10 - Rejeição

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Manuela

– Qual a sensação de ser rejeitada pela sua outra metade? Merly pergunta assim que recobrou os sentidos. Não entendo a que ela se refere. Mas estou sendo carregada para dentro de uma casa.

– Onde está a fenda? – Pergunto, olhando em volta. Quando apaguei tinha uma espécie de fenda, portal, mas agora sumiu.

–Não sabemos. É seu subconsciente. Você quem decide o que ter ou não nele.

– Está dando as coordenadas a ela? Mais que estúpida! Se disser como agir, ela expulsará a nós duas. –   A bruxa ruiva retalha sua irmã.

Estou muito cansada. Só quero acabar esse tormento e descansar. O que ela quis dizer com eu ser rejeitada? Preciso me livrar dessas duas. Saio andando,  mas é como se e estivesse no mesmo lugar.

Ouço vozes de fora . As duas se aproximam. –  Não pode estar falando sério. Vai rejeitar um presente das deusas. Três homens conversam, olhando em direção a mim. – Nunca vi homens tão ameaçadores como aqueles, o que me carregou nos braços é o ser mais incrível que eu já vi.

Não tenho experiência nenhuma com o sexo oposto. Mas o Wapi foi o mais próximo que eu estive. E ele é imensamente inferior em se tratando de tamanho, força e magnetismo.

O homem vestido de guerreiro, olha para mim, como se sentisse dor. Mas se sou sua predestinada, não deveria estar feliz e grato por finalmente encontrar sua outra metade?

O que eu fiz para ser rejeitada assim? Qual a minha imperfeição? Não sou o que ele buscava? Talvez minha cor, meus cabelos, minha aparência latina? Será isso?

Um guerreiro milenar já deve ter tido todas as mais belas mulheres possíveis, eu jamais o agradaria.

Como vou fazer agora? Me sinto um presente rejeitado,  mas mesmo magoada, o fascínio que ele exerce sobre mim é imenso.

– Hakon gosta de mulheres ruivas e pele clara, como a minha. Sabia que ainda sinto o gosto e o toque dele em meu corpo?

– Você nem tem mais um corpo, irmãzinha. – Mirtes se pronuncia indiferente.

– Não é só eu quem perdeu a morada, antes de sairmos do círculo, vi o demônio queimar sua carne. Ou seja, três mentes  um corpo, mas apenas uma sairá vitoriosa, e não pretendo deixar essa casca para você, muito menos para a dona dela.

Não seria melhor partir de um vez para a eternidade e me juntar aos meus pais e quem sabe Sora? Eu não posso reclamar, vivi sete anos muito felizes.

Vejo minha amiga Marfa se aproximar. Ela fugiu de seu povo por mim, não teve medo e nem sequer teve dúvidas em me ajudar. Ela chora tocando meu rosto e sinto seu chamado me dar energia.

As duas bruxas percebem e vem ao meu encontro. –  É isso, independe de nós. Ela continua me olhando.  – Quem tiver mais pessoas desejando que ela acorde, vencerá.

Fico em silêncio e vejo as duas discutindo, mas não presto atenção. As bruxas chamam por mim e pareço ser empurrada para o centro do jardim.

Merly começa a gritar, seu espectro está ficando transparente, como se fosse uma fumaça se dissipando. Por um momento, sinto pena, mas é bem pouco, me lembro que ela não teve a menor consideração ao tentar usurpar meu corpo.

A fenda volta a se abrir e ela é simplesmente sugada, me deixando atordoada. –  Acabou para ela? – Pergunto sem acreditar no que Acabou de acontecer. Mirtes não parece nada incomodada.

– Agora é com nós duas, mas eu não sou tão querida, não haverá pessoas chamando por mim, logo, não terei forças para, usar pela sua mente. O que nos leva a outra situação. Eu serei a próxima a ser engolida para a morte eterna. Mas se puder me ouvir antes que isso aconteça, tenho um presente para você.

Hakon  e o preço da dúvida - Livro I - Os Escolhidos Onde histórias criam vida. Descubra agora