Hakon e o preço da dúvida - Livro I - Os Escolhidos

16 - O caos

Manuela

Estou deitada, e não vejo Hakon no quarto. Meu corpo está fervendo. Um calor estranho, nunca senti nada parecido. Me levanto e toda a casa está em silêncio.

Vou ao quarto da Marfa e ela dorme tranquilamente. Depois preciso pedir desculpas pelo meu descontrole. Ainda bem que agora, ela está segura.

Volto par a sala, sinto muita sede. - Manuela? Está se sentindo bem? - Ruth se aproxima desconfiada.

- Sim, só um calor incômodo e muita sede. Porque?

- Fiquei aqui para te fazer companhia. O Hakon foi ver como a... Deixa pra lá.

- Onde o Hakon foi? - Espero que não seja o que estou pensando. Ele tinha me dito que deixaria outra pessoa cuidar da Cil. - Ele está com a Cil? - Meu coração se quebra.

- Sim, menina. Ele parecia muito preocupado com ela. Disse que depois volta. Não era pra você ficar sabendo. Não diga que te contei. - Ela parece sem graça.

Meu corpo começa a mudar. A sensação de raiva se intensifica. Não sou assim, mas por algum motivo, desejo a dor da Cil. Quero mata-la. - Ruth, me ajude. Não me deixa machucar mais ninguém. Estou perdendo o controle novamente.

- Deixe seu poder vir. Sinta a raiva, o medo de perde-lo. Ele não te ama. Você será rejeitada, ele quer a ninfa. Ele te despreza, Manuela.

- Porque está fazendo isso? Era pra me ajudar a me acalmar. Ele me ama, somos feitos um para o outro. Ele não pode me trocar por ela - As coisas a minha volta começam a se mover.

- Está na hora, mãe. Venham. - Vejo três senhoras entrando ao lado de Kalia. Elas começam a falar em um dialeto, com a boneca na mão, a velha bruxa se aproxima de mim. Com um movimento, eu a empurro para longe.

- Anda mãe, fale as palavras. Ela precisa estar completamente fora de controle, para podermos retirar o poder do seu corpo.

Kalia tenta se aproximar com a boneca novamente. - Não está funcionando, é como se a ligação tivesse sido quebrada. - Minha pele começa a sair pequenas labaredas.

- Você disse que ela e Hakon ainda não fundiram suas almas, mas alguma coisa aconteceu. Ela não está mais ligada a boneca. - Começo a praticamente pegar fofo, que acidentalmente cai na cortina e começa uma grande chama.

Deus, o que está acontecendo comigo? Como faço para parar esse fogo? Mas parece que estou sendo engolida por raiva, dor e desprezo por ele ter me deixado sozinha e ir até ela.

- Vamos, façam o ritual de mudança de corpo, tenho que ser o refúgio do poder. - Ruth diz.

- Não dará certo. Não é de qualquer jeito. - Uma bruxa reclama. - Meu corpo parece flutuar.

- Você não vai fazer ritual nenhum. - Agarro a distância, sua garganta, vou apertando minha mão. Enquanto sufoco aquela bruxa maldita. A senhora começa a dar espasmos. - Você me fez sentir muita dor.- Mas Kalia me distrai cantando uma melodia no dialeto Solaris. Abro a mão e a velha volta a respirar.

- Venha, saia desse corpo, meu senhor. - Ela fala após eu me sentir tranquila, ao ouvir a cantiga. - Seu poder é imenso, mas precisa de um corpo treinador para que não seja contido e sim, ser liberado em toda sua magnitude.

Mas recuso a ir. Meu subconsciente briga com quem quer que esteja tentando me dominar. Flores. Elas sempre me acalmaram. Começo a pensar em muitas delas, o fogo parece se aplacar, mas a casa já está com chamas incontroláveis e não posso deixara Marfa para trás.

- Manuela? - Minha amiga aparece desesperada.

- Corra e se salve. Eu não sei o que posso acabar fazendo. O poder está ganhando meu corpo. - Ela corre ate a porta. Estou mais aliviada. As bruxas que antes estavam a minha volta, saem pelos fundos. Fugindo do fogo e provavelmente de mim.