RESIDENT EVIL - Terror em Little River

XXXIII

Quando chegara ao primeiro lance de escadas o homem conhecido como Raposa de Prata olhara para trás e suspirara aliviado. Assim como esperado aquele zumbi maior havia se enrolado com a porta. O mesmo era grande demais para a pequena entrada, a única forma de invadir o local seria agachando bastante, o que diminuiria muito sua mobilidade. Com ele diversos outros também se enroscavam pela entrada. Isso deveria diminuir a passagem dos monstros por alguns minutos, pelo menos até a parede não resistir e vir ao chão. Por um momento lhe ocorrera que se aquela parede caísse provavelmente o prédio poderia vir abaixo também e quem sabe até cair sobre o silo. Com esse pensamento em mente avançou saltando de três em três degraus, precisava disparar logo aquele sinalizador.

Já no segundo andar o soldado avistou a janela no final do corredor. Atirando de longe para abrir caminho sem perder tempo Nicholai simplesmente correu e saltou. Esperava que a escada suportasse seu peso com o impacto. Fora um salto surpreendente de mais de três metros de distância. Agarrara com força nos últimos dois lances da escada. Respirara por alguns segundos esperando a confirmação de que estava vivo e... seguro. Se é que podia dizer que estaria seguro apenas pela escada não vir abaixo com ele. Sobrevivera a mais essa fase – pensou instantes depois ao perceber que a escada se mantinha firme e forte, suportando seu peso. Estava molhada e a madeira lateral do silo estava escorregadia com a chuva forte que caía agora. Odiava missões com aquele clima. Sem perder mais tempo subiu rapidamente até o alto.

Já ajoelhado no topo do enorme silo o soldado era capaz agora de ver a cena abaixo com mais clareza, pelo menos no limite permitido. Haviam centenas de zumbis espalhados por toda parte e vários maiores como aquele que vira a pouco. A visibilidade era difícil com a escuridão daquela noite. Felizmente a mira telescópica do rifle de precisão permitia que visse ao menos os pontos iluminados por postes de luz e casas com as luzes acesas. Além dos zumbis via alguns cães correndo, mas não sabia dizer se estavam ou não infectados também. Vasculhara todo o perímetro, mas não vira nenhum dos companheiros, estavam dentro de um dos prédios. Esperava que estivessem bem. Por fim pegara a pistola azul com o sinalizador e apontara para o alto.

Não muito distante dali o piloto e o homem em um helicóptero em meio às trevas viam a estrela cadente vermelha que subia em direção ao céu.

* * *

Samantha havia recobrado a consciência e se negara a ser carregada por Zack. Sem alternativas o soldado optara por ajudá-la a caminhar. De imediato a mulher perguntara por suas roupas, mas ele explicara que precisara despi-la assim que ela desmaiara a fim de checar se ela tinha alguma mordida ou ferimento mais grave. Além disso, as roupas que usava não passavam de trapos depois de todos os inconvenientes daquela noite.

Não havia tempo para discutir sobre isso. Aliás – lembrara Lancaster aos dois – não havia tempo para discutir sobre nada. A policial calçara o coturno novamente sem ao menos vestir as meias e levantara-se apoiando no soldado ao seu lado. Pedira uma arma e Zack entregara a ela a Beretta que lhe havia tomado antes. Quando já subiam os primeiros degraus da escadaria um estrondo abalou todas as paredes. Os três pararam apontando suas armas para aquela janela quebrada, onde agora uma rachadura enorme começava a se formar de baixo para cima. Os vidros restantes foram ao chão quando mãos enormes seguraram a batente dos dois lados e a abriram como um livro. A parede toda ruiu e por um instante pareceu que o prédio cairia na cabeça de todos. Do lado de fora, olhando para eles estava uma criatura enorme. Parecia um homem, mas era muito mais alto e musculoso. Era careca, tinha a pele acinzentada e vestia um traje de couro negro com muitas fivelas, agora todo rasgado como se a criatura tivesse acabado de sair de uma luta.

—De novo... - sussurrou Samantha, recordando-se do primeiro encontro com aquele monstro na prefeitura, quando perdera Johnson e fora salva por Zack e sua equipe.

Atrás da criatura uma figura começou a aparecer em meio à poeira que baixava com os respingos da chuva. Era Jones. Seu olhar e o de Samantha chocaram-se no mesmo instante como se houvesse uma ligação entre eles que os atraísse. Os olhos da mulher faiscaram.

—Você de novo! – berrou ela soltando-se do apoio de Zack.

No mesmo instante fora como se sua cabeça rodasse e o mundo girasse em grande velocidade em trezentos e sessenta graus. Ela ainda não estava bem. O soldado a segurou novamente e ele piscou recuperando os sentidos. Estava agora olhando para o chão, ainda com a Beretta em mãos. Não era possível que terminaria ali daquele jeito. Havia sobrevivido até aquele momento com a ajuda daqueles homens. Se ali seria seu túmulo Jones iria junto dela para o além – prometeu a si mesma.

Erguendo a cabeça, mirou o melhor que pode na direção em que havia visto o sujeito antes e atirou até quase descarregar a arma. Os tiros atingiram a criatura que agora se colocava entre o outrora amigo e ela com os dois soldados. Infelizmente os disparos mal faziam cocegas no enorme monstro diante deles.

—Não vamos conseguir nada com baixo poder de fogo – disse Lancaster posicionando-se ao lado de Zack – A criatura tem placas de metal por baixo do traje. Vou tentar atrair a atenção dele e você a leva para cima. Tenho uma ideia, alcanço vocês logo.

Samantha ia protestar quando Zachary passou uma de suas mãos por baixo de seu braço e agarrando-a pelo abdômen a jogou por sobre o ombro sem qualquer delicadeza no movimento. Ele e o líder se encararam uma última vez. Em seguida o mesmo começou a subir correndo pelas escadas carregando a mulher enquanto o outro saltava por um pedaço da parede e saía para fora do prédio.

* * *

A policial debatera-se tanto que Zack fora obrigado a soltá-la. Ainda se esforçando para ficar em pé Samantha dissera que eles não poderiam deixar o outro para trás. Ambos sabiam que Lancaster não pretendia segui-los. Ia servir como distração para que eles escapassem. Mas tinham chegado até ali juntos, escapariam juntos ou morreriam juntos – dissera ela. Zack sabia que o líder nunca aprovaria aquela atitude, provavelmente morreriam todos antes de conseguir chegar ao ponto de extração, mesmo assim acabara concordando com a mulher. Precisavam ajudar o companheiro, tinham que fazer alguma coisa, o que estivesse ao seu alcance.