Nenhuma parte de seu corpo reagia, não sentia suas pernas, nem os braços, nem mesmo os dedos de suas mãos ou seus lábios respondiam seus comandos. Era incapaz de abrir ou fechar os olhos além do quanto já estavam entreabertos.
Sequer sentia sua respiração.
Por um momento Samantha imaginou que estivesse morrendo. O que teria acontecido? E Jones, o que ele tinha feito? Nenhuma resposta, apenas sombras. Por fim, a policial desistiu de lutar, aos poucos tudo foi ficando ainda mais escuro naquela noite de trevas e pesadelos e ela desmaiou.
Os olhos de Samantha abriram-se devagar. Fora difícil, primeiro piscando de leve, depois estreitando lentamente e se ferindo mesmo diante da escuridão que envolvia todas as coisas. Seu corpo todo doía, mas ao menos ela sentia as dores e via isso era um bom sinal, afinal, sentir dores significava que estava viva.
Com grande esforço a mulher virou-se de lado. Sentia a perna exposta onde a barra da calça havia sido cortada algum tempo atrás arder como se estivesse sendo ferroada por farpas ou espinhos no chão sujo de terra.
Ficou de joelhos, o corpo tombado para frente, a cabeça no chão sobre os braços cruzados. Estava imunda e machucada, muita machucada. Subiu pela encosta do acostamento engatinhando e quando chegou a menos de um metro da estrada de terra batida seu corpo tombou novamente.
Algo ao longe lhe chamou a atenção e ela de súbito despertou. Levantou o olhar e viu luzes que se aproximavam. Luzes vermelhas. Sem saber de onde tirara forças para tal a mulher se ajoelhou, depois gemendo e cheia de dores levantou-se em pé, quase caindo, mas em pé, à margem da estrada. As luzes chegaram mais e mais perto. E então pararam.
—Samantha! – gritou a voz conhecida – Meu deus! O que houve com você?!
Então a mulher finalmente o reconheceu.
Johnson, o policial que a substituiria no turno daquela noite na delegacia!
O mesmo correu de encontro a ela e a abraçou, mesmo no estado em que se encontrava. A mulher sorriu e então chorou e o abraçou de volta também. Johnson era dois anos mais velho que ela e filho de um carpinteiro da cidade. Assim como ela o mesmo também nascera e fora criado em Little River e ambos se conheciam desde a infância.
—Eu saí para te procurar depois que comecei a te ligar e você não respondia – disse ele – Você não vai acreditar, a cidade... a cidade está diferente, está um inferno. Literalmente um inferno. Não sei o que fazer... não sabia o que fazer e não consegui entrar em contato com os outros, por isso deixei tudo e vim atrás de você – ele parecia perturbado e Samantha não sabia se era pelo que dizia ou por vê-la como ela estava, mas sentia que as criaturas que a haviam atacado com certeza haviam chegado ao centro urbano de Little River – O que houve?
O outro policial ajudou a mulher a entrar e após a mesma estar acomodada no banco do passageiro o veículo voltou a se mover. Samantha explicou tudo pelo qual havia passado, desde o início até o momento em que desmaiou pela última vez. Olhou para o relógio da viatura e viu que marcava meia-noite e meia, haviam se passado poucas horas. O homem ao seu lado tentava entender o que ela queria dizer com monstros para assimilar as informações.
—Aqueles monstros, eles chegaram à cidade, não foi? – perguntou ela.
—Monstros? Eu... eu acho que é muito pior...
Johnson ia começar a falar quando a mulher lhe pediu que parasse o carro. Estavam sobre a ponte de Woodland, o mesmo lugar por onde ela havia passado algumas horas atrás. Então ela desceu correndo do veículo e foi até a lateral da ponte, parando bem na beirada olhando para baixo.
A ponte era toda de madeira e tinha cerca de vinte metros de comprimento. Era reforçada com metal, pregos e concreto e abaixo dela havia o penhasco de Woodland, por onde um rio longo e profundo serpenteava.
Os olhos da policial se encheram de lágrimas assim que ela viu o que suspeitara no momento em que se aproximavam. Por um enorme buraco na madeira da proteção lateral, feito com certeza por um veículo de grande porte era possível se ver logo abaixo a caminhonete 4x4 de Jones.
Então era esse o plano. Se a criatura não ia deixá-los, ele iria lançá-la no penhasco juntamente com o veículo que dirigia.
Teria ele sido capaz de saltar antes de a caminhonete se espatifar contra a proteção? – pensou a mulher. Esperava que sim.
—O que foi? – perguntou o policial se aproximando da mesma.
Não foi preciso uma resposta para a questão. Ele mesmo vira a caminhonete destruída logo abaixo.
—Estava com você? – perguntou o sujeito sem encará-la.
—Sim, mas não sei o que aconteceu, não sei o que ele fez. Espero que tenha conseguido escapar antes... – Samantha não conseguia concluir as palavras.
—Precisamos ir, precisam de nossa ajuda na cidade. Acredite, as pessoas da cidade irão precisar de toda ajuda possível.
—Está bem! – respondeu ela, suspirando e tentando se recompor – Vamos logo, vou precisar encontrar um lugar para me lavar e mudar de roupa, não estou em condições de ajudar ninguém assim. Pode me contar o que está acontecendo no caminho.
—Faremos isso... Espero que ainda encontremos um lugar onde possa se arrumar. Vou lhe contar tudo, espero que esteja preparada – respondeu o amigo – Não são notícias boas e nem fáceis...
—Acho que depois do que vi aguento qualquer coisa... – a jovem não tinha certeza sobre aquilo – Precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance.
Ambos entraram na viatura policial e seguiram rumo à cidade novamente.
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RESIDENT EVIL - Terror em Little River
Mystery / ThrillerA cidade de Little River é um lugar pacato e tranquilo, mas esta paz está prestes a mudar. Estranhos desaparecimentos sem solução começam a acontecer e as pessoas da cidade começam a temer por sua segurança. O governo envia agentes do FBI que fazem...