𝗠𝗔𝗞𝗧𝗨𝗕 ━ 𝙲𝚑𝚎𝚏𝚒𝚗

❧ hotel Mazzafera | [28]

MARIA CLARA;
point of view.

Quando parei para analisar minhas amizades, especialmente as de Débora, Beatriz e Camilla, percebi que elas sempre foram as únicas reais que tive. Havíamos nos tornado amigas porque éramos iguais: completamente transparentes. Incapazes de fingir gostar de alguém.

E desde o mês passado – quando descobriram tudo o que aconteceu –, nós não nos desgrudamos. Elas não me julgaram, nenhuma das três. Apenas me apoiaram, seguraram minha mão e me ergueram.

Após um mês do término com Chefin e a briga com Micaella – ou humilhação, já que não consegui falar nada. –, posso dizer que estou um pouco melhor. Voltei a frequentar a psicóloga, já que cheguei à um ponto que não conseguia confiar em nada e nem em ninguém. Aos poucos estamos tratando isso, está sendo maravilhoso.

Nunca mais tive notícias de Micaella. Ela me bloqueou nas redes sociais antes que eu pudesse o fazer. Na formatura do curso, ela não apareceu. Estávamos completamente afastadas, era bom. Eu havia a perdoado neste meio tempo. Não por ela, mas por mim. Percebi o quão mal me fazia, o quão estava me prejudicando, enquanto a garota seguia sua vida, sem se importar com nada. Não esqueci o que ela fez e provavelmente nunca vou esquecer, porém, estou aprendendo a não me culpar, a deixar para lá.

Já Chefin, era impossível não ter notícias. 212 era hit, assim como invejoso. Todos falavam sobre a revelação do ano, novo contratado da mainstreet. Embora ainda o mantivesse bloqueado nas redes sociais, sempre via alguns portais citando-o. Tanto que foi em um perfil voltado para o mundo do trap e rap que descobri que ele havia se mudado, comprado uma casa para sua mãe. Foi inevitável não ficar feliz por vê-lo conquistar seus objetivos e sonhos. Estávamos separados, mas não significava que queria o seu mal e nem nada semelhante.

— Você queimou o brigadeiro, Débora. Puta que pariu, muito ruim de cozinha. – Beatriz entrou no meu quarto reclamando e consequentemente atraindo minha atenção

— É brigadeiro crocante, tu que não saca das receita' braba que eu sei fazer. – Débora retrucou, cheia de marra como sempre

Em pleno domingo nós resolvemos nos reunir na minha casa para comer besteira e assistir filmes. Camilla até trouxe o ps4 do irmão dela, para que jogássemos alguma coisa. Ultimamente nossos finais de semana se resumiam à isso. E não era ruim.

— Olha a porra do brigadeiro crocante. – Camilla tentou retirar um pedaço do doce com o auxílio da colher

— Vocês não queimaram a minha cozinha não, né!? – indaguei, com o cenho franzido

— Segura tua peteca ai, aqui é pique master chefe. – Deb estralou a língua no céu da boca, olhando feio para nós três

— Calem a boca e comam. Ainda quero gravar uns TikTok's com a nossa famosa aqui. – Bea ordenou, rindo quando revirei os olhos

A famosa era eu. Não diria famosa, mas, pelo menos conhecida. Atualmente possuo oitocentos mil seguidores no TikTok  e quinhentos e setenta e oito mil no Instagram. As coisas estavam caminhando bem neste quesito, até fui convidada para um evento promovido pelo Instagram.

Costumo variar bastante em meus conteúdos: dança, roupas, arrume-se comigo, dicas para pele e cabelo, até meus desenhos e pinturas estava compartilhando; de um modo que estava crescendo muito rápido. Débora é a minha assessora e Camilla será a responsável pelo marketing, assim que terminar sua faculdade.

Estou investindo seriamente no trabalho como influenciadora. Futuramente pretendo inaugurar alguma marca, aproveitando a visibilidade que estou tendo agora.

— Gente. – Débora chamou nossa atenção, eufórica, lendo algo no celular. — O Chefin, ele foi no hotel Mazzafera e falou de você.

Ela revelou com cautela, temerosa. Imediatamente meu coração acelerou. Levantei e fui até ela, querendo ver o que estava sendo tratado. Percebi quando Camilla beliscou Débora, a repreendendo.

— Eu nunca vou superar se continuar tratando ele como assunto proibido. E além do mais, quero saber no que meu nome foi enfiado. – resmunguei, respirando fundo. Peguei o celular e comecei a assistir os cortes que uma página no Twitter postou.

Eram dois cortes. Fui citada duas vezes. Era um ppp; Matheus falou meu nome e imediatamente ele reconheceu, chegou até a ficar meio sem jeito, mas, no final respondeu que nós éramos ex namorados e que me pegaria novamente, até casaria. Os dois entraram no assunto sobre o término, mas Chefin não deu muitos detalhes. Já o segundo corte, ele precisava escolher cinco meninas; eu fui uma das escolhidas e Matheus deu algumas situações hipotéticas. Fui escolhida para casar e o apresentador fez a pergunta que eu menos queria ouvir:

— Você ainda ama ela? – Chefin não respondeu, apenas abaixou a cabeça, envergonhado. — Hmm, claro que ama. Olha só o jeito que você fica quando fala dela, todo envergonhado. Ahh, já quero esse casal junto de novo, vamos conversar quando acabar a gravação.

— Ah, pô, tem nem o que falar. Tá nítido mermo, ainda amo ela, mas não acho maneiro comentar dessas parada aqui não. – ele assumiu, jogando o capuz na cabeça

O corte acabou e minhas amigas ficaram me olhando, esperando por alguma reação. Mas, não tive nenhuma. Apenas devolvi o celular à Débora e avisei que eu quem escolheria o filme para assistirmos. Preferi não falar sobre o vídeo e muito menos sobre como estava me sentindo.

Durante o dia, tentei me distrair, esquecer o que havia visto e ouvido. Bastou que Débora, Beatriz e Camilla fossem embora para que eu assistisse o vídeo completo, disponibilizado pelo canal de Matheus, no YouTube.

Haviam dois vídeos com Chefin. Um ppp, onde descobri que ele e a Mel Maia estavam conversando, embora não tivessem nada ainda. E um eu nunca, onde em uma das perguntas, falando sobre nunca ter traído, ele bebeu e alegou nunca ter feito nada do tipo.

Sua afirmação. O colar no pescoço de Micaella...nada fazia sentido. E embora minha saúde mental me obrigasse à deixar tudo para trás, tinha algo dentro de mim que ainda se incomodava com aquele assunto.