27 - Jornada da libertação

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Manuela

Na madrugada, fria, mas não tão gelada como minha alma, estou partindo com três bruxas, que gentilmente se ofereceram para me guiar.

Meus olhos se mantinham voltados para frente, quamdo ultrapassei o domo de proteção de Argo.

A Talula havia me dito, que eu deveria livrar meu coração do sentimento de dúvidas e saudades. Essas emoções influenciariam na decisão da quebra do vínculo.

Porém, era impossível não sentir o desespero tomar conta de mim. Eu o amava, loucamente, mas não estava disposta a me sentir um peso a cada erro cometido.

Ele me veria assim, uma imposição dos deuses, e com uma eternidade pela frente, errar seria algo comum,  e sentir seu desprezo brigando com a nossa ligação, me corroeria eternamente.

As bruxas se mantinham em silêncio. A que dirigia, Anna, trocava comigo poucas palavras, apenas o necessário

— Vamos dormir nesse hotel. — Paramos numa pequena pousada na beira da estrada. A mais idosa do grupo diz.

Certamente, elas percebiam minha dor, mas se mantinham em silêncio.

Tomei meu banho e me deitei encolhida numa cama que dividiria com Anna, uma bruxa, de aproximadamente 25 anos, negra como eu.

— Não deveria estar te fazendo essa pergunta, mas você está certa dessa decisão? — Ela fala baixinho.

— Sim. Eu tenho certeza. — Minha voz sai embargada. A verdade é que estava doendo muito.

— Ele vai nos matar, quando souber que estamos te ajudando.

— Não se preocupe. O bruxo do Rav ficou com um vídeo meu, explicando que eu viria só e vocês se propuseram a me ajudar, pois ficaram preocupadas.

— E isso é verdade, ficamos preocupadas. A Talula nos contou, ela sabia que somos as bruxas ligadas aos oráculos, somos descentes delas. Era um pedido de socorro por você.

— Eu sou muito grata por terem vindo. É realmente difícil chegar até lá? Na montanha sagrada?

—Nunca tentamos antes. Mas com certeza, é cheio de laços e disfarces, como Argo. O poder que emana da mata que cerca o lugar, mataria um humano.

— Que bom que não sou mais humana. Isso facilita as coisas. Agora vamos dormir. — Fecho meus olhos e só consigo ver Hakon em minha mente.

Meu corpo sente dor física,  conforme vou me distanciando. Quando ele foi para o Canadá, a sensação era ruim, mas suportável, mas agora, lateja em minha pele.

Quase não consegui dormir e comecei a sentir muita saudades dos meus pais e seria menos sofrido, se eu morresse, eu iria reencontrá-los, isso de alguma forma me conforta.

Já é tarde, quando consigo dormir um pouquinho. Mas sonho com Hakon. Ele me olha decepcionado. O mesmo olhar que me lançou antes de partir. 

— Mnuela, acorda. Vamos? — Mikaela me chama. Nos arrumamos  e compramos alguns mantimentos na conveniência do hotel.

Depois de duas horas de carro, chegamos a entrada da montanha perdida. As bruxas precisavam fazer um feitiço pedindo permissão para entrar.

Me sentei embaixo de uma árvore e fechei meus olhos, estava indo por um caminho, que se meu pedido fosse atendido pelas deusas, não teria volta. Uma vez a ligação quebrada, ela não seria restituída.

— Manuela? — Sou tirada de meus pensamentos. — Estamos prontas, você está bem?

— Sim, só estava pensando em tudo que aconteceu comigo. Continuar é um grande passo, sem volta, mas ficar, é viver uma eternidade de migalhas.

Hakon  e o preço da dúvida - Livro I - Os Escolhidos Onde histórias criam vida. Descubra agora