XXIX

9 2 0
                                    

—Entendido, Senhor, irei com vocês – confirmou a mulher.

Por um momento Samantha sentiu que o tom imperativo e agressivo de Lancaster não era de todo ruim. Aquele homem diante de si se importava com a equipe, estava ali por eles para o que fosse preciso. Mesmo não gostando da forma como ele a tratava, como se fosse uma completa novata, sentia agora um pouco mais de respeito pelo mesmo.

—Se sinta honrada se sobrevivermos – disse Nicholai – é a primeira mulher nessa equipe. Deve isso aos homens que morreram para chegarmos até aqui.

—Ginovaef – disse Lancaster – vamos ter de cair fora naquelas velhas motocicletas, qual a melhor rota desse buraco de rato até elas?

—Há uma porta nos fundos – respondeu o sujeito grisalho – está cheio deles, mas é metade do que temos na frente. Vamos ter que contornar o prédio derrubando todos pelo caminho e sair imediatamente. Não consegui um número exato, mas com certeza não temos munição ou tempo para abater cada uma dessas criaturas.

Zack engatilhou a escopeta em mãos. Samantha recarregou a Beretta e encarou os outros.

—Se tivermos de morrer, que seja lutando – disse ela.

—Vamos apenas dar o fora daqui – disse o líder tomando a dianteira e avançando para os fundos do prédio.

* * *

Ao saírem do barracão o grupo dera de cara com novos problemas. Os respingos de um fino chuvisqueiro começavam a cair e agora era impossível evitar o barulho da chuva que vinha de toda parte. Dos telhados ao solo o som da água caindo era ouvido e as criaturas pareciam mais enlouquecidas do que nunca, espalhando-se como um formigueiro assustado. Zack fez sinal para que evitassem usar as armas, mesmo as pistolas com silenciador. Aproximando-se de um dos monstros atingiu-o com força penetrando o ouvido do mesmo com uma faca. A criatura caiu ao chão sem vida novamente.

—Não estamos longe das motocicletas, precisamos ser rápidos, mas podemos chegar lá sem chamar atenção – sussurrou Nicholai.

Samantha seguia com os soldados empunhando a Beretta. Os mesmos abriam caminho facilmente entre os ressuscitados, derrubando aqueles que surgiam em seu caminho como se fossem bonecos de treinamento. Contudo, a policial sentia as mãos tremerem enquanto segurava a arma. Por dentro não podia negar o quanto estava com medo. Qualquer arranhão era fatal, qualquer tropeção poderia significar o fim. O time avançava pelas sombras evitando os grupos maiores de infectados, mas qualquer barulho maior poderia lhes atrair, um passo errado e poderiam entrar por um beco de onde jamais sairiam, pelo menos com vida.

De repente Zack, que estava à frente da mulher, erguera a mão pedindo que a policial aguardasse. Houve silêncio por um momento, então Nicholai apontou com o dedo para o telhado acima do prédio em que as motocicletas estavam estacionadas em frente. Samantha estreitou os olhos para ver as silhuetas na escuridão, porém, ao notar a razão pela qual o atirador de elite do grupo parara, um calafrio lhe subira pela espinha e ela sentira o sangue gelar completamente.

—A-aquelas criaturas – gaguejou a mulher em sussurro, engolindo as palavras em seco – foram esses monstros que encontrei na floresta quando estava com Johnny. Nos perseguiram em uma caminhonete, vai ser impossível escapar...

—Quantos você viu? – perguntou o líder ao russo que apontava com a Dragunov para o alto do prédio, checando com a mira telescópica.

—Está muito escuro para ter certeza – respondeu – Mas vejo dois. No máximo devem ter três deles ou já estaríamos mortos.

—São Hunters – disse Zachary ao ouvido de Samantha enquanto o líder e Nicholai falavam alguma coisa em sussurros – Encontramos alguns deles em uma missão na Eslováquia. Nosso grupo e um outro precisou escapar deles em um campo aberto, quase fomos esfolados vivos. Nos escondemos debaixo de cadáveres no chão por dias, o grupo que nos acompanhava foi todo eliminado. Não são grandes rastreadores, mas são criaturas letais para se encarar frente a frente. Se já os encontrou e está viva você merece uma medalha.

—Tapem os ouvidos – sussurrou Nicholai para Zack e a policial – as coisas vão tremer um pouco, vamos aproveitar essa janela para escapar, não haverá segunda chance.

Janela? – pensou a mulher – O que Lancaster e o russo tinham em mente? Foi então que viu nas mãos do líder do grupo um pequeno detonador com o botão vermelho à mostra.

—Pronto? – perguntou ele ao homem de cabelos prateados.

—Quando quiser.

Redfield apertou o botão e o chão todo estremeceu. Não muito longe de onde estavam o prédio da oficina mecânica transformou-se em uma gigantesca bola de fogo. O Sniper, sem parar para pensar atirou duas vezes. Os dois Hunters que estavam no alto do prédio, que agora tinham se voltado para a direção da explosão, tombaram sem vida. De imediato o homem colocou o rifle de precisão nas costas e sacou as duas pistolas com silenciador carregadas. Lancaster levantou-se e o seguiu, ambos abatendo meia dúzia de zumbis que passavam por eles indo em direção do barulho. Zack levantou-se em seguida puxando Samantha pelo braço.

—Vamos logo – disse o líder correndo em direção de uma Hayabusa vermelha e branca – não temos tempo a perder, se houver algum outro Hunter por perto ele não ficará distraído com a explosão por muito tempo!

Zachary lançou-se por cima da motocicleta que havia estacionado enquanto a policial já se colocava na garupa. O soldado virou-se e lhe deu sua SIG, dizendo que se algo os seguisse seria com ela cuidar da retaguarda. Sem opções e já pensando naquilo a jovem apenas acenou com a cabeça concordando.

Os dois saíram em arrancada enquanto atrás deles Lancaster seguia com a outra moto. Nicholai removeu os pinos de duas granadas lançando-as para trás logo após atravessarem o portão. Em questão de minutos os quatro seguiam em meio à chuva gelada pela escuridão da velha estrada. Nenhum Hunter os seguira – por sorte – e agora apenas as árvores e a densa mata nas laterais ilustravam a paisagem. Samantha prendeu as pistolas aos coldres da cinta e abraçou Zack com força por trás, suspirando como se aquele momento valesse mais que tudo em sua vida. Na outra moto, Lancaster e Nicholai seguiam os dois em silêncio. Ambos sabiam que aquela era uma missão suicida agora, com chances mínimas de escaparem. No entanto, mesmo contra as possibilidades, já haviam escapado da morte em mais de uma ocasião, por que não o poderiam fazer de novo?

Aquela noite estava cada vez mais perto do fim e pouco a pouco o pequeno grupo avançava em direção ao verdadeiro coração das trevas.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora