A incrível vida tediosa de Min Ji-Hae

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Ji-Hae é uma moça comum. Ela tinha grandes sonhos e grandes planos quando terminou a faculdade, mas de alguma forma, tudo o que ela conseguiu foi ser gerente de uma cafeteria em Gangnam, um bairro de Seul. A cafeteria foi idealizada pelo seu namorado, Jong-In, mas ele não trabalhava lá: ele tinha o emprego que sempre sonhou, trabalhando no atendimento de clientes VIP da Hyundai Motors. Ji-Hae não tinha tido sorte no processo seletivo, muito menos conexões, então, o que sobrou para ela foi gerenciar uma cafeteria.

Não entendam errado: Ji-Hae adora o seu trabalho e, sem dúvidas, é muito bem remunerada. A Kamong é uma das maiores cafeterias da cidade e, sem dúvidas, tem o maior faturamento semanal de todo Gangnam. Mas não era o que Ji-Hae havia sonhado fazer da sua vida. Ela esperava, agora aos 28 anos, estar no trabalho dos seus sonhos, fazendo algo realmente importante. Mas o mundo coorporativo não é um passeio na Disney e ela se sentia grata por poder garantir seu sustento com o emprego que tinha.

O trabalho é pesado. Ela é sempre a primeira a chegar e uma das últimas a sair, mas ainda assim, consegue chegar em casa antes de Jong-In e, como o acordo deles é que quem chega primeiro faz as tarefas domésticas e o segundo faz o jantar, ela normalmente está exausta demais quando ele chega, ao ponto de nem querer jantar. Ele também. E isso tem afetado o relacionamento dos dois. A cada mês que passa, o relacionamento de oito anos parece mais uma lembrança que colegas de quarto dividem do que com uma relação de verdade. No começo do afastamento dos dois, foi muito difícil. Os dois brigavam muito e tentavam de todas as formas ter mais tempo um para o outro, mas com o tempo isso também foi esfriando e os dois se tornaram um lugar confortável um para o outro.

Ji-Hae se sentia cada vez mais sozinha, cada vez mais isolada do mundo. Foi quando ela descobriu um aplicativo, o Wadem, cujo o foco era troca de conhecimento de diversos idiomas. Uma das baristas da cafeteria usa o aplicativo e recomendou para Ji-Hae que, há pouco tempo atrás, havia tido problemas para atender um cliente sueco que não falava uma palavra em coreano. Ela baixou o aplicativo, se cadastrou e criou uma conta.

Jong-In ligou quando ela ia começar a procurar pessoas que poderiam praticar inglês com ela. 

- Jagi¹, eu acho que vou chegar tarde em casa de novo.

- Mas Jong-In, você prometeu que ia me ajudar a guardar as roupas de cama de inverno ainda hoje.

- Eu sei, Jagi, mas meu líder de equipe resolveu marcar um jantar para a gente. Conseguimos dobrar a meta do mês e ele quer muito  nos recompensar.

- Jong-In, é o sexto jantar de equipe desse mês e ainda é a primeira quinzena. Você não pode dar um perdido no seu superior e vir para casa? Eu estou realmente muito cansada.

- Jagi, me perdoa, mas eu realmente não posso fazer isso.

- Não pode ou não quer, Jong-In?

E sem esperar a resposta, ela desligou o telefone. Fez um café bem forte e foi para o quarto pegar os cobertores mais pesados. Ji-Hae tem 154cm de altura e é difícil para ela fazer as tarefas que envolvem lugares altos e os cobertores de inverno são guardados na última prateleira do closet do quarto de hóspedes, por isso a ajuda de Jong-In e seus 182cm fazem tanta diferença nas tarefas de casa. Além disso, por mais que ela não quisesse mais admitir, por muitos anos Jong-In foi seu melhor amigo, além de seu  namorado. Ele estava ao lado dela quando seus pais, seu irmão mais velho e sua irmã caçula morreram num acidente de carro voltando de Busan. Ele estava ao seu lado quando ela acumulou milhares de empregos de meio-período para poder pagar a mensalidade da faculdade de Administração. Ele por muitas vezes a segurou nos braços enquanto ela chorava e a embalou até que ela dormisse. Ele planejou inúmeras festas de aniversário surpresa. Ele a havia sustentado nos seus piores momentos e gargalhado e celebrado com ela em seus melhores dias. E agora ele não estava mais ali. Ele não estava mais por perto. Por muitas vezes ela se questionava se ele não havia se distanciado por ela cobrar tanto a presença dele. E era aquilo que estava martelando a sua cabeça naquele momento. Pegou o celular e resolveu mandar uma mensagem para ele.

Do Outro Lado do OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora