seu motorista dirigindo como um filho avisado de última hora sobre a morte do pai em um estado distante, correndo para uma última despedida em poucas horas.

Em meio à escuridão a única luz presente eram os faróis do carro que iluminavam pouco à frente, como os olhos de um lobo ferido em busca de abrigo e repouso. Pela janela, o frio cortante que havia do lado de fora penetrava aos poucos no interior do veículo, tocando a face da jovem como as garras gélidas e letais da morte. Samantha já havia explicado ao companheiro sobre o caso de antes uma dezena de vezes.

Era difícil convencer alguém sobre a existência de monstros ou demônios, principalmente uma pessoa em sã consciência e em seu estado racional perfeito. Mas a jovem sabia o que havia visto e seu coração ainda disparava apenas em lembrar das criaturas que quase lhe haviam ceifado a vida não muito tempo atrás.

—Samantha, você tem que me ouvir, a cidade... ela – começou a dizer o sujeito ao volante do carro – Acredite, a cidade não está como você se lembra dela... as pessoas, elas não estão normais, elas não são mais elas mesmas... aquelas coisas, eu não sei dizer, não sei dizer se são ou não as pessoas que nós conhecíamos...

Os olhos da mulher estavam com olheiras roxas e avermelhados de tanto chorar. Samantha sabia que o que quer que o policial Johnson tivesse para lhe dizer seria tão assustador quanto aquilo que ela mesma já havia experimentado naquela noite. Seu olhar estava fixo na estrada, no facho de luz estreito criado pelos faróis do carro em meio à neblina intensa que se formava naquela escuridão. Queria poder afastar os pensamentos ruins da mente, mas mal conseguia olhar pela janela lateral do veículo com medo que uma das criaturas de antes estivesse os seguindo. Seus dentes batiam, tremendo de frio e medo.

Johnson não movia o olhar também, estava com o semblante sério, frio. Era estranho para a mulher que sempre o vira sorrindo e sendo gentil com todos. De alguma forma, Samantha se identificava com ele mais que com todos os outros na delegacia, pois ambos sempre procuravam ser atenciosos com as pessoas em geral, mesmo nos casos mais difíceis.

Algumas vezes uma gentileza pode ser mais eficaz que a dureza, da mesma forma como muitas vezes a pena já se provou mais poderosa que a espada, não é verdade? – dizia sempre o sujeito. Mas não era mais aquele sujeito sentado no banco de estofado esfolado do velho carro, ali havia um homem distante, um homem que mesmo sem saber como ela estava tinha vindo até ali apenas para procurar por ela e descobrir se ela estava bem, um homem que Samantha sentia orgulho em ter conhecido.

Qualquer que fosse a explicação sobre o estado da cidade, a policial não esperava por coisa boa, no entanto, criara coragem para perguntar ao amigo sobre o que ele estava falando. Por um momento fora como se o homem fosse pego em um sonho distante, pois levara um susto quando a mulher lhe tocara o ombro, fazendo o carro dançar na estrada.

Pediu desculpas e explicou que sua mente ainda estava, de alguma forma presa no terror que vivera pouco tempo antes. Apenas aquelas poucas palavras já eram o suficiente. Samantha sabia que não fora apenas ela que vira o inferno de perto. Johnson refletira por um momento, depois olhara para a amiga com o canto dos olhos e então começara a falar.

As palavras do sujeito se amontavam na mente de Samantha com imagens fantasmagóricas como se ela estivesse vivenciando cada detalhe.

O policial explicara que logo ao receber a ligação da mesma pedindo para que fosse assumir seu turno, começara a se trocar e se preparar para sair mesmo antes de ela desligar o telefone.

Dissera que sentira em sua garganta um nó que lhe prendera a respiração no mesmo instante, de alguma forma ele sentia que algo estava errado. Estavam prestes a entrar em um pesadelo de proporções magnânimas e Johnson de algum modo sabia disso. Acelerando pelas ruas, havia chegado à delegacia menos de quinze minutos depois de desligar o telefone.

Viera com o jipe que possuía levantando voo nas lombadas que encontrava pelo caminho. Assim como esperava, ela havia saído em uma das viaturas que ficavam reservadas para emergências, deixando a outra na vaga ao lado da entrada. Tão logo que estacionara o jipe saltara do veículo e entrara na viatura, mudando-a de lugar, deixando-a estacionada na rua para o caso de precisar sair dali às pressas. Entrara no prédio e fora até o armorial, apanhara algumas armas e as colocara no veículo, da mesma forma como Samantha já havia feito antes.

Voltara para dentro do prédio e se sentara naquela mesma cadeira de frente para a mesinha com o relógio digital sobre ela. Ficara imaginando o que teria acontecido, como a amiga estaria naquele momento? Samantha era impulsiva demais, talvez devesse ter esperado por ajuda.

O tempo passou, um minuto tornou-se dez, dez tornaram-se meia hora e por fim mais de uma hora havia se passado. O tempo de repente pareceu voar e mesmo que não tivesse sequer cochilado, quando menos percebera o relógio marcava vinte e três e trinta. O sujeito havia acabado de se levantar quando foi puxado de volta para a realidade pelo som de tiros do lado de fora do prédio.

Não apenas um tiro, mas muitos.

Instintivamente Johnson empunhou sua arma e correu na direção da porta, mas antes mesmo de chegar à saída, Hilton e O'Larry entraram correndo, suas armas também em punhos. Hilton, que havia entrado por último, virou socando a porta. Ambos eram policiais da delegacia, assim como Johnson e Samantha. Estavam com os olhos esbugalhados, assustados e respirando com dificuldade.

Nem era preciso perguntar para saber que haviam corrido sem parar pelas ruas da cidade. Para homens com treinamento militar, pareciam assustados e aterrorizados com alguma coisa. Quando interrogados pelo policial de plantão, os mesmos explicaram de uma forma que era quase impossível se acreditar.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora