8 - Usurpando meu corpo

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Manuela

As bruxas resolveram não conversar perto de mim,  ou fez um feitiço para que eu não escute nada. Aposto mais na segunda opção. Fato é que meu coração está apertado. Uma angústia toma conta de mim.

Algo ruim vai acontecer, sinto isso. Preciso tentar falar com a Marfa. Desde que a Merly esteve aqui e disse que ela está num local aqui perto, estou amedrontada. E se ela fizer algo com minha amiga?

Uma pessoa que tem a capacidade de usar o corpo de outra para atingir seus objetivos,  não se pode duvidar nada vindo dela. Sou tirada dos meus pensamentos por uma mulher jovem, nunca a vi aqui antes, ela entra e me entrega uma xícara com uma espécie de chá.

– Tome tudo. –  Diz, me entrega a bebida e fica olhando.

– O que é isso? Nos vou beber.  – Jogo a xícara longe.

– Se não for cooperar, farei as coisas do modo doloroso. Você decide.

– Quem é você?  – Ela se parece com Merly, mas tem menos estatura, cabelos mais curtos e um corpo um pouco mais forte que a outra. Merly é muito bonita.

– Mirtes, agora vou buscar mais chá e espero que tome tudo,  se não, terei o prazer de te fazer tomar, e acho que não gostará do método. – Se vira e sai.

Vou tentar uma coisa com ela e ver em que estou me metendo. Logo ela volta e me entrega a xícara,  dessa vez aceito sem fazer cara feia. Ela se afasta e fica me olhando.

– Porque a Merly e não você? Ela parece não entender a pergunta.

– A Merly terá a honra de ser a escolhida do guerreiro e não você?–  Ela franze a testa por um segundo.

– Não sou eu quem escolhe. Ela era mais apta que eu, para isso.

– Quer dizer, ela vai viver eternamente usando meu corpo, sendo companheira de alguém, que até onde eu sei, um homem que é muito poderoso, ele dará a imortalidade a ela e está tudo bem pra você?

– Sim, decidimos que ela seria a melhor escolha. Agora beba.

– O que você é dela? Estou atingindo meu objetivo. Wapi dizia que eu precisava encontrar uma fraqueza da pessoa e trabalhar em cima disso.

– Somos irmãs. Ela olhá para um lugar qualquer,  mas não me encara.

– Deve ser difícil ter que viver a sombra da irmã. Ainda mais ela se mostrando melhor que a gente.

– Eu não disse que ela era melhor, mas que era mais apta para a função. Pare com esse joguinho e tome tudo de uma.
Vez.

– Não é joguinho. Mas já que estão usando meu corpo,  sem minha permissão, acho justo entender o que se passa. Ela parece alguém que gosta de impor suas vontades  e por algum motivo, todos concordam. Deve ser pela beleza dela.

 Sinto muito,  mas terei que usar isso, bruxa. Ela é uma mulher claramente insegura. Foi só eu falar da Merly e ela começou a se tocar, arrumar a roupa, clara demonstração de desconforto. Wapi, se eu sair dessa  voltarei para seus braços, não terá guerreiro que me faça desistir de você.

– E se ela não cumprir com a missão que foi dada e querer apenas viver para o tal Hakon?

– Ela será punida. Severamente. – Fala com uma dose de prazer na voz.

– Punida?  Ela terá o poder nas mãos. Quem poderá contra ela. Merly é orgulhosa demais para aceitar ser contestada, quando for uma eterna bruxa rainha, não aceitará questionamentos. Você sempre viverá um passo atrás dela. Triste. Mas talvez essa seja a sua missão. Ser a preterida.

Hakon  e o preço da dúvida - Livro I - Os Escolhidos Onde histórias criam vida. Descubra agora