III

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—Johnny? – perguntou ela com tom de alívio em sua voz.

Jones era amigo de infância de Samantha e era o único na cidade que ainda a chamava pelo apelido de infância, mesmo quando ela se encontrava fardada e trabalhando na delegacia. Assim como Samantha, o jovem de vinte anos era caçador e como levara a ocupação mais a sério que a mesma, tinha muito mais experiência que ela nesse assunto.

Já próximos, a jovem percebera que ele carregava um rifle consigo, mas não tinha nenhuma mochila com outras armas ou munição.

—O que faz aqui? – perguntou ela – Recebi uma ligação e vim investigar, mas esse lugar está, como eu posso dizer, diferente, estranho. Não consegui sentir nada e nem a presença de ninguém, você é o primeiro que vejo há um bom tempo sozinha aqui já.

—Vim caçar com Luka, mas algo apareceu, nos atacou e nos separamos. Não sei onde ele está ou mesmo se está bem. Perdi o equipamento que trazia e estou fugindo há mais de duas horas. Por sorte essas criaturas aparentemente não pensam, o que nos dá alguma vantagem, mas mesmo assim ainda são muito perigosos, nunca vi um animal com tamanhas capacidades de predador, é como se tivessem olfato e audição perfeitos e sua visão noturna é quase incomparável. Precisamos dar o fora daqui o quanto antes.

—Que criaturas são essas, do que está falando? – perguntou Samantha, agora mais nervosa que antes.

—Eu não sei, nunca vi nada assim antes. Temos de ir até a cabana de caça, lembra-se dela? Nossos pais já nos levaram lá quando éramos crianças, tem algumas armas lá e se eu não estou enganado, um rádio de baixa frequência também. Depois podemos ir até a estrada, minha caminhonete está lá em algum lugar. Podemos fugir logo daqui antes que seja tarde demais.

Samantha explicara sobre a ligação e se o amigo estivesse correto, ali não era mais um lugar seguro para se ficar, se é que um dia fora. Revelara as armas que carregava e dera uma das escopetas ao outro, bem como munição para as armas. Lembrara que tinha o rádio da viatura, mas Jones negara a proposta de voltarem por aquele caminho, pois era a trilha das criaturas de que ele falava.

Sem querer perder tempo com discussões, a jovem concordara em seguirem até a cabana, na pior das hipóteses aquele lugar lhes serviria ao menos de abrigo caso precisassem pernoitar e fugir pela manhã. Os dois se puseram a correr pelo meio da mata e das árvores. Por sorte o traje de policial incluía botas e calça de tecido grosso que muito ajudava na corrida em meio as folhas, terra e pedras.

Enquanto corriam Jones começou a explicar o pouco que havia visto das já mencionadas criaturas. Segundo o rapaz dissera logo no início – Você não vai acreditar, mas por favor, me escute.

Dissera que em meio à escuridão da floresta naquele fim de tarde, pouco pudera ver dos predadores que haviam surgido entre ele e o amigo com quem estava, mas que fora o bastante para temê-los e quase ficar travado onde estava.

Os monstros – segundo dizia – tinham cerca de dois metros e meio de altura, eram muitos altos. Tinham olhos amarelos enormes com pupilas espirais, como os olhos de crocodilos e outros répteis. Segundo percebera tinham escamas pelas costas e braços e a barriga parecia ser protegida por uma pele clara, como a dos sapos. Possuíam braços longos como os gorilas, braços que desciam dos ombros até quase se encontrarem com o chão e o mais terrível de tudo, estavam armados com garras enormes, grandes e afiadas com o que pensara ser mais de quinze centímetros.

Samantha ficara tentando imaginar como poderia ser tal criatura e sua mente se dividia entre a descrença nas palavras do amigo e a possibilidade de tal monstro realmente existir. Em certo momento, já próximos da cabana, o amigo que corria na frente parou abruptamente e lhe pediu que fizesse o mesmo.

Pediu que ela olhasse por entre as folhas para a porta do pequeno chalé feito de madeira pelos próprios caçadores há muitos anos atrás. Segundo ele um dos monstros estava lá, parado em pé de frente para a porta, aparentemente investigando o interior do local.

A mulher se forçou a enxergar em meio ao breu que consumia sua visão e embora não visse claramente algo como o que lhe fora antes descrito, era bem visível que havia na entrada uma criatura mais alta que um homem.

Instintivamente a mulher guardou a Beretta no coldre da calça e sacou um dos rifles que tinha na sacola de armas nas costas. Jones lhe sussurrou no mesmo instante que não atirasse, pois haviam outros e ela simplesmente lhes chamaria atenção para o local onde os dois estavam.

A mulher assentiu, mas aproveitou-se da mira telescópica para observar o inimigo mais de perto. Era mais terrível do que ela imaginara e mesmo não o vendo completamente pela ausência de luz, o pouco que vira a fizera tremer como uma criança diante de um cão raivoso e gigantesco.

—Se esqueceu de mencionar a boca enorme e a quantidade de dentes afiados... – disse ela.

—Temos que chegar lá. Essas criaturas não sabem como abrir e entrar, mas nós sabemos e ficaremos protegidos. Aqui fora vai ser uma questão de tempo até que nos descubram.

—Tenho uma ideia, mas vamos ter que agir juntos e rápido. Vou atrair a atenção deles, corra e abra a porta, entre e quando eu for para lá, esteja pronto para fechar assim que eu saltar para dentro. Não consigo pensar em outra opção – disse a mulher, gaguejando.

—Não posso permitir isso – respondeu o sujeito – Você é uma mulher, eu os distraio e você vai, se apenas um de nós escapar, é melhor que seja você... tome – continuou o rapaz lhe entregando as chaves da caminhonete – Estacionei na estrada ao sudeste, a pouco mais que dois quilômetros daqui, se eu não conseguir, assim que puder, fuja para lá e procure por ajuda. Se alguma dessas coisas for para a cidade, ninguém lá estará seguro.

—Falou bonito, Romeu – respondeu a mulher, procurando mostrar-se autoritária e também mais séria em meio a escuridão que impedia que mesmo os mais simples traços de seus rostos pudessem ser vistos – Mas eu sou a autoridade aqui. Além disso, você é mais rápido e eu estou com uma sacola pesada. Você corre e abre a porta e me espera, quando eu for, me dê cobertura.

O caçador tentou argumentar, mas era impossível contradizer as ordens de Samantha quando ela falava como oficial. Ambos tremiam e a jovem só esperava não cometer erros enquanto dava cobertura ao amigo. Respirou fundo e fixou o olhar na mira telescópica da arma.

—Assim que eu começar, corra sem parar – disse ela.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora