Quando se quebra um copo...

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Ji-Hae não havia dormido quase nada após receber a foto que havia sido enviada do telefone de Jong-In. Mover o próprio corpo até a Kamong foi um esforço supremo, possível apenas com doses extras de cafeína. Ela, no entanto, não podia faltar. Ficar em casa só ia fazer com que ela criasse diversas paranoias na cabeça. Algo deveria estar errado, Jong-In não era o tipo de homem mulherengo. Em oito anos eles haviam tido os mais diversos problemas, brigas pelos mais diversos motivos, mas tirando Lisa Carter e o episódio da cachorrinha, ela nunca havia se sentido insegura.

Lisa Carter... Ela repassou mentalmente tudo o que havia acontecido naquele episódio e não, fora o jeito que o contato estava salvo, não havia nenhum motivo aparente para que ela desconfiasse dele. Mas mesmo assim, ele estava na Coreia, a quatro horas de distância. Ele estava enchendo a cara em Busan. E ela estava sentada no colo dele.

Min-Hwa percebeu as olheiras de Ji-Hae, e sabia que, além de inchaço, havia tristeza naqueles olhos.

- Jong-In ainda não deu notícias?

- Não sei se foi ele, mas já tive notícias dele sim, Min-Hwa. - Ji-Hae abriu a mensagem e entregou o celular na mão da amiga - Ele me parece estar ótimo, talvez só esteja com ressaca hoje.

Min-Hwa abriu a boca em choque. Olhou para a foto por quase um minuto inteiro antes de devolver o celular para Ji-Hae.

- Isso não é na China né?

- Busan.

- Dessa vez eu mato o Jong-In.

Min-Hwa chegou a pegar o telefone no bolso de trás da calça, mas foi interrompida por Ji-Hae.

- Não. Não liga. Eu vou resolver isso do meu jeito.

Ela abriu novamente a mensagem de Jong-In e respondeu.

- Pode cancelar a compra da cachorrinha, a menos que você vá ficar com ela. Hoje à noite vou arrumar suas malas e deixar com a sua irmã amanhã. Depois de conferir tudo, me avise se faltou algo. Divirta-se.

E assim Ji-Hae guardou o celular e foi trabalhar novamente. Por volta das 19h, lembrou da sua aula de inglês e mandou uma mensagem para Hee.

- Me desculpa, Hee, mas essa semana eu não vou conseguir estudar com você. Nos vemos em dois dias, durante a sua reunião.

Quase que imediatamente, Hee respondeu.

- Você está bem?

- Não.

- Você quer conversar?

- Não.

- Você quer sair e fazer alguma coisa?

- Talvez beber soju e comer tteokbokki ¹ na rua, mas só mais tarde.

- Eu te levo.

- Mas devo demorar. Preciso resolver umas coisas em casa antes.

- Eu espero. Você parece precisar da companhia.

- Obrigada, Hee. De verdade.

- Até mais tarde, Ji-Hae.

Antes de sair, Min-Hwa concordou em buscar as coisas de Jong-In pela manhã na casa de Ji-Hae. O caminho de táxi foi anormalmente longo, sua casa em Songpa nunca pareceu ser tão longe de Gangnam. Ela entrou em casa e tudo parecia morto. Ela quase conseguia sentir o cheiro de morte ali. Seus pais, seu irmão mais velho e sua irmã caçula moravam ali com ela antes de morrerem. No terceiro ano de faculdade, Jong-In foi passar um final de semana lá e nunca mais saiu. Há seis anos aquela casa tinha o cheiro dele, tinha as lembranças dele, era a casa dele também. Ela pegou uma cerveja na geladeira e bebeu a lata toda, em apenas dois goles. Foi até a fechadura biométrica e trocou a senha, que era até então o dia do primeiro encontro dos dois, para a senha padrão - 000000. Logo depois foi para o quarto dos dois.

Do Outro Lado do OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora