Black Goshawk • Tokyo Revengers

˗ˏ FIFTY EIGHT.

Revirei os olhos, agarrando as bordas do vestido branco para demonstrar a pureza que Azumi claramente não tinha, principalmente quando estava simplesmente surtando a quase quinze minutos seguidos e cada vez mais perto de levar um soco da Saori que já não tinha a melhor paciência do mundo com a irmã, só que tudo conseguiu piorar com o avanço da gravidez dos gêmeos e não quero nem citar a quantidade de xingamentos que ela dispara na direção de Kira a cada chute das pestinhas que nem ao menos nasceu. 

─ Porra, Azumi! Para com isso!─ Gritou Saori, as mãos segurando os ombros da irmã e fincando as unhas ali. Zuzu gritou e tentou se livrar do seu aperto, mas nada poderia fazer, já que ela tá grávida e bem, Bulma soltou uma risada alta.

Lancei um olhar assassino para ela. Tá legal, aquele surto tá muito engraçado de se ver mas ia fazer quinze minutos que Azumi deveria ter caminhado pela porra do tapete vermelho e se encontrado com Wakasa e dar um fim naquele casamento logo. Eu só queria ir pra casa, os últimos meses foram um inferno por causa daquela merda e eu só queria dormir agarrada com Shinichiro sem ter que acordar sete da manhã pra ajudar Zuzu com alguma merda.

Suspirei, esfregando minhas bochechas com força, pois sabia que seria morta se ousasse tentar borrar o que quer que fosse aquilo que Bulma passou nas minhas pálpebras. 

─ Não dá, tá legal?─ Gritou Zuzu. Ela realmente parecia deseperada quando se virou para o espelho mais uma vez e enxergou qualquer pessoa em seu reflexo menos a si. Com os cabelos descoloridos perfeitamente organizados em um coque firme, enfeitado por borboletas prateadas e seu rosto maquiado escondendo algumas cicatrizes pequenas, deixando ele em um aspecto saudável. Ela estava linda, perfeita e eu sabia que Wakasa fraquejaria quando a visse, claro isso se ela chegar na porra do altar.

─ Eu não vou conseguir.─ Murmurou Azumi, as mãos apertando forte as saias de seu vestido. Revirei os olhos e não temi por minha vida quando agarrei seus ombros, antes de estapear seu rosto com força.

─ Você vai conseguir, sim!─ Rosnei.─ A gente não passou meses organizando essa merda pra você desistir de tudo, sua puta do caralho! Você ama o Wakasa e vai se casar com ele, porque não vi esse drama todo quando ele te pediu em casamento no meio de um racha, porra! Então, não fode!

Respirei fundo e sorri, levando minhas mãos para minha cintura enquanto Azumi piscava os olhos, com certeza um pouco chocada com minha explosão repentina, mas é que... Eu só queria que aquele dia acabasse para que eu pudesse deitar-me ao lado do meu namorado, sentir seus braços em torno de mim, me dando a paz que eu mereço depois de tanto tempo. Talvez até pudesse ter o direito de uma massagem nos pés.

─ Vadia burra.─ Resmungou Azumi, me abraçando. Saori riu, assim como Bulma.

─ Vocês são muito surtadas, porra.─ Disse Bulma, ainda sorrindo. E eu não podia concordar mais com ela.

Pulando em um pé só, retirei meu salto, jogando-o em algum canto do apartamento e repetindo o mesmo gesto com o outro, ouvindo Shinichiro mexer nos armários, procurando alguma vasilha para despejar todos os doces que roubamos no casamento para assistir algum filme, comendo coisa gourmet e gostosa pra caralho. Pousei uma mão na minha barriga sentindo a saliência ali, a curva suave que deixava bem claro meu atual estado, mesmo que tenha sido mais um acidente do que algo realmente planejado, e sentei no sofá, me esticando um pouco para pegar o controle remoto. 

─ Tá legal, o que vamos ver?─ Dei de ombros, não sabendo muito bem como responder a pergunta de Shinichiro. Certo, tínhamos já assistido cada filme que compramos cerca de cinco vezes cada por conta da nossa preguiça de comprar novos filmes que conseguiu aumentar ainda mais quando eu apenas saía de casa para ajudar meu namorado na loja, servindo de atendente que prefere ficar analisando como a blusa branca grudava no corpo de Shinichiro quando os dias eram quentes demais.

Mordi os lábios, balançando a cabeça para que as memórias fossem embora. Tá legal, eu preciso escolher um filme e depois só me focar em comer, comer e comer. Me aconcheguei nas almofadas do sofá com os olhos presos no moreno que fitava as capas dos filmes sem saber exatamente qual escolher para aquela noite, como uma tradição que sem querer criamos e queríamos continuar por ser, sei lá, talvez algo que nosso filho goste no futuro, tipo igual aos meninos que fundaram uma gangue que apenas crescia cada vez mais, tornando-os famosos.

Sorri ao me lembrar de como Baji sempre aparecia para me entregar os tão famosos bolinhos de Mitsuya e apenas conversar, ás vezes me vejo rindo, pensando que ele só sinta saudades de correr pelas ruas ao meu lado e tacar fogo em alguns carros por diversão. Novamente, alisei a curva da minha barriga, acariciando-a com cuidado e carinho.

─ Parece que vai ser "As Patricinhas de Beverly Hills".─ Ouvi Shinichiro disse e não demorou para que eu estivesse mastigando um chocolate, adorando o gosto delicioso enquanto via Cher agir como a melhor patricinha que já vi em minha vida e sentia meu namorado pôr uma mão na minha barriga, realizando um carinho lento e arrastado que fez meus músculos relaxarem na hora.

Em determinado momento, escovei o cabelo de Shinichiro com os dedos e beijei sua boca, sorrindo ao sentir o gosto de morangos.

─ Eu amo você, sabia?─ Murmurei. Ele riu, felicidade genuína fazendo seus olhos escuros brilharem no instante que abraçou meu pescoço, beijando minha bochecha. E eu soube sem sequer pensar muito que ele sabia o quanto eu o amava e retribuía meus sentimentos com a mesma intensidade, ou talvez até mais intenso. 

Então, me toquei que não me arrependi de nada. Não me arrependi de criar Black Goshawk, ou de quebrar ossos, dentes e queimar motos ou carros por toda Shibuya. Eu não me arrependi nada, pois todas decisões que tomei me trouxeram para esse caminho, para esses olhos escuros e todo o amor que recebo agora. Eu não me arrependi de nada, estou apenas orgulhosa de mim mesma e da minha família que jamais me abandonará, na verdade só crescerá com o tempo, com a chegada dos gêmeos de Saori, meu filho e com o recém-nascimento de Kiki, a filha de Raijin e Miwa. E provavelmente com os filhos surtados que Azumi vai ter pra combinar perfeitamente com sua selvageria que todos adoraram.

Pisquei os olhos, virando-me para a janela e percebendo que o sol já nascia e um futuro já brilhava em minha mente, pois os temíveis açores eram eternos em toda sua glória.