Capítulo 1 - Missão Dada

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À frente do Savoia, o mundo.

                      Atrás, a sombra!


Giulia Savoia

Existe sempre algo de excitante em receber pessoas de fora em minha casa. A preocupação em saber se irão gostar da comida, se vão achar que tem poeira embaixo dos móveis, ou se vão curtir a decoração do mesmo jeito que você. Agradar aos outros é difícil, e tenho que admitir pra mim mesma que a incógnita me fascina. Mas isso é exclusividade de pessoas de fora de meu seio familiar. 

Pra receber meu pai e minhas duas irmãs mais novas, a excitação sempre dava lugar ao tédio. Mas era apenas porque eu sabia que me preparava toda apenas pra ouvir gracinhas das meninas e os mesmos conselhos de sempre de um pai cansado. 

Eles hoje resolveram chegar cedo. O que com certeza era algo previsto, uma vez que a Sophia estava junto.  Meu pai não gostava de ser pontual. Ele dizia que isso tirava o charme do momento. Nunca entendi qual o charme em fazer as pessoas ficarem com raiva de você enquanto te esperam.

— Sua cozinha tá cheirando a galinha! — Minha irmã Mia era o exato oposto da palavra comum.

— Imagino. Tive que matar uma pra comer no almoço hoje, às vezes o cheiro fica um tempo. — Ela fez cara de nojo enquanto olhava a cozinha desconfiada. Com certeza estava procurando vestígio do bicho. Ela odiava ver bicho morto. — Não adianta procurar Mia, ele está em cima da mesa nesse momento!

— Me recuso a comer uma galinha que você matou.

— Toda vez que você vem aqui, tecnicamente come alguma coisa que eu matei!

— Papa! — Ela virou pro nosso pai como se fosse fazer diferença. 

Sophia já estava com o notebook dela aberto, nem estava prestando atenção na confusão criada pela Mia. O que era bom, se ela também dissesse que não comeria o frango que eu tinha passado o dia preparando eu juro que ia cometer um assassinato, mas Deus é bom, e fez meu pai. 

— Mia, sua irmã fez o jantar para nos receber, então seja grata. 

Eu dei ao papa meu sorriso mais agradecido e ele me retribuiu com aquela cara de que estava implorando pra que eu não me deixasse levar pelas birras dela. 

— Fiz frango à caçadora Sophia. 

— Hum... — Ela fingiu que me deu atenção, estava totalmente vidrada no computador. O que já era característico. 

Mas Papa não gostou da falta de atenção dela e se levantou da poltrona, indo até ela e fechando seu note sem cerimônia.

— Papaaaaaaaa! — Ela tentou pegar o computador de volta, mas as mãos de meu pai eram firmes quando ele queria. — Não... por favor!

— Já chega disso aqui. Você tem o dia inteiro pra brincar no seu computador...

— Brincar?

— E eu não chamei vocês aqui pra ficarem ignorando a irmã de vocês ou insultando ela...

— Não me senti insultada Papa...

— Independentemente, quero as três sentadas aqui enquanto falo o que tenho que falar. — Ele colocou o laptop de Sophia em cima da mesa e com um estalar de dedos me fez acordar pra o que ele queria de verdade.

Fui andando calmamente até a poltrona que ficava logo à frente de minhas irmãs e sentei.

Quando olhei as duas quase tive um ataque de riso. Sophia parecia que ia chorar a qualquer momento, e vez ou outra olhava o laptop como se fosse conseguir movê-lo por telepatia e a Mia estava de braços cruzados, com o maior dos bicos olhando a mesinha de centro com raiva. Ela me lembrava muito a nossa mãe quando fazia essa cara. Acho que é meio por isso que eu implico tanto com ela, porque ela me lembra muito a mamãe quando fica emburrada. Ela e nossa irmã mais velha Francesca, eram muito parecidas com nossa mãe em algumas expressões. 

Intoucibile  | BTS   -   LIVRO IOnde histórias criam vida. Descubra agora