capítulo 1

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Faz 6 anos que não os tenho em minha vida. Meus pais e meu irmão. Mesmo se passando todos esses anos, ainda dói como o inferno, ainda não consigo me conformar de que fiquei parada, olhando toda a cena em minha frente e não me mover 1 polegada.
Depois do acontecimento, fui a delegacia na mesma hora em que o homem me viu, nunca me esquecerei daqueles rostos, e da expressão de medo cravado no rosto da minha família. O delegado David me disse, que o choque foi maior do que qualquer movimento que meu corpo quisesse fazer, que não foi minha culpa, mas isso não diminui nem um pouco a minha dor.
Os três homens que mataram minha família, conseguiram pagar a fiança, por ter a ficha limpa. Fiz um grande escândalo por isso, mas nada adiantou.

Eu morava no Brasil, com Isabela Brants Sullivan formada em Ciências da Computação e Jonathan Sullivan formado em Medicina, meus pais, que juntos criaram com muito amor Plinio Sullivan e eu, Celina Sullivan. Tudo era perfeito, fora o que todos pais fazem, se preocupar demais com a vida dos filhos, eu achava um absurdo meu pai não me deixar ao menos abraçar um cara, ele já ficava com uma carranca no rosto e me mandava subir para o meu quarto, mas hoje eu sinto falta do seu jeito protetor, do sorriso lindo da minha mãe quando eu dizia que a amava, do meu irmão tentando me imitar quando eu ficava irritada. Mas eles não estão ao meu lado.
Minha tia por parte da minha mãe, foi encontrada em San Diego, Dianna, uma mulher viúva aos 45 anos que não tinha nenhum filho, nós não tinhamos muito contato, mas era única pessoa que poderia contar naquele momento, no entanto, minha guarda foi passada para ela. No começo foi horrível, ela tentava me ajudar, mas eu queria minha mãe, mas nada faria com que ela estivesse ao meu lado, pelo menos não fisicamente. Mas devo muito a ela, me ajudou como se fosse sua própria filha, ficou ao meu lado em várias noites de pesadelos que me assombravam. Eu aprendi a ama-la.
Hoje sou uma mulher de 23 anos, moro sozinha em Los Angeles, formada em Direito, mais especificamente na área criminal, cabelos preto ondulados, olhos castanho escuro, pele clara e com 1,60 de altura. De dia profissional e decidida, de noite sozinha e vulnerável.
Fiz uma grande amizade com Ayla Reston na faculdade, e assim temos uma sociedade em um escritório chamado "Sullivan & Reston -Advocacia Criminal" a 1 ano, que se localiza no centro. Todos os dias que se passam nosso escritório cresce mais e mais.
Meus pais haviam feito um testamento e sendo a única herdeira, fiquei com tudo, o que me surpreendeu foi a quantidade de 0 na minha conta bancária, sabia que tinhamos uma boa condição financeira, porém não imaginava que seria para tanto. Eu não queria nada daquilo, o dinheiro não me importava. A tia Dianna administrou muito bem o meu dinheiro, com a ajuda de um banco, claro. Com ele foi pago minha faculdade e meu psicólogo Thomas, que durou os 2 primeiros anos, e outras coisas que devem ser pagas para me sustentar. Thomas é um homem bonito, cabelo preto, pele clara e olhos azuis, de uma coração enorme, me ajudou muito, mas não tirou o que eu mais desejava esquecer, o assassinato. Ele se transformou em um grande amigo, até hoje mantemos contato, a Ayla não cansa de me dizer que ele senti algo por mim fora amizade, não sou cega e já percebi isso, mas prefiro não ir por esse caminho, ele é lindo não posso negar, mas meu coração não bate forte, não sinto borboletas no estômago por ele.

Estou estacionando meu Ranger Rover branco no estacionamento do escritório, que fica a meia hora da minha casa, quando meu celular começa a tocar.
-Onde você está moçinha? Se estiver dormindo vou te buscar pelos cabelos Lina - disse Ayla.
-Claro que não, já estou saindo do carro, aconteceu alguma coisa?
-Não aconteceu nada, é que passei pela sua sala, e vi que você não havia chegado. A Bianca já transferiu as ligações de dois clientes.
Bianca era nossa secretária, está trabalhando com a gente a poucos meses, mas realmente é uma ótima funcionária.
-Já estou subindo as escadas, e vou direto para sua sala. Vou desligar Ayla.
-Ok.
Encerrei a ligação guardando meu celular na minha bolsa, hoje o dia vai ser longo, como todos os outros.

O dia passou muito rápido, o escritório fecha ás 18 h, porém, as vezes ficamos até mais tarde, mas por incrível que pareça saímos no horário certo hoje.
São exatamente 18:10, estou dirigindo em direção a minha casa, quando os pensamentos invadem minha mente, "Cala boca vadia ou seu filho morre"... Mãe.
"Eu sei que você tem dinheiro nessa merda de casa!", eu não me movia.
"Amor, por que a janela da sala está quebrada?"... Pai. Choros descontrolados, Plínio... Ouço uma pancada no capô -Presta atenção, está querendo me matar ou que inferno?! - diz um homem que estava andando, e percebo que o farol está vermelho para os automóveis, sendo assim sinalizando verde para os pedestres, eu havia pisado no acelerador. Caramba!
-Me desculpe, o senhor está bem? Quer eu chame uma ambulância? Precisa de alguma coisa?
-Se estou bem? Você quase passou por cima de mim! É cega ou o que? - diz o estranho.
-Olha senhor, estou sendo educada e perguntando se precisa de algo, se precisar eu farei, caso contrario eu tenho mais o que fazer, do que lidar com a sua ignorância. Então repito, o senhor precisa de alguma coisa? Um ambulância? - Sei que fui rude com ele, mas ele não me deu outra opção.
-Não, estou bem. Cadê meu celular? Mas que merda! - Diz ainda irritado.
-Aqui está, olha eu compro outro. Olhando o grande rachado na tela. - O senhor quer uma carona?
-Mas é claro que você vai me dar outro!
Entrego meu cartão de visita a ele, que sai andando em direção a um prédio.
Buzinas continuam na avenida, e como minha paciência no trânsito não dura mais que cinco minutos - Desviem porra!
Logo em seguida, entrei no carro e fui pra casa.
Minha casa continua do mesmo jeito desde quando sai, casa que tem 4 cômodos, quarto, sala, cozinha, lavanderia e uma garagem. Lugar onde as vezes um choro descomunal toma conta de mim, lugar onde a tristeza tem mais espaço do que a felicidade, lugar que me faz lembrar de momentos maravilhosos, mas que infelizmente os donos deles não estão mais aqui.
Me assusto com o toque de mensagem no meu celular. Thomas.

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