29 - Nós

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Hakon

Ficamos em silêncio, e o medo me abraça. Minha boca está seca. Como viver amando alguém que está de passagem tão rápida por essa vida e que abriu mão da eternidade comigo?

Sou tirado de meus pensamentos. A bruxa diz que precisa voltar e leva a neta com ela.

Fico andando de um lado para o outro e se passa muito tempo, não sei o que aconteceu. É tudo muito desesperador.

Então sinto seu cheiro. Forte, perfeito, mas com uma fragrância nova, diferente, o que será que isso significa? Ela conseguiu, e estou sendo castigado pelos deuses?

Mas o fato de senti-la me dá a esperança de que ela não obteve o que almejava. Ela não teria mais esse cheiro. Sinto um pouco do peso sair dos meus ombros. Sorrio.

— Está tudo bem, guerreiro? — Rav pergunta.

— Sinto o cheiro dela. Isso é sinal que ela não conseguiu, certo?

Eles me abraçam e então eu a vejo. Linda e diferente. Não sei o que é, mas algo nela, mudou.

Não espero que se aproxime, eu corro em sua direção. Ela estanca no lugar. Também paro. Porque ela parou? Não sente nada? É isso?

— Você finalmente veio? — Ela pergunta triste.

— Me perdoe, eu fui estúpido, covarde, imprudente e...

— E um imbecil, me faça isso novamente e eu te matarei,  mesmo que você não morra, darei um jeito de conseguir.

— Sério que faria isso? —  Pergunto aliviado e tentando segurar o sorriso de seu jeito zangado.

Ela coloca as duas mãos na cintura e me olha de forma desafiadora. Respiro fundo e sinto novamente a fragrância diferente que vem dela.

— Não brinque comigo. Agora sabe do que sou capaz. Eu voltarei aqui, se for necessário. — Aponta em direção ao topo da colina. — Não te perdoei pelo que me fez, pelo que nos fez.

Não entendo o que quer dizer com "nos fez" até ela levar a mão e descansar sobre o ventre. Me aproximo devagar.

Uma onda violenta de emoção me toma e caio de joelhos. Uma mistura de orgulho, amor e arrependimento me ganham e ela se aproxima mais, tocando meu rosto. Estou em lágrimas novamente.

— Pra quem nunca chora, ele está muito emocionado. — Ouço a voz do demônio e a risada dos dois homens atrás de mim.

— Vamos dar um tempo a eles, depois a gente ri do guerreiro. — Francis fala e noto que todos se afastam.

— Agora somos nós três. — Ela diz sorrindo, e abraço sua cintura, beijando sua barriga ainda plana.

— Isso é sério? — Aspiro forte e sei de onde vem a fragrância, é da nossa semente que cresce dentro dela.

— Você me engravidou e depois me abandonou. — Agora ela chora copiosamente e fala as palavras entre soluços.

— Me perdoe, eu sinto tanto por tudo. Eu fui muito errado, covarde, mas terei a eternidade pra tentar consertar as coisas.

—Não se esqueça do imbecil,  você foi muito imbecil.

— Não me esquecerei. — Falo sorrindo — Após dar mais um beijo em sua barriga, me levanto e a tomo em meus braços. A beijo e abraço forte. — Me perdoe.

— Está me esmagando, amor. — Ela fala espremido e folgo o aperto. É muito bom ouvi-la me chamando de amor.

— Me desculpe, te machuquei? — Ela nega com a cabeça.

Hakon  e o preço da dúvida - Livro I - Os Escolhidos Onde histórias criam vida. Descubra agora