XIII

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—Samantha! Samantha! Samantha! – gritava o policial ao seu lado, mas a mulher ao qual se dirigia nada ouvia. Era como se as palavras do sujeito viessem duplicadas milhões de vezes, como se cada fonema repicasse em todos os objetos e reverberasse nas paredes de todos os prédios. Johnson a chacoalhava pelos ombros, mas a jovem estava perdida em outro mundo, um mundo distante, um lugar acolhedor dentro de sua mente, onde seu psicológico tentava lhe proteger dos perigos do mundo real. Johnson olhando em volta decidira que não tinha mais tempo para acordar a mulher do choque em que se encontrava. Sem perder tempo afundou a arma que tinha nas mãos no coldre da cintura e passando uma das mãos pelas costas e a outra sob as coxas da amiga tomou Samantha nos braços. De todas as direções os zumbis estavam se aproximando, cada vez mais deles e cada vez mais rápidos. Em pé, com a mulher nos braços, o policial olhou na direção de onde o jipe batera após capotar, mas não vira nenhum dos outros ocupantes e o local já estava com mais de uma dúzia daquelas coisas a procurarem por alguém nos destroços. "Me perdoem" – pensou ele, girando o corpo e olhando na direção do teatro.

Felizmente – pensara, ele era mais rápido que aquelas criaturas e ainda pensava de forma racional. Ao aproximar-se da bilheteria na frente do grande prédio o sujeito constatara que tudo ali também já havia sido arrombado, muito provavelmente por outras pessoas em fuga. Haveria ali algum outro sobrevivente? Chutando as portas duplas com força o mesmo adentrou correndo com a mulher nos braços. Por sorte Johnson malhava todos os dias, fazia parte de seu cotidiano como policial e Samantha era uma mulher bem leve. Ao chegar na área da plateia, o sujeito deixou Samantha em uma das quinhentas cadeiras e voltou para a entrada, puxando duas mesas, algumas cadeiras, um armário e uma escrivaninha, bloqueando a porta pelo lado de dentro. Se tivesse alguma daquelas criaturas ali ele poderia enfrentá-las, a última coisa de que precisava naquele momento era que as centenas de monstros da rua adentrassem seu refúgio também. Quando voltava para o auditório o jovem deu-se de frente com outro perigo iminente. Haviam alguns zumbis aproximando-se de uma Samantha desacordada na mesma cadeira em que ele a havia deixado. Sacando da arma ainda há mais de dez metros o policial começou a atirar, três caíram atingidos por disparos certeiros na cabeça, os outros receberam disparos no peito ou nos ombros e continuavam a caminhar, aparentemente agora com mais fúria.

Antes que percebesse o som de mais disparos se unira ao do policial. Samantha acordara em meio ao tiroteio e sacara sua própria pistola, começando também a atirar nos zumbis que se aproximavam dela. Em poucos segundos todos os alvos estavam no chão.

—Sammy! – gritou o sujeito, aproximando-se e encarando sua face de perto, olhando em seus olhos procurando sinais de que ela estava bem.

—O que houve? Acho que subestimei a dor que estava sentindo e desmaiei. Quanto tempo eu fiquei desacordada? – perguntou ela.

—Apenas alguns minutos, mas a coisa está feia.

Ambos olharam cada um para um lado. Das portas laterais dezenas de zumbis invadiam o local. Muito mais inimigos do que eles tinham munição para derrubar.

—Temos que dar o fora daqui! – disse Samantha levantando-se.

—Não dá para escapar pelas portas, bloqueei a porta da frente achando que só invadiriam por lá e está impossível andar pelas ruas. Me siga, atrás do palco há uma escadaria que leva para o alto do prédio, podemos subir e descer pela saída de incêndio na lateral depois.

—Parece que não temos escolha e nem tempo para pensar – respondeu a mulher.

Em menos de um minuto a dupla de policiais estava subindo por uma escada de metal em caracol, os sons de suas botas se chocando contra o ferro escuro se perdendo no acústico dos bastidores enormes do teatro. Ao saírem no alto do prédio de três andares, Johnson empurrou um latão cheio d'água para a porta, deixando-os sós naquele enorme vazio.

—Acredito que eles não irão nos seguir aqui – disse a policial, olhando para o amigo.

—Realmente está bem tranquilo aqui em cima, pena que não se pode dizer o mesmo do restante. Estou tentando acreditar que encontraremos outros na delegacia ou prefeitura, mas algo em mim se força a negar isso. Não sei o que fazer.

A noite escura estava envolta pela névoa. Do alto do prédio Samantha e Johnson podiam ver o estado crítico em que a pacata cidade se encontrava. Ao longe os focos de incêndio eram muitos, vários lugares tomados pelas chamas. Nas ruas havia uma infinidade de pessoas, das quais não era possível distinguir os ainda humanos e os transformados em criaturas canibais assassinas. Eram diversos os pontos sem luz e o engavetamento de carros se fazia visível por toda parte. Ao que parecia, em poucas horas Little River havia mudado de uma cidade pacífica para um inferno de proporções além da imaginação.

—Eles têm intelecto limitado – continuou a mulher – aparentemente não sabem subir certos tipos de escadas, como essa que subimos agora, por isso nenhum veio para cá. De repente estou me perguntando várias coisas, mas acho que eles também não sabem nadar, embora eu não saiba se afogariam e também não devem conseguir definir armadilhas, aposto que iriam de encontro ao fogo ou a uma bomba, mesmo que a vissem. Acho também que não sentem dor, é como se seu sistema nervoso estivesse desligado, mesmo levando tiros de perto eles não se detêm, não param, isso os torna extremamente perigosos.

—Você tem razão, não adianta perder o controle, precisamos pensar de forma racional. Vamos seguir em frente e se não encontrarmos ninguém vamos dar o fora. Apenas nós dois não podemos fazer muita diferença nesse caos.

—Olhe – disse a mulher aproximando-se da guardado prédio – todos os imóveis dessa rua foram construídos bem próximos um do outro. Dá para saltar de um para o outro com facilidade, se todos estiverem assim como esse pode ser mais seguro se avançarmos pelo alto, creio que comisso adiantaríamos uma boa distância até a prefeitura sem ter que encarar mais conflitos com as pessoas que foram contaminadas.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora