IX

12 2 3
                                    


Segundo eles, as pessoas pelas ruas estavam se atacando. Atacavam-se e se mordiam com voracidade, furiosamente, como se tentassem devorar umas às outras. Hilton havia sido mordido por um sujeito no bar onde estavam, tentando de todas as formas possíveis evitar o confronto, mas o sujeito que havia atacado só parou após levar dois tiros. O mais inacreditável era que diziam que o homem ainda se levantou, mesmo após levar dois disparos no peito à queima-roupa.

E segundo explicavam as ruas estavam tomadas por pessoas daquele jeito, mesmo com tiros estava sendo impossível pará-los.

Johnson mal acreditava no que estava ouvindo, no entanto, era impossível questionar os dois com os fatos praticamente estampados em seus semblantes. Hilton se sentou em uma cadeira, dizia estar com terríveis dores pelo corpo e se sentia queimando por dentro, como se tivesse uma febre incontrolável.

Também o local onde o vândalo o mordera ardia como se estivesse sendo marcado com um ferro em brasas. Os companheiros não sabiam o que fazer. O policial de plantão lembrou-se de Samantha e correu para o telefone, mas o celular da mulher não atendia, tudo que ele sabia era o último ponto de referência para onde ela se dirigira. Enquanto pensava no que fazer o policial Hilton lançou-se ao chão em espasmos epilépticos, O'Larry foi ao auxílio do mesmo, procurando impedir que este se ferisse. John não sabia o que fazer, se as ruas estivessem como ambos haviam explicado, ali era o lugar mais seguro que poderiam estar. Poucos instantes depois Hilton parou de se debater. O'Larry ajoelhado ao lado do sujeito baixou a cabeça e disse que era tarde demais, o amigo estava morto e sequer sabiam o que acontecera.

Johnson lembrou-se da mordida, teria sido a causa? Que tipo de doença se transmitiria assim, com uma mordida e o pior, um ser humano infectado transmitindo doença dessa forma era no mínimo sombrio e assustador, primitivo. Talvez, considerando o estado em que todos estavam pelas ruas, fosse algum tipo de raiva, mas como isso teria começado e como combater? Os gritos de O'Larry o trouxeram de seu mundo de pensamentos para o mundo real outra vez. Quando o mesmo se virou viu O'Larry caído no chão da recepção da delegacia com Hilton sobre ele, havia sangue por toda parte, eles pareciam estar lutando. Não, lutando não, Hilton atacava o amigo e O'Larry tentava se defender. Mas como? O outro não estava morto? Hilton não havia entrado em estado de óbito apenas há alguns minutos? Johnson empunhou a arma no momento exato, se tivesse demorado um segundo mais teria sido outra vítima. O policial que supostamente estava morto se virara e lançara-se contra ele com fúria, mas naquela distância Johnson jamais erraria um tiro. Em qualquer outra circunstância não atiraria em um companheiro, mas ao que parecia Hilton, que supostamente estava morto, havia ressuscitado e tinha acabado de matar O'Larry. Aquilo tudo era macabro demais. O disparo da arma colocou fim ao tumulto, um tiro bem entre os olhos fez Hilton desabar ao chão novamente. Ambos companheiros de Johnson estavam diante de si, caídos e mortos. O pesadelo que o policial temia estava realmente acontecendo.

—Isso... - começou a dizer Samantha tão assustada que respirava com dificuldade.

—Desculpe, mas não tive escolha, se não tivesse o feito seria eu a estar morto agora. Por favor, Sammy, sei que eram nossos amigos, mas foi a única saída – respondeu o motorista.

—Pelo que você diz, quero dizer, mortos que voltam à vida, se atacam, não reconhecem os próprios amigos... está dizendo que se transformaram em zumbis? – disse a mulher.

—É difícil de acreditar, eu sei, mas foi o que vi, algo assim, se é que podemos dizer, estão todos agindo como zumbis e estão aumentando cada vez mais. As ruas estão lotadas, são nosso próprio povo, Samantha, nossos próprios amigos, é terrível. Me pergunto se metade da cidade não tivesse viajado devido ao feriado... o que teria acontecido, como as coisas estariam...

—Depois do que vi mais cedo não é difícil acreditar no que diz, eu só queria uma resposta para essas coisas, isso parece coisa de filme, não parece ser possível, mas está acontecendo...

—Deus está nos punindo, o apocalipse está acontecendo, os pecadores estão se revelando, estão sendo julgados e sentenciados – disse o rapaz com o suor escorrendo pela testa.

—Não, não é coisa de Deus. Deus nos daria opções, Ele não pode ser tão cruel e injusto. Isso é coisa dos homens, com certeza alguém começou isso, mas duvido que descobriremos quem e como aconteceu. Estou assustada, se não enviarem ajuda vamos todos morrer – disse a mulher verificando a trava e a munição da pistola que tinha em mãos, tremendo demais para conseguir averiguar – O que eu sei é que ainda somos policiais, ainda temos amigos que podem estar precisando de ajuda. Amigos, parentes, pessoas que amamos e outras que nem mesmo conhecemos, mas juramos proteger. Johnny deu sua vida para salvar a minha e não irei decepcioná-lo, vou lutar até o fim. Precisamos nos equipar e ver o que podemos fazer. Pare na casa de Jhenifer, ela mora logo na entrada da cidade, preciso me limpar e me trocar e com sorte ela deve estar lá ainda, hoje era folga dela.

—Está bem... Samantha, estou feliz por ter te encontrado com vida... principalmente depois de tudo que disse ter passado.

—Também estou feliz de te ver de novo, John, obrigada.

Enquanto continuavam pela estrada no carro de patrulha Johnson explicou ainda que para confirmar suas teorias, após atirar em Hilton o mesmo amarrara O'Larry em uma das cadeiras da delegacia. Segundo ele, a sorte estava realmente de seu lado naquela noite, pois menos de dois minutos depois de concluir os nós da corda O'Larry acordara da morte agressivo e violento, debatendo e grunhindo ruídos sem sentido, sem qualquer lembrança de quem fora ou qualquer traço de sua personalidade. O policial fechou os olhos quando disse que atirara no amigo naquele mesmo instante, amarrado naquela cadeira. Era preferível que ele morresse naquela cadeira que se o deixasse lá e de repente ele escapasse e viesse a atacar outros desavisados, não apenas lhes levando também à morte, mas transformando-os posteriormente em outra coisa daquelas.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora